A medicina no Brasil em estado de crise
Pode ser apenas uma impressão. Ou uma percepção que acaba formando o que chamamos de reputação. Mas a quantidade de erros médicos em clínicas e hospitais; as queixas de pacientes que não conseguem atendimento no SUS ou pelo próprio plano de saúde para cirurgias; a série de denúncias contra profissionais que se passam por médicos, apenas porque fizeram um curso de curta duração e já saem clinicando; assédios e até estupros cometidos por profissionais da área, tudo isso mostra que a saúde no Brasil, particularmente em relação aos médicos, está bem doente.
A semana foi marcada pela grave crise no estado do Espírito Santo. Por qualquer ângulo que for analisado esse episódio, ali ninguém se salva, dos policiais ao governo. As autoridades do estado ficaram refém de uma minoria de policiais que brincavam de greve, com o respaldo dos próprios parentes, principalmente mulheres, para dizer que elas, como “minoria frágil”, não poderiam ser confrontadas ou afastadas na base da força. Além de irresponsável e covarde, o ato foi ilegal e durante uma semana a segurança da população foi “sequestrada” e o governo estadual acabou enredado na crise.
Um porta-voz inexperiente é uma bomba-relógio para a marca. O porta-voz é a voz e a personificação da marca, do governo, da organização. É importante que ele seja treinado, preparado e tenha amplo conhecimento do negócio, da empresa e dos principais programas de um governo. As pessoas-chave da organização devem entender como desempenhar o seu papel no fortalecimento da reputação e estar prontas para o que a responsabilidade do cargo pode trazer. O porta-voz é a "cara" da organização na opinião pública. Receber e atender bem a mídia, fornecer informações relevantes e ser transparente deveriam ser atividades incorporadas à gestão moderna e responsável. Isso constrói credibilidade.
O ex-homem mais rico do Brasil, que construiu a ilusão da fortuna fácil em cima de marketing, papel e fumaça, acabou onde deveria: na prisão. Eike Batista enganou o país pelo menos nos últimos sete ou oito anos, incensado pelos governantes, imprensa e celebridades, de Lula a Dilma, passando por Madonna, Sérgio Cabral e outros políticos, hipnotizados pelo canto de sereia do empresário. Ludibriou milhares de acionistas, que injetaram economias do trabalho para capitalizar as chamadas empresas “x”. Projetos megalômanos, pouco transparentes, sem lastro econômico, gerencial e estratégico.
Francisco Viana*
Cassio: Reputação, Reputação, perdi minha reputação. Perdi a parte imortal, senhor, de mim mesmo – e o que resta é animal. Reputação, Reputação, perdi minha reputação.
Iago: Honestamente, pensei que havia recebido algum ferimento no corpo, que é bem mais grave do que na reputação. Reputação é uma invenção inútil e fabricada, muitas vezes conseguida sem mérito e perdida sem merecimento. Ninguém perde nada de reputação a não ser que se repute um perdedor.
Shakespeare, Otelo.
Não tem mais solução. A Odebrecht pode mudar de nome, reduzir os negócios em até 60 por cento ou mais, e disseminar a ideia de que errou ao subornar políticos, mas mantém a excelência técnica, que de nada irá adiantar. A corporação, de 72 anos, ao ser envolvida a fundo nas denúncias da Operação Lava Jato assinou a sentença de morte da sua marca e, com ela, qualquer possibilidade de recuperar sua reputação.
O novo secretário de imprensa da Casa Branca, Sean Spicer, estreou um dia depois da posse fazendo tudo aquele que não se recomenda na relação com os jornalistas. Irritado, gritando, atacou a mídia, de forma geral, acusando-a de "falsos relatos" sobre a inauguração como parte daquilo que ele chamou de uma tentativa "vergonhosa" de minimizar o entusiasmo pelo presidente Trump. Até a Fox News, simpática ao republicanismo, registrou com desagrado a forma como o porta-voz debutou no cargo, muito importante para o governo, lendo uma nota feita às pressas, com termos duros e bastante combativa. Ele leu esse comunicado e não permitiu perguntas.
O jornal britânico “The Guardian” publicou artigo na última sexta-feira, 13, Trump’s rhetoric: a triumph of inarticulacy, com uma cáustica análise da comunicação errática, provocadora e arrogante do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, além das manifestações isoladas que tem divulgado por meio das redes sociais.
O artigo do jornalista Sam Leith, numa análise bastante crítica, desconstrói o discurso de Trump, o presidente que assume com a menor taxa de aprovação em quatro décadas, entre os mandatários dos EUA: 40%. Obama assumiu com 79%; Bush, com 62%. Infere-se, a partir dessa análise, que Trump terá muita dificuldade de cativar o coração dos americanos, como Obama conseguiu, fruto, certamente, do poder de retórica, do carisma e da elegância da comunicação do primeiro presidente negro dos EUA. O termo "inarticulacy" para classificar o discurso de Trump, nem tem equivalente em português, mas seria literamente "inarticulação": incapacidade de expressar sentimentos ou ideias claramente, ou expressas numa forma que é difícil de entender.