2015 não deixa saudades. Foi um ano marcado por crises de todos os tipos, principalmente no Brasil. Mas outros países, como França, Síria, Iraque, Nigéria, Grécia, Quênia, Turquia, para citar apenas alguns, tiveram graves crises, sob qualquer aspecto que entendamos a palavra. A França ficou em evidência pelo drama de ter sido alvo do maior ataque feito contra o país desde a II Guerra Mundial. E o Brasil, como se não fossem suficientes as crises econômicas, políticas, institucionais e éticas por que passamos, foi palco da maior tragédia ambiental da história e uma das maiores do mundo, com o rompimento da barragem de rejeitos da Mineradora Samarco, em Minas Gerais.
Guerras, atentados, catástrofes naturais; migração em massa em direção à Europa, poluição, crime ecológico, crimes de colarinho branco, multinacionais com a reputação manchada, desastres aéreos e marítimos, seca, enchentes, corrupção, denúncias e protestos no país e no exterior continuaram a pontuar o ano de 2015.
A França de luto
O ano começa com o atentado à publicação Charlie Hebdo, em Paris. Entre os mortos na redação da revista, policiais e desdobramentos do atentado, foram 17 vítimas fatais, sendo 10 jornalistas. Era o primeiro sinal de que o ódio religioso e o fanatismo estavam apresentando as credenciais. O objetivo foi atacar a liberdade de expressão, sob a bandeira do sectarismo religioso. A publicação se caracteriza pela irreverência, debochando de religiões, políticos, instituições. A barbárie iniciada com este primeiro atentado veio se confirmar meses depois, quando uma célula terrorista ataca pelo menos quatro restaurantes e uma casa de espetáculos e se preparava também para um atentado no estádio de France, durante um jogo de futebol da seleção francesa.
Em ataques sistemáticos, vários terroristas mataram em locais diferentes 130 pessoas, a maioria jovens, entre eles muitos turistas. A França mudou toda sua estratégia antiterrorista a partir daí, radicalizando e aderindo aos bombardeios sistemáticos ao autodenominado exército islâmico, na verdade um grupo de fanáticos que se apossou de vasto território na Síria e no Iraque, aproveitando a degradação das instituições e as crises militares no Iraque, após a queda de Sadam Hussein, além da guerra civil na Síria.
O atentado na França colocou em alerta os demais países europeus, alvo de terroristas, por integrarem a coalizão que combate diretamente o grupo no Oriente Médio. O atentado à França assemelha-se, pelas dimensões e pela presumida autoria, aos atentados ao metrô de Londres, em 2005, com 52 mortos e 700 feridos; e aos trens suburbanos na estação Atocha de Madrid, em 2005, que mataram 191 pessoas e feriram 2.050. A forma estúpida como se deu o atentado obteve o repúdio mundial. A guerra hoje é contra o terror, não importa se na França, na Ásia ou na África, onde atentados se transformaram numa macabra e triste rotina. A Europa parecia ter sido preservada, mas nunca deixou de ser um alvo. Os atentados da França mostram que os terroristas resolveram radicalizar, terceirizando o terror ao utilizar jovens europeus, nascidos e criados na Europa, mas vinculados à cultura radical islâmica.
A crise econômica continua a assombrar a União Europeia. E quase leva a Grécia de roldão. A eleição da esquerda no país possibilitou o questionamento dos acordos feitos anos antes com o FMI e a União Europeia, que, segundo os críticos dos regimes anteriores, levaram a Grécia à recessão e a uma profunda crise econômica e social. Como o país não fez os ajustes, acabou mergulhado na crise. Na onda do discurso contra os ajustes, a Grécia esteve na iminência de sair da zona do Euro, pela pressão dos credores, principalmente a Alemanha. Mas prevaleceu o bom senso. Apesar da pressão popular, o primeiro ministro acabou aceitando os termos do ajuste para receber financiamento da União Europeia e continuar na zona do Euro. Foi a maior crise econômica da Europa em 2015.
