90% dos desastres nos últimos 20 anos foram causados por inundações, tempestades, ondas de calor e outros eventos relacionados com o clima - e esses desastres relacionados ao tempo são cada vez mais frequentes, de acordo com relatório divulgado pela ONU, relativo a 2015.
O relatório registra que os 6.457 desastres relacionados ao clima que foram registrados entre 1995 e 2015 causaram a morte de 606 mil pessoas e afetou mais de quatro bilhões, pelo mundo.
Apenas as inundações sozinhas responderam por 47% dos desastres relacionados ao clima, afetando 2,9 mil milhões de pessoas – 95% deles atingido populações da Ásia, que suportaram o peso de desastres naturais, principalmente devido à massa de terra extensa e variada, incluindo várias bacias hidrográficas e planícies de inundação, segundo o relatório.
Estados Unidos e a China registraram o maior número de desastres relacionados ao clima durante o período de 20 anos. Segundo o relatório isso poderia ser atribuído às grandes massas de terra e concentrações populacionais dos dois países.
Segundo o relatório, os dez países com maior número de pessoas afetadas por desastres naturais foram a China, Índia, Bangladesh, Filipinas, Tailândia, Paquistão, Brasil, Vietnã, Quênia e Etiópia.
Para ser registrado como um desastre natural na base de dados, o relatório registra que um evento deve atender pelo menos um dos quatro critérios: dez ou mais pessoas relatadas como mortas, 100 ou mais pessoas afetadas, uma declaração de estado de emergência, ou um pedido de ajuda internacional.
Apesar de, nesse período, ciclones, furacões e outras tempestades terem ocorrido com menor frequência, esses desastres foram os mais letais, matando mais de 242 mil pessoas nos últimos 21 anos – 40% cento do total global que perderam a vida em desastres naturais.
O mais lamentável nesses acidentes é que quase 90% destas mortes ocorreram em países de baixa renda, embora esses países tenham respondido por apenas 26% das tempestades.
De acordo com o relatório, 164 mil mortes foram por temperaturas extremas, 157 mil em inundações, 22 mil por ocorrência de seca e 20 mil ocorreram por deslizamentos de terra e incêndios florestais.
O relatório, intitulado "O custo humano de desastres relacionados com o clima 1995-2015", foi elaborado pelo Escritório da ONU para a Redução do Risco de Desastres e do Centro de Investigação sobre a Epidemiologia dos Desastres, da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica. O centro de processamento de dados dos eventos de emergência contém o registro mais completo do mundo sobre desastres naturais, de 1900 até a presente data.
O banco de dados registrou uma média de 335 desastres relacionados ao clima por ano entre 2005 e 2014 - um aumento de 14% de 1995-2004 - e quase o dobro do nível registrado durante 1985-1994. Ou seja, o levantamento mostra que os desastres naturais são cada vez mais numerosos. Outros levantamentos têm constatado que eles também estão, ano a ano, mais destruidores e causando prejuízos mais elevados.
O relatório não deixa dúvida. "Embora os cientistas não possam calcular qual a percentagem deste aumento que se deve à mudança climática, as previsões de clima mais extremo no futuro quase certamente significa que vamos testemunhar uma tendência ascendente de seguidos desastres relacionados ao clima nas próximas décadas", disse o relatório.
Desastres climáticos no Brasil: mais intensos e com mais vítimas
O Brasil pode ter sido abençoado por Deus, como acredita a fé popular, por não ter furações, terremotos, tsunamis como em outros países da Ásia e América do Norte. Mas isso não significa que nosso país esteja imune a desastres climáticos, que têm se intensificado nos últimos anos.
O Brasil sofre cerca de 1.300 desastres naturais por ano, a maior parte por inundação, deslizamentos de terra, provocados por chuvas, seca, incêndios e, nos últimos anos, uma alta incidência de tornados, principalmente em alguns estados do Sul. Os mais deletérios e que provocaram o maior número de vítimas são as inundações, combinadas com deslizamentos de terra; e a seca, que provoca devastação na agricultura, escassez de água e, em consequência, causa inúmeros problemas econômicos e de saúde à população atingida.
Um dos maiores desastres naturais do país ocorreu na região serrana do Rio de Janeiro, em janeiro de 2011. A tragédia decorrente de intensas chuvas atingiu sete cidades daquela região. Os municípios mais afetados foram Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Bom Jardim, São José do Vale do Rio Preto, Areal e Sumidouro.
Milhares de moradores das encostas foram atingidos pela catástrofe que levou casas, plantações, animais de criação, estradas, pontes e chegou meio de surpresa. A maioria das vítimas foi colhida pela tempestade durante a noite. A chuva deixou 918 mortos e cerca de 30 mil desalojados e desabrigados. Até hoje, as autoridades não sabem o número exato de vítimas fatais, porque dezenas de pessoas continuaram desaparecidas e os corpos nunca foram encontrados. O número de vítimas foi superior a mil, o que transforma essa catástrofe, no pior e mais letal evento climático do Brasil.
As causas desse desastre, como de outros que continuam acontecendo, são atribuídas a mudanças climáticas, mas, combinado com isso, há o descaso das autoridades em prevenir esse tipo de tragédia. A ocupação de encostas, a falta de assoreamento em rios que cruzam as cidades do país e, no caso da seca, a falta de investimentos para minimizá-la, combinado com a corrupção endêmica de prefeituras, dos governos estaduais e em órgãos do governo federal faz com que as medidas sejam proteladas. Resultado: todo o ano as tragédias se repetem, num ciclo terrível de descaso, desrepeito à vida e promessas não cumpridas.
País não tem a cultura da prevenção
Segundo dados divulgados pelo IBGE, em 2014, metade dos municípios brasileiros não tinha nenhum mecanismo de gestão de riscos ou prevenção de desastres naturais. Pesquisa desse Instituto, a Munic 2013, avaliou dados sobre desastres naturais ocorridos em cinco anos anteriores no Brasil, de 2008 a 2012. Segundo a Munic 2013, 37,1% dos municípios do país (ou 2.065 cidades) sofreram alagamentos nesse período. Também de 2008 a 2012, 27,7% das cidades (1.543 municípios) sofreram enchentes (inundações graduais); e 28,3% (ou 1.574) sofreram enxurradas (inundações bruscas). Um total de 948 municípios foi vítima tanto de enchentes quanto de enxurradas.
A pesquisa também contabilizou o número de ocorrências dos desastres. No período pesquisado, o país teve 8.942 enchentes, que deixaram 1,4 milhão de desabrigados ou desalojados; 13.244 enxurradas, com 777,5 mil desabrigados ou desalojados; e 30.858 deslizamentos, que resultaram em mais de 300 mil desabrigados ou desalojados.
Segundo ainda o IBGE, quando as ocorrências de desastres são comparadas a ações municipais para preveni-los ou combatê-los, fica clara a falta de preparo das prefeituras. No levantamento dos municípios atingidos por enchentes ou enxurradas, o IBGE constatou que só 23,3% tinham legislação de uso e ocupação do solo que incluía prevenção a esse tipo de evento. Já dos municípios vítimas de deslizamentos, apenas 16,2% contavam com legislação de uso e ocupação do solo que incluía prevenção a esse tipo de desastre.
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