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TV pelo online na terra da BBC 

Segundo relatório divulgado pelo site de comunicação Mediatalks, a audiência de jornalismo pelos britânicos teve uma inflexão histórica nos hábitos de consumo de mídia. ''A edição do novo relatório anual produzido pelo Ofcom (The Office of Communications), órgão britânico regulador de comunicações, constatou pela primeira vez, desde que o acompanhamento passou a ser feito, que mais pessoas se informam pela internet do que pela TV, um resultado que impressiona em um país que durante décadas teve seu jornalismo dominado pela emissora pública BBC.’’ O artigo, de autoria de Luciana Gurgel*, mostra uma tendência mundial de grandes alterações que estão ocorndo no mundo, na forma como as pessoas acompanham notícias. Incluindo o Brasil.

O Reino Unido sempre teve na TV, principamente na BBC, a maior força de informação do País. Mesmo, ao contrário dos Estados Unidos, por exemplo, onde a televisão até hoje pontiica, a BBC, junto com os jornais, sempre foram uma força colossal na formação da opinião pública britânica. A BBC continuou como ponto de referência entre os canais de televisão, no Reino Unido, por décadas, quando se avaliava credibilidade das fontes de informação.

"O resultado de 2024 reflete a conhecida diferença de hábitos entre gerações já registrada em centenas de pesquisas mundo afora, apontando diferenças grandes entre o comportamento de jovens e de pessoas mais maduras. Mas a boa notícia para o jornalismo é que uma esmagadora maioria (96%) dos adultos do Reino Unido disse ao Ofcom que consome notícias de alguma forma, tranquilizando aqueles que temem o fenômeno que ficou conhecido como ‘evasão do noticiário’ – pessoas que não querem mais se informar por motivos como falta de confiança nas fontes ou efeitos negativos sobre o bem-estar emocional. Em resumo, o britânico não migrou para as redes sociais, como aconteceu em muitos países."

Ainda segundo o Mediatalks, "O impacto do avanço do online sobre o meio TV no Reino Unido constatado pelo Ofcom foi grande porque ela reinava soberana no país desde a década de 1960, quando desbancou os jornais e o rádio. E isso tem a ver com a BBC, uma potência que domina o ecossistema de mídia do país e segue forte apesar de crises sucessivas. Nas últimas semanas, ela teve que lidar com mais uma: o ex-âncora Huw Edwards, uma das maiores estrelas da casa, foi condenado por posse de imagens pornográficas de crianças, um choque para a população que se acostumou a vê-lo todas as noites apresentando o telejornal das 22 horas. A condução da BBC no caso tem sido fortemente criticada, e manifestantes diante do prédio do Tribunal, quando o veredito foi anunciado, atacaram mais a rede do que o apresentador."

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Diferentes gerações têm novos hábitos de consumo

A tradição e a qualidade da BBC, que atravessou décadas, sempre considerada uma das escolas de jornalismo de maior prestígio do mundo, não são questionadas. Segundo a análise do Meditalks, "mesmo que a BBC não enfrentasse nenhuma crise reputacional, ela estaria de qualquer forma sendo vítima da mudança geracional nos hábitos de consumo de notícias", pelas diversas formas de mídia fiscalizadas pelo Ofcom, ao longo do tempo.

Os jornais britânicos, pela qualidade e o respeito adquiridos durante anos de um excelente jornalismo, continuam como uma grande força na opinião pública, apesar da crise enfrentada por um dos títulos centenários do Grupo News Corporation, do magnata Rupert Murdoch, em 2011, quando ele tomou a decisão de encerrar a publicação de um dos jornais mais longevos do mundo, o News of the World, de 168 anos. O escândalo que levou ao fechamento de um jornal que tirava dois milhões de exemplares no fim de semana, uma das maiores tiragens diárias de um jornal no mundo, na época, deveu-se à descoberta de um esquema de gravações clandestino de conversas de celebridades, por parte de jornalistas do Grupo, quando nem o redator-chefe foi poupado. A apuração dos vazamentos, para produzir "furos" jornalísticos teria sido negligenciado pelo diretor de redação, porque ele saberia, embora tenha negado, das irregularidades. Veja no artigo “News of the World: “muito simples, nós perdemos nosso caminho”, publicado neste site em 10/07/2011, com a história completa desse escândalo.