No início do ano, escândalos atingiram um dos maiores bancos do mundo, o HSBC. O parlamento britânico acusou o banco de sonegar impostos na filial da Suíça. Pressionado pelos reguladores e com multas bilionárias, o HSBC resolveu fechar as atividades no Brasil, num processo de tentar se recuperar da crise internacional em que foi envolvido. Está na pauta também, provavelmente, retirar a sede do banco de Londres, voltando a Hong Kong, sua origem. O Brasil não saiu imune da crise do HSBC. Em outubro, o Bradesco anunciou que comprou os ativos do banco no Brasil, com isso aumentando a concentração dos serviços bancários.
Acidentes aéreos muito estranhos
Se 2014 inaugurou a série de acidentes aéreos bastante inusitados, com os dois casos da empresa Malaysia Airlines (o Boeing que sumiu, em março; e o avião abatido por um suposto míssil russo, em julho), em 2015 ocorreram vários acidentes. Pelo menos dois graves acidentes com aviões de grande porte tiveram causas muito polêmicas, evidenciando graves falhas na gestão de riscos. Em março, um avião da Germanwinds (empresa do grupo Lufthansa, da Alemanha), com 150 pessoas, caiu ou foi arremessado nos Alpes, na rota Barcelona-Dusseldorf, Alemanha.
Para surpresa e choque da opinião pública, principalmente, dos parentes das vítimas, poucos dias após a queda, apareceram evidências de que o avião foi jogado contra as montanhas pelo copiloto Andrea Lubitz, de 27 anos. Ele fazia tratamento psiquiátrico há vários anos e no momento do acidente estava proibido de voar pelos médicos, fato ignorado pela Lufthansa.
A evidência da queda intencional apareceu nas gravações, quando o piloto, que havia saído da cabine para ir ao banheiro, tenta voltar ao comando do avião, mas encontra a porta da cabine trancada e o avião começando a perder altitude. Sob o comando do copiloto, em poucos minutos ele se espatifou contra as montanhas dos Alpes. Uma grave falha da Lufthansa, até então uma das empresas aéreas mais conceituadas do mundo.
Em outubro, um Airbus da empresa russa KogalymAvia caiu logo após decolar de um resort no Egito, matando 224 pessoas. Após vários dias de especulações e investigação das autoridades russas e egípcias, o exército islâmico assumiu que teria explodido o avião, com uma bomba a bordo. O fato foi confirmado por peritos russos, mas desmentido depois por especialistas do Egito. O fato é que esses dois voos tiveram um fim inesperado e raro na aviação. Desde o atentado do World Trade Center, em 2001, não se tinha notícia da explosão de um avião de grande porte, com bandeira de país desenvolvido, por terroristas. Já houve outras suspeitas de atentado, mas nunca confirmadas.
Volks, Vale, BHP, Petrobras, quando a reputação afunda
Entre as crises corporativas do mundo, destaca-se a ocorrida com a Volkswagen, flagrada pelas autoridades de controle dos EUA com um software que ajudava a empresa a fraudar exames dos níveis de poluição dos veículos a diesel. Um lote de 600 mil carros da Volks apresentavam grau de contaminação muito acima da média e só eram aprovados, porque dispunham de uma gambiarra que falsificava os resultados. Uma grave crise ética que jogou a reputação da empresa para o fundo do poço.
O prejuízo financeiro e reputacional da gigante alemã ainda não foi totalmente dimensionado. Mas nesta semana, o Departamento de Justiça dos EUA multou a empresa em US$ 48 bilhões acusada de violar leis ambientais. Dificilmente ela terá que pagar esse valor, que sempre tem a alternativa de acordo. Mas o passivo será grande. Ela calcula que terá de fazer recall em pelo menos 11 milhões de carros no mundo.
A crise da Volks resultou na demissão do CEO e agora é feita uma grande apuração interna para saber onde a empresa falhou. Está muito difícil para a Volks explicar como ninguém na empresa, do alto escalão ao chão de fábrica, sabia ou tinha autorizado a fabricação de carros com o dispositivo que fraudava os testes. As demissões continuam na empresa.
