O IBGE divulgou levantamento preocupante. Apenas 6,2% das cidades brasileiras estão preparadas para enfrentar desastres naturais. Segundo o estudo, só 344 municípios do Brasil possuem algum planejamento para a redução de riscos. O Centro-Oeste foi a região com o menor número de cidades com planos definidos.
Em S. Paulo, a cada cinco minutos, o sistema de alerta a inundações exibe na internet imagens atualizadas do radar meteorológico. Quando chove, boletins informam a cada duas horas a intensidade e o deslocamento do temporal. Mesmo assim, cada chuva ou temporal transformam a grande S. Paulo num verdadeiro caos.
Rio de Janeiro possui moderno Centro de Operações de Emergências, inaugurado no contexto da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Ali 400 técnicos e especialistas se revezam 24 horas por dia para mapear a chegada de tempestades e, se for o caso, soar o alarme que orienta moradores de 103 comunidades situadas em áreas de risco. É o sinal para que todos deixem as suas casas e sigam para os abrigos.
Esse serviço foi aperfeiçoado após as duas tragédias que nos meses de janeiro de 2009 e 2010 atingiram várias cidades do estado e mataram mais de mil pessoas, além de dezenas de desaparecidos. O Centro, concebido nos moldes dos que já existem em grandes capitais, como Nova York, Paris e Madrid, monitora, com câmeras e sistemas de informação interligados, o trânsito, a segurança ou qualquer tipo de situação que exija intervenção do estado, por meio de centenas de câmeras. A pronta intervenção pode frustrar assaltos, sequestros e socorrer rapidamente vítimas em eventos como incêndios, explosões, acidentes rodoviários ou temporais.
Mas Rio e S. Paulo são exceções e mesmo assim os centros de alerta estão longe de serem a solução. Não cobrem todas as regiões e nas grandes enxurradas o número de vítimas, mesmo não fatais, quase sempre é elevado. Segundo o IBGE, 10% dos municípios declararam estar preparando seus planos de prevenção.
“Se preparar para isso vai levar um tempo muito grande. E isso é o município como um todo, conscientização de população, formar uma coordenação municipal de Defesa Civil. Tem uma organização grande a ser feita. A gestão tem que começar a olhar com mais carinho para essa população”, afirma Vânia Pacheco, gerente da pesquisa do IBGE.
Autoridades federais, estaduais ou municipais não podem “pensar que esse problema nunca vai acontecer na sua cidade, postergar e agir só quando o fato está consumado. O prefeito é chamado a tomar decisões de emergência, que acabam saindo mais caras”, diz Alberto Lopes, do Instituto de Administração Municipal.
Em Cachoeira Paulista, o bem montado Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais contrasta com a falta de estrutura dos demais municípios. Inaugurado há menos de um ano, o Centro do interior de São Paulo utiliza equipamentos de última geração para emitir alertas às cidades mais vulneráveis do Brasil.
“A gente consegue emitir alertas de risco antecipadamente para 230 municípios operados. Isso faz com que os dados cheguem às áreas de risco para que a gente não tenha os desastres naturais”, explica o geólogo Agostinho Ogura. De dezembro para cá foram emitidos 300 alertas. A informação existe. Processá-las e agir é assunto de cada prefeito. Mas o que fazer, se os prefeitos não levam a sério os alertas e nem possuem estruturas para evitar que os desastres se transformem em crises graves?
Crise e desastre natural
Uma crise e um desastre são ruins para os negócios e para a população, mas eles são muito diferentes. Um desastre natural é um evento que resulta em grandes danos, dificuldades e até mortes. São exemplos o Katrina, em 2005, e o Sandy, no início do mês, que ocorreram nos EUA, e as duas tragédias do Rio de Janeiro, em 2009 e 2009, nas encostas e cidades do interior. Uma crise é uma situação que alcança um ponto extremamente difícil e perigoso.
Uma inundação é um desastre. Os municípios devem estar preparados para essa crise potencial. Então, se eles conseguem administrar a inundação de acordo com um plano de emergência, cumprindo as etapas previstas, essa possível catástrofe pode não se transformar em crise. Algumas vezes é difícil saber se realmente o acidente natural se transformou numa crise, mas a falha em administrar o desastre quase sempre o transforma numa crise grave. Daí a importância dos centros de emergência.
Como planejar
Com o avanço da tecnologia de previsão do tempo, desastres naturais, mesmo os de pequena extensão, são passíveis de previsão. Não dá mais para o prefeito ou o governador alegar que foi surpreendido pela catástrofe, como acontece no Brasil com nossos governantes. Será que a meteorologia não tinha previsto um período longo de estiagem no Nordeste? Os ciclos das secas apontavam para essa catástrofe naquela região neste ano.
