Talvez só o Furacão Katrina mobilizou tanta gente nos EUA quanto aconteceu agora com o Sandy. Governo, serviços de emergência, Guarda Nacional, milhares de voluntários mobilizados para tentar evitar uma tragédia. Wall Street, transportes básicos e comércio parados. Até a Macy's, símbolo do consumismo americano, permanecia fechada.
Mais de 13 mil voos cancelados, algo semelhante ao que aconteceu somente após o ataque às Torres Gêmeas, em 2001; oito milhões de residências sem energia; mais de 30 mortes até a noite desta sexta-feira e um caos em toda a região que circunda os estados de Nova York e Nova Jersey, principalmente, além de outras regiões da costa leste dos EUA. O governador de Nova Jersey menciona “devastação inimaginável”.
Como os EUA se mobilizaram para evitar uma catástrofe que possa arranhar também a candidatura do presidente Obama, a pouco mais de uma semana das eleições presidenciais. É um risco para Obama, que tenta demonstrar competência em momentos de crise e não incorrer nos erros de George Bush, quando do Furacão Katrina, em Nova Orleães, em 2005.
Obama assume a liderança da crise, um diferencial importante nas grandes tragédias. A população americana sente quem está no comando e, se o afasta da campanha, pode lhe render bons frutos na eleição, principalmente porque o candidato republicano manifestou há alguns dias ser contra o governo federal assumir o controle e administração dos trabalhos nos desastres naturais. Se Obama mostrar competência, pode tirar proveito da precipitação de Romney.
Os aeroportos de Nova York começarão a ser abertos aos poucos, nesta quarta-feira, quando milhares de pessoas pelo mundo e no país deixaram de viajar. Os serviços ainda serão limitados. O mesmo acontece com o transporte de trens na região. Calcula-se que o prejuízo com o Furacão Sandy, que virou tempestade subtropical possa causar prejuízos de US$ 20 bilhões.
As interrupções causadas por danos às redes de energia levarão dias para serem normalizadas. Incêndios, inundações, desabamentos e destruição de casas, ruas e rodovias na costa leste dos EUA lembram o cenário de caos do Japão, após o tsunami do ano passado. O governador de Nova Jersey elogiou o esforço de Obama, mas está desolado com a destruição no litoral do estado.
O rompimento deuma barragem em Nova Jersey durante a passagem do furacão inundou três cidades. Não há registro de vítimas. Em Manhattan, o hospital da Universidade de Nova York teve que evacuar 200 pacientes, pela falta de eletricidade, inclusive alguns em estado grave.
Apesar das mortes e dos danos materiais, a atuação do Centro de Emergências contra Desastres dos Estados Unidos propicia muitas lições para quem lida com gestão de crises. O governo foi muito rigoroso na prevenção, chamando atenção da população para o perigo. Em certos momentos, parecia até um certo exagero. Mas a intensidade da tempestade, a violência dos ventos e o volume de águas obrigaram a tomar medidas de prevenção muito severas. Talvez por isso não tenha havido uma catástrofe maior.
Esse é um dos preceitos ante a ameaça de crise. Não minimizar os riscos. Os governos têm obrigação de alertar e tomar medidas rigorosas para evitar o caos. Por isso, o cuidado de Obama e demais autoridades em permanecer como de plantão, chamando atenção da população e acompanhando todas as ações 24 horas por dia, online. Apesar da perda de força do furacão, o cenário para os próximos dias ainda é de caos.
Leia mais aqui as últimas notícias sobre as consequências da tempestade no site do The New York Times.
Atualização das informações
- A maior crise que a região de Nova York e Nova Jersey vivem, depois de setembro de 2001, contabiliza, até a manhã de quarta-feira, mais de 50 mortes, sendo 26 no estado de Nova York;
- Obama visitou as áreas atingidas, principalmente Nova Jersey, e determinou rapidez na liberação de recursos;
- O metrô de Nova York, desde a fundação, em 1908, nunca havia sofrido um revés como o da inundação de vários túneis, como o viaduto sob o Rio Hudson. Não tem data para voltar a funcionar;
- Uma das lições de crise é que o número de vítimas fatais foi pequeno, em relação à dimensão da tragédia, pelas ações de alerta implantadas em toda a região, desde a semana passada;
- Outra lição: os desastres naturais, como este, se tornarão mais frequentes nos próximos anos. Para isso, as grandes cidades precisam aprimorar os planos de contingência e centros de controle e administração de crises;
- Wall Street volta a operar hoje (quarta-feira), após dois dias fechada, fato que aconteceu somente em 1988;
- O transporte pelos ônibus de Nova York, que começam a circular, é livre hoje. Táxis podem fazer lotação. Trens da região metropolitana de ou para Nova York também estão parados. O trânsito corre o risco de virar um caos, pelo não funcionamento do metrô. As pontes de acesso à Nova York estavam congestionadas às primeiras horas da manhã de quarta-feira;
- A população que mora na zona baixa de Manhattan, mais atingida pelas inundações, ainda está sem energia, o que significa, sem água, sem elevador ou aquecimento;
- Ao contrário do que acontece em zonas conflagradas por catástrofes, a polícia local não relatou crimes, como saques ou assaltos, que pudessem estar relacionados ao caos instalado na cidade
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