No Japão, o presidente-executivo da Toshiba, Hisao Tanaka, renunciou em meio a uma investigação que constatou que a companhia havia inflado seus lucros, em um dos maiores escândalos contábeis da história do país. Em Tóquio, numa entrevista, Tanaka declarou que a Toshiba havia sofrido "o que talvez seja a pior erosão de nossa marca em 140 anos de história". O caso representa o maior abalo para a imagem das grandes empresas japonesas desde o escândalo da Olympus em 2011, quando surgiu a revelação de que a companhia de tecnologia havia ocultado prejuízos de US$ 1,7 bilhão no começo dos anos 90.
Crise grave também enfrentam as duas controladoras da Samarco, a mineradora de Minas Gerais, responsável pela barragem que rompeu e atingiu vários distritos da cidade de Mariana-MG. As controladoras da Samarco, a brasileira Vale e a anglo-australiana BHP têm também responsabilidade no acidente. A Vale, logo após o rompimento da barragem, no começo de novembro, tentou se esquivar, jogando a responsabilidade da comunicação e das ações para a Samarco. A BHP limitou-se a divulgar nota e o CEO gravou um vídeo, publicado neste site. Ambas tentaram minimizar o próprio papel, num primeiro e conturbado momento da crise, aparentando querer se esquivar para não ter o nome associado à tragédia. Mas não há como se esconder, quando se sabe que cada uma detém 50% do capital da Samarco.
O Ministério Público continua apurando o acidente da mineradora mineira, além de secretarias do meio ambiente da região e órgãos ambientais. O MP irá divulgar em breve mais esclarecimentos sobre novos fatos que acabam surgindo, durante a apuração das causas do desastre. A Justiça determinou a constituição de um fundo de R$ 20 bilhões para que a Samarco e controladoras garantam o apoio às pessoas atingidas e às famílias dos mortos, além de apresentar um programa de recuperação de toda a bacia do Rio Doce. Há indícios de que a Samarco já havia sido notificada sobre a barragem que rompeu, em 2009, por problemas que ocorriam e comprometiam a segurança. Essa é uma crise que irá pautar a mídia em 2016 pela dimensão e as consequências de ter atingido milhares de pessoas, tanto os moradores dos distritos atingidos, quanto as que dependem da pesca e do turismo do rio Doce.
A crise da Petrobras será objeto de uma análise em separado, dada a dimensão que tomou, desde 2014. Não há dúvida de que apesar de a crise da Samarco ser um acontecimento gravíssimo, de impacto internacional, a Petrobras continua a chamar atenção da opinião pública brasileira e internacional, por não ter conseguido ainda sair da crise em que mergulhou no início de 2014. As notícias de problemas na governança da empresa, com conflitos entre a diretoria e o Conselho de Administração, e a dificuldade para vender ativos e amenizar o endividamento preocupam o mercado.
Outras crises que impactaram 2015
Na Europa, o drama dos refugiados que tentavam a travessia do Mediterrâneo, vindo da Líbia, Iraque, Síria, Afeganistão, Bangladesh e outros países tomou conta do noticiário e afetou a agenda política dos governantes europeus durante quase todo o ano de 2015.
Cerca de um milhão de refugiados chegaram à Europa este ano, um recorde desde que a União Europeia foi criada. Cerca de 3.700 morreram afogados na tentativa de fuga da guerra, da pobreza, dos ataques terroristas e do avanço do exército islâmico. Usaram barcos improvisados, vítimas de coiotes que cobram preços absurdos para colocá-los em botes infláveis ou barcos sem nenhuma segurança. Segundo a ONU, esse fluxo migratório já é considerado o mais grave, desde a II Guerra Mundial. A entidade calcula que cerca de 60 milhões de pessoas no mundo estejam nessa situação, migrando em condições subumanas e sem perspectiva de acharem um lar definitivo.