A extensão do desastre natural determinará como os serviços públicos como bombeiros, polícia, assistência médica, defesa civil, meio ambiente e outros estarão aptos a cumprir as missões com rapidez e organização, de modo a minimizar o impacto na população, sobretudo a mais carente. As autoridades devem ter em mente quatro princípios básicos no seu planejamento de desastres: 1) desastres naturais ocorrerão; 2) é preciso ter um plano antes do desastre surgir; 3) reagir com urgência, mas não com pânico; e 4) administrar o momento difícil de forma proativa, transparente e enérgica e a crise poderá ser minimizada.
As autoridades devem levar em conta que desastres naturais não prejudicam apenas a população diretamente atingida. Há um efeito deletério para toda a cadeia produtiva da cidade ou do estado. Além dos prejuízos diretos, há efeitos indiretos nos negócios. Deborah L. Cohen, em artigo publicado no site Fei Behavioral Health, diz que “As pequenas empresas sofrem mais com furacões, terremotos, inundações. A probabilidade de um pequeno negócio reabrir depois de ser atingido por um desastre natural, como um furacão, terremoto, inundação é muito baixa ou lenta."
Na verdade, quase 25% dessas organizações fecham as portas para sempre. Cohen explica ainda que um aspecto-chave nestas pequenas empresas recuperando-se de tais eventos de crise é desenvolver um plano para garantir a continuidade dos negócios. Para isso, precisam contar com o auxílio dos governos ou órgãos públicos.
Não se pretende que pequenos comerciantes tenham estrutura ou capacidade para construir plano de gerenciamento de desastres, mas existem algumas perguntas básicas que podem ser respondidas, sem que precise contratar consultorias caras ou criar grupos de trabalho onerosos que não chegam a lugar nenhum.
O primeiro passo na criação de um plano de continuidade de negócios, após um desastre natural, é o de considerar todos os aspectos envolvidos em um desastre em grande escala na organização. Líderes da comunidade, secretarias de governo, associações de classe, igrejas, ongs e autoridades policiais devem, então, decidir quais recursos ou serviços devem ser incluídos no plano de prevenção. Deborah Cohen sugere uma série de perguntas que podem ser aplicadas como um guia para as pequenas e médias empresas iniciarem o processo de construção de um plano de gestão de crise:
- Como extensivamente o governo ou a organização tem desenvolvido políticas de prevenção referentes a problemas que possam ocasionar crise?
- Com que frequência a sua organização ou seu governo faz uma avaliação completa dos riscos?
- Você tem um Plano de Comunicação Interna e Externa?
- Até que ponto sua organização estabeleceu acordos de assistência mútua com organizações parceiras?
- O seu pessoal ou você tem e usa um Checklist de Crise?
- Com que frequência sua organização participa de treinamentos de situações de crise?
- Os administradores e empregados têm e usam planos de evacuação adequados?
- Você tem uma equipe de Gerenciamento de Crise?
- Sua equipe de resposta a crises tem sido periodicamente e formalmente treinada em métodos de resposta?
- Sua equipe de resposta a Crises tem o apoio da família à disposição deles para casos graves de situações de emergência?
- Sua infra-estrutura mantém um Centro de Comando Operacional de crises?
- Se uma crise surgir repentinamente, você saberá onde seu público (empregados, fornecedores, clientes) estão?
- Você tem um plano para notificar as famílias?
- Como você vai oferecer apoio psicológico durante e depois de uma crise?
- Você conduz um balanço e avaliação pós-incidente?
Em tempos de internet e redes sociais, é conveniente acrescentar à lista sugerida por Deborah L. Cohen perguntas como:
- Você tem programas de monitoramento de redes sociais, com pessoal preparado para eventual resposta rápida, no caso de um desastre natural grave? É possível mandar alertas pelas redes sociais de sua organização?
- Já criou um plano B para o caso do site sair do ar, numa crise grave, de modo a utilizar o site como um meio eficiente de comunicação rápida com os stakeholders?
- Existe backup de todos os seus arquivos e dados para o caso de um desastre natural que atinja a estrutura física e os equipamentos da sede da empresa?
São questões simples, que não demandam planos mirabolantes e onerosos, mas que, se levadas em consideração, serão fundamentais para o sucesso de um plano de continuidade de negócios e, finalmente, de recuperação de cidades ou empresas vitimadas por crises graves. Não convém esperar até o próximo desastre. Comece a planejar agora!