A pesquisa da Ofcom, comentada pelo Mediatalks, constatou que "sete em cada dez (71%) adultos do Reino Unido passaram a se informar por fontes online, que ultrapassaram a televisão por um ponto percentual. Essas fontes já tinham ultrapassado o jornal há alguns anos, mas a força da BBC continuava implacável. A categoria online engloba não apenas as mídias sociais mas também podcasts, serviços de mensagens, sites e aplicativos acessados através de qualquer dispositivo − incluindo os da BBC."

Segundo a articulista do Mediatalks, "Isso acaba criando uma certa confusão, pois conteúdo de veículos de imprensa tradicionais e de jornalistas influenciadores estão nesse conjunto. Entre os jovens de 16 a 24 anos, 88% acessam notícias online, segundo o órgão regulador. E apenas 34% das pessoas com mais de 75 anos fazem o mesmo."

Imprensa boa foto 1As conclusões do MediaTalks sobre o futuro da mídia britânica não é animador. "Considerando o envelhecimento natural da população, o futuro não parece promissor para os canais tradicionais de notícias. O rádio permaneceu estável e os jornais impressos continuaram a cair. O site da BBC aparece como o preferido para os adultos que acessam diretamente as plataformas online, citado por 59% do público. A força da rede pode ser medida pela distância para os que vêm em seguida: Sky News e The Guardian são citados por 20% e a versão online do tabloide Daily Mail, por 19%." O problema para a BBC e para as demais mídias reside no perfil do público. As redes sociais foram mais uma vez confirmadas como um componente significativo do consumo de notícias via internet.

Mas as pesquisas divulgadas pelo Edelman Barometer 2024 – levantamento realizado anualmente em 28 países, com cerca de 36 mil formadores de opinião -, a mídia social é considerada a fonte de credibilidade mais baixa para os entrevistados se informarem. Fato agravado pela desinformação que circulou durante a pandemia do Covid-19, entre 2020 e 2022, principalmente no Brasil e nos Estados Unidos. Mesmo assim, "mais da metade dos entrevistados acima de 16 anos (52%) as utilizam atualmente para essa finalidade, cinco pontos percentuais acima do resultado de 2023. E oito em cada dez entrevistados com idade entre 16 a 24 anos disseram informar-se por elas, enquanto menos da metade (49%) dessa faixa etária usa a TV para obter notícias."

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Consumo de notícias por adolescentes

O órgão regulador britânico procurou ainda entender o que pensa uma parcela do público pouco observada: os adolescentes entre 12 e 15 anos. TikTok (30%), YouTube (27%) e Facebook/Instagram (ambos com 21%) foram apontados como as fontes individuais de notícias mais usadas por eles, sendo que 12% dos adolescentes citaram o TikTok como a principal fonte. Esse um dado bastante preocupante, pela linha editorial dessa rede. Essa audiência preocupa professores e pesquisadores, porque o nível de leitura acaba caindo, principalment em países mais pobres e que carecem de um ensino de qualidade.

As coclusões do artigo do Mediatalks deixam uma luz no fim do túnel: "Embora os dados acentuem as preocupações da mídia tradicional, há notícias boas para o jornalismo. A taxa alta de pessoas que não abrem mão de se informar, 96% é uma delas. Outra é a constatação de que as plataformas tradicionais superam as mídias sociais em uma série de atributos, segundo o relatório do Ofcom − em particular confiança, precisão e imparcialidade. Há clientela interessada em bom conteúdo. O desafio para a indústria de mídia é entregar notícias no canal e no formato apropriados, acompanhando a tendência geracional sem enfiar a cabeça na areia."

O relatório completo do Ofcom News Consumption in the UK: 2024 pode ser visto aqui.

*Jornalista baseada em Londres, é co-fundadora e Editora-chefe do MediaTalks. É também colunista de mídia e comunicação no J&Cia/Portal dos Jornalistas. Faz parte da FPA London (Foreign Press Association).

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