No caso dos refugiados para a Europa, primeiro foi a Itália. A porta de entrada foram as ilhas ao redor do Continente europeu e próximas à costa italiana. Depois Grécia, Espanha, Macedônia, França e outros países que têm acesso por mar eram impactados pela onda de refugiados, a maioria querendo como destino o Reino Unido, a França ou a Alemanha. Alguns países como a Hungria, chegaram a fechar as fronteiras; a Áustria e a Eslovênia também impuseram restrições ao recebimento indiscriminado de refugiados. Até agora os países europeus não chegaram num consenso quanto ao número de refugiados que receberão, num jogo de empurra-empurra que só serve para aumentar o sofrimento de milhares de pessoas, no rigoroso inverno do Continente.
Só a Alemanha tem um milhão de pedidos de visto e o país sofre uma pressão muito grande do Congresso e grupos de direita para restringir a imigração. O ápice desse drama foi a publicação da foto chocante do corpo do menino sírio Aylan Kurban, encontrado morto de bruços, como se dormisse, numa praia da Turquia, após o naufrágio da embarcação em que o pai, a mãe e o irmão também estavam. Só o pai se salvou. Alguns países concordaram, diante do choque, em aumentar a cota de refugiados. Mas passada a comoção, e após o atentado à Paris, muitos países querem rever a política de portas abertas. Eles temem que nessa onda migratória muitos terroristas aproveitem para entrar nos países ameaçados.
Em todos os casos não faltaram associações, metáforas e metonímias ligadas à islamofobia, xenofobia, indignação seletiva, holocausto, terrorismo, guerra civil, monstruosidade; enfim, a tudo que interdita qualquer constatação de que ainda somos civilização. É chocante ver as pessoas fugindo e tentando um lugar para viver. Mas os países da Europa não conseguem resolver nem os próprios problemas, principalmente o desemprego e a pressão social por mais benefícios, como ajudar a resolver o problema dos outros?
A rotina dos atentados
Na África, 2015 continuou com a rotina de atentados e ataques a aldeias e moradores por grupos radicais como Boko Haram e Al-Shabab, que mataram centenas de pessoas. Apesar de o governo da Nigéria ter intensificado os ataques ao grupo Boko Haram, eles continuam a aterrorizar a região nordeste do país. Um dos mais violentos atentados ocorreu contra uma escola cristã no Quênia, que deixou 147 mortos, quando o campus da universidade foi invadido por radicais. Em outubro, a Turquia sofreu dois atentados simultaneamente durante uma manifestação pacifista. Total: 102 mortos. O ataque foi atribuído ao exército islâmico. O Egito, que sofreu o impacto da queda do avião russo lotado de turistas, também foi vítima de atentados no interior do país, inclusive alguns que atingiram turistas, prejudicando ainda mais essa indústria tão importante para a economia local.
O direito de andar armado, nos EUA, cobra um preço muito amargo
Nos Estados Unidos, como parece ter virado rotina, nova onda de atentados em locais públicos. As tragédias, como a acontecida em San Bernardino, California, neste fim de ano, quando um Centro Comunitário foi atacado por um casal de origem islâmica e 14 pessoas foram mortas e 22 ficaram feridas, continuam a ser o pesadelo americano.
Aconteceram mais de 350 ataques com tiros no país, durante o ano de 2015, praticamente um por dia, quase sempre com vítimas fatais. Apesar de o presidente Obama manifestar sua dor e irritação com projetos de desarmamento que não caminham no Congresso, de perfil conservador e belicista, o lobby da NRA-National Rifle Association dificilmente deixará passar qualquer restrição ao uso das armas, sob a alegação da liberdade individual e até mesmo de uma pseudosegurança pessoal. No Texas, em algumas regiões, os moradores estão usando revólveres na cintura, com nos tempos do velho Oeste. Enquanto os fanáticos defendem esse direito, crianças e jovens, principalmente, continuarão sendo mortos estupidamente ao frequentar a escola ou outros locais onde houver aglomeração.
