A medicina no Brasil em estado de crise
Pode ser apenas uma impressão. Ou uma percepção que acaba formando o que chamamos de reputação. Mas a quantidade de erros médicos em clínicas e hospitais; as queixas de pacientes que não conseguem atendimento no SUS ou pelo próprio plano de saúde para cirurgias; a série de denúncias contra profissionais que se passam por médicos, apenas porque fizeram um curso de curta duração e já saem clinicando; assédios e até estupros cometidos por profissionais da área, tudo isso mostra que a saúde no Brasil, particularmente em relação aos médicos, está bem doente.
Leia mais...As pandemias sempre geraram loucura política, mas as sociedades desenvolvem resistência a ambas, diz o historiador Niall Ferguson.*
Em um denso artigo, publicado na página de opinião da agência de notícias Bloomberg, o historiador e professor Niall Ferguson faz uma análise política do Trumpismo e o perigo da herança maldita do atual presidente americano, que chega ao fim do mandato tentando esticar a corda ao máximo, para manter o poder. Vale a leitura, pela similitude com personagens históricos tão perigosos e extremistas, que tentaram conquistar ou manter o poder pela violência, a mentira e o fanatismo.
Quem conhece um pouco de história, basta mencionar um ano marcante que a pessoa tenha vivenciado e, como um clique, o acontecimento vem à mente. 1918, 1929, 1945, 1989, 2001. São anos inesquecíveis na história. Gripe Espanhola; quebra da Bolsa de Nova York; fim da II Guerra Mundial; queda do Muro de Berlim; e atentado do 11 de setembro, nos EUA. Daqui a 20 ou 30 anos, quando se falar 2020, quem tiver vivido este período terá muito o que contar e lamentar. O ano que terminou em março (ou começou em março?), quando a pandemia chegou ao Brasil. Ou o ano que não irá terminar, enquanto os efeitos maléficos da pandemia persistirem. Todos que vivemos este tempo meio estranho, tão cedo não apagaremos esse estigma.
Chegamos ao fim do "pior ano de todos os tempos", segundo a revista Time. E com ele, a ameaça de as festas de Natal e Ano Novo se tornarem o estopim de uma nova onda de contágio do Coronavírus, como estamos assistindo agora nos EUA, após o tradicional feriado de Ação de Graças. É o que infectologistas, profissionais de saúde e autoridades sérias e comprometidas têm alertado nos últimos dias, no mundo todo. Na última semana, os americanos bateram o recorde diário de mortes, desde que a epidemia começou, em março. Foram 3.124 mortes na 4ª feira, dia 9 de dezembro. E 220 mil notificações de contágio. O jornal espanhol El País produziu um didático artigo com protocolos rigorosos para seguir, neste fim de ano, com o objetivo de evitar o contágio e, em consequência, o aumento de infecções, que irão pressionar os hospitais e as equipes médicas.
O jornal britânico The Times traz artigo na edição de hoje sobre o pioneirismo do Reino Unido em aprovar a primeira vacina contra o coronavírus. A reportagem não consegue esconder o viés político da aprovação pela agência reguladora do Reino Unido da vacina Pfizer-Biontech, a ponto de o primeiro-ministro Boris Johnson ter escorregado, numa entrevista à imprensa, insinuando que isso só foi conseguido graças ao Brexit. Ou seja, que a Inglaterra não dependeu da burocracia da União Europeia, “muito lenta”, em outro escorregão de ministro britânico. Mais tarde, ele teve que voltar atrás na infeliz declaração.
O mundo se tornou muito estranho e ameaçador para a civilização, neste ano de 2020. Até certo ponto, um lugar esquisito, nublado e vazio. Se, como dizia Guimarães Rosa, “viver é muito perigoso”, neste ano, tudo ficou pior; muito difícil relaxar, viver normalmente, até tomar sol e aproveitar a natureza e tantas coisas boas que a vida nos proporciona.
Viver com medo, em estado de alerta não é nada bom. Se há uns dois anos, pelo menos, alguém ousasse prever que teríamos sério risco de nos surpreender em 2020 com uma grande catástrofe, o que iríamos cogitar? Talvez um desastre natural, ou uma grave problema climático, ou até o terrorismo. Mas algo que impediria as pessoas de viajar, de se encontrar, se abraçar, se locomover de um lugar para o outro, sem medo; de sequer sair à rua, como aconteceu praticamente em todo o mundo, como poderíamos pensar? Certamente atribuiríamos essa previsão a um delírio. Só imaginado por um roteirista de um filme-catástrofe.
O Brasil ficou chocado, semana passada, pelas agressões estúpidas e covardes a um cliente negro do Supermercado Carrefour, em Porto Alegre, cometido por dois seguranças brancos. O violento ataque, que resultou em assassinato, foi filmado e divulgado à exaustão. Não houve no país quem não se revoltasse com as cenas, principalmente porque o ato foi cometido como se fizesse parte de um ritual, sem intervenção por parte do gerente da filial, da fiscal, que circulou ao redor do “ringue”, e de outros empregados uniformizados que se juntaram à plateia, como coadjuvantes. Nenhum outro empregado ou cliente interveio, até porque a fiscal ainda tentou constranger um cidadão que filmava o assassinato. Até o CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, achou as imagens "insuportáveis".