Outras crises
No fim do ano, a capital da China ficou tão poluída que o governo anunciou o uso de máscaras para quem anda na rua e a suspensão das aulas e atividades externas. Esse “alerta amarelo” trouxe à tona o grande problema da China atualmente. Um descompasso entre a pressa e a necessidade de crescer versus a capacidade de as empresas e o próprio país se adaptarem tecnicamente para os novos tempos. A poluição na China é uma crise para a qual não há solução imediata, até porque qualquer ação mais radical pode ir de encontro à corrida do país pelo crescimento econômico.
A teimosia de Assad e a destruição da Síria
O conflito na Síria, difícil de entender para quem vive aqui no outro lado do mundo, é o símbolo das convulsões que neste ano de 2015 ceifaram vidas, principalmente de civis inocentes; despertaram o ódio e envolveram dezenas de países em conflitos bélicos. A Guerra civil da Síria já dura quatro anos e meio. A solução estaria em encontrar uma forma de retirar o ditador Assad do poder e criar um governo de coalizão. Mas quem se anima a mexer com Assad?
Segundo cálculos do Observatório sírio dos direitos humanos já morreram cerca de 250 mil pessoas em quatro anos de guerra, muitos deles civis, principalmente mulheres e crianças. Nunca se saberá o número exato. Metade da população do país, de 22 milhões de pessoas, fugiu de casa desde o início da guerra; vivem como refugiados nos países limítrofes, em outras cidades ou migraram para a Europa ou outros países que concordam em recebê-los, como o Brasil. Na esteira da guerra da Síria, associada aos conflitos no Iraque, surgiu o famigerado autodenominado Exército Islâmico (ISIS), que usa a religião para impor práticas radicais do islamismo (denominada Sharia) e atos de terrorismo, escravizando mulheres e crianças e assassinando os homens que não se converterem ao fanatismo. Eles dominam boa parte do território do Iraque e da Síria.
Desastres naturais cada vez mais destruidores
No Brasil, a seca no Nordeste. No Sul, inundações, principalmente no fim de 2015. No mundo, os desastres naturais têm se tornado cada vez mais destruidores. Desde tornados nos Estados Unidos, até terremotos na Ásia e inundações no Reino Unido, na Índia, no Sul do Brasil e nos países limítrofes Paraguai, Argentina e Uruguai. Vários rios na Escócia, País de Gales, Inglaterra e norte da Irlanda atingiram nível recorde neste inverno europeu, obrigando o deslocamento de milhares de pessoas.
Mesmo assim, os desastres naturais custaram US$ 90 bilhões em 2015, o menor valor desde 2009, segundo levantamento da resseguradora alemã Munich Re. Desse total, apenas US$ 27 bilhões estavam segurados. Muitos ciclones tropicais ocorreram em áreas despovoadas. Os cientistas supõem que a atual fase do El Niño poderá se tornar pior nos próximos anos, promovendo a formação de furacões. Em 2015, o desastre mais caro e mais letal foi o terremoto que abalou o Nepal em abril. Ele matou 9 mil pessoas, feriu 14 mil e causou perdas financeiras de US$ 4,8 bilhões.
Em outubro, no Afeganistão, outro terremoto deixou 398 mortos. E no Chile, em setembro, um abalo de magnitude 8.3 registrou cinco mortes e obrigou o deslocamento de um milhão de pessoas.
A seca e incêndios em florestas da Califórnia chegam no quarto ano seguido e foi declarado “estado de emergência” no estado. O México também foi vítima de vários tornados, em maio e dezembro, que deixaram um rastro de destruição e vários mortos. No início do ano, os estados de Massachusetts, New York, New Jersey, Connecticut, Pennsylvania, Rhode Island e New Hampshire foram atingidos por tempestades de neve que afetaram centenas de voos, interditaram estradas e fecharam aeroportos.
Onda de calor também assolou alguns países asiáticos, o que demonstra uma piora nas condições climáticas pelo aumento da temperatura global. Na Índia, com 44 graus, idosos passavam mal e várias mortes ocorrem. No Brasil, muitas cidades na região Centro-Oeste, como Cuiabá e Palmas, registraram temperaturas acima de 45 graus na primavera, com sensação térmica superior a 50 graus. Brasília bateu o recorde de temperatura este ano, atingindo 36.4 graus centígrados em outubro de 2015. Tanto a seca na Califórnia, quando a escassez de água no Nordeste, Centro Oeste e Sudeste do Brasil se devem ao fenômeno El Niño, que continuará sendo a grande ameaça de crises climáticas em 2016.
Em agosto, a agência americana NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) anunciou que julho de 2015 foi o mais quente mês na história, com temperaturas médias globais de 16.6 graus Celsius. Em resumo, em 2015, 23.000 pessoas morreram devido a desastres naturais, significativamente mais do que no ano anterior (7.700 mortes), mas muito menos do que a média de anos anteriores (54.000 por ano). Em 2015, os desastres naturais, em sua quase totalidade, (94%) foram de eventos climáticos.
O Nordeste brasileiro e sua eterna crise
A seca no Nordeste, a pior em 50 anos, segundo moradores, é agravada pela falta de estrutura em inúmeras cidades do interior, precisando ainda, em pleno século XXI, serem abastecidas com caminhão-pipa. Já é histórico que por trás desse abastecimento rudimentar rola uma indústria que envolve múltiplos interesses e não raro com a cumplicidade de políticos locais. Em 2015, apesar de o governo brasileiro pouco ter dado atenção a essa crise gravíssima, envolvido que esteve na crise política e econômica, o povo do Nordeste, principalmente do interior, continuou sofrendo as consequências da estiagem.
Programas do governo, com o de construção de cisternas, e até mesmo o megaprojeto de transposição do Rio São Francisco não conseguiram amenizar essa crise. Essa obra foi anunciada quando da polêmica de sua construção como a redenção da região, talvez para facilitar o lobby da aprovação. Como tantos outros projetos contra a seca, iniciados na região, a transposição caminha a passos lentos, enrolado em emaranhados burocráticos. A burocracia enreda esses projetos bilionários, porque isso fragiliza os controles e facilita a corrupção. Além do atraso nas obras, prometidas por Lula para 2013, e ainda inacabadas, a PF e o MP descobriram esquema de corrupção. Pelo menos dois dos 14 lotes das obras de transposição estão sob suspeita de superfaturamento da ordem de R$ 200 milhões, envolvendo as construtoras OAS/Galvão Barbosa/Melo/Coesa. Em Pernambuco e na Paraíba, os desvios chegariam a R$ 680 milhões.
A crise da seca acaba gerando outra: a crise de ética que costuma tomar conta desses projetos. Pesquisa divulgada no fim de 2015 mostra que a corrupção foi escolhida como o maior problema do Brasil hoje. Tradicionalmente, era a saúde, se alternando com a segurança. Mas talvez um pouco tardiamente os brasileiros estão percebendo que por trás das grandes crises, seja as que envolvem os políticos, empresários, empresas estatais ou funcionários públicos, sempre aparece a praga da corrupção. Denúncias, por exemplo, estão por trás do impasse que pauta as complicadas relações entre a Câmara dos Deputados e a presidente Dilma. Impasse esse que praticamente parou o país nos últimos meses de 2015.
O legado de 2015
Pelo menos o ano de 2015 deixou como legado no Brasil a atuação da Polícia Federal e do Ministério Público que investigam sem tréguas os escândalos que acontecem no setor público e privado do país. Cenas de empresários poderosos, presidente e diretores de estatais, lobistas, operadores de partidos, políticos e até mesmo um senador da República sendo presos não são motivo de orgulho para o país. Pelo contrário, nos envergonham e mancham a nossa reputação no exterior. Mas é um sinal de que o Brasil tem instituições que podem, mesmo sob pressão dos atingidos, dos advogados, partidos ou áulicos, combater as quadrilhas que se aproximam do poder apenas para se aproveitar e fazer fortuna, pouco preocupados com as consequências e os efeitos deletérios que atingem a população. Certamente, se o Brasil conseguisse resolver a crise de ética que assola os governos e seus interlocutores, teríamos muito mais facilidade para resolver todas as outras.
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