Apesar de todos os alertas e de quanto esse tema evoluiu nos últimos anos, as empresas brasileiras não estão preparadas para enfrentar crises. Grande parte das organizações acredita que nunca vai ter uma crise grave, que ameace o negócio ou a reputação. Envolvidas pela rotina diária, esquecem que as crises, como a morte e os impostos, são inevitáveis. Ou pelo menos são ameaças constantes aos valores da organização.
“A crise política, a recessão econômica e a quebra de confiança gerada pelos desdobramentos da Operação Lava Jato levaram a uma preocupação maior dos empresários no Brasil com a forma como seus negócios são conduzidos. Esses fatores, no entanto, expuseram o despreparo das companhias em lidar com esses eventos”.
“A gestão de risco no Brasil ainda é imatura, mas ela existe e está crescendo à medida em que o mercado exige melhor governança. Já quanto à gestão de crise, as empresas ainda estão em um patamar inicial”, avalia Camila Araújo, sócia da consultoria Deloitte.
O jornal O Estado de S.Paulo, publica matéria hoje na seção de “governança corporativa”, abordando um tema muitas vezes ignorado ou relegado a segundo plano pelas empresas, mas que volta à mesa das diretorias, principalmente num momento extremamente delicado para o país, em que as empresas têm que lidar com crises de todo tipo.
O artigo comenta “uma pesquisa feita pela consultoria Deloitte em parceria com o Instituto Ettos”, que ouviu 95 líderes de companhias no Brasil. “A conclusão foi que, embora mais de 60% delas tenham uma área de gestão de riscos, a maioria não possui um plano específico para gerenciar crises. A recomendação é de que as empresas tenham grupos de trabalho com profissionais de diversas áreas que estejam preparados para enfrentar essas situações”.
As empresas, no Brasil, não colocam a gestão de riscos ou a gestão de crises como pautas das reuniões de planejamento estratégico. Discutem-se metas, resultados, planos de marketing, endomarketing, plano de expansão para o exterior, mas a "gestão de crises' não entra na pauta. A palavra “crise”, embora tenha se consolidado nos últimos tempos no jargão do brasileiro, nas empresas soa mais ou menos como a morte, na nossa vida pessoal. Não se fala. E por isso não se contempla. O que é um erro básico de gestão.
“Para o presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon), Idésio Coelho, a gestão de crise no Brasil ainda é pontual. “As empresas respondem de forma reativa, de modo a apagar um incêndio de cada vez”, disse o executivo ao Estadão. “Segundo o executivo, um dos motivos é o estágio de desenvolvimento do mercado de capitais".
“No Brasil, existe a clássica figura do controlador que domina a empresa e não presta todos os esclarecimentos ao mercado. Em outros países, conscientização e cobrança são maiores e acontecem há mais tempo”, conclui o executivo.
“A cultura da gestão de risco começou com os bancos, com foco no risco financeiro, e migrou para organizações com alto potencial de gerar crises. (...) Gerenciar risco numa empresa não financeira pode parecer algo inusitado ou avançado para o nosso dia a dia. Há ainda incorporada na cultura de gestão de risco uma associação com as ameaças restritas ao âmbito financeiro. Algumas empresas, principalmente as de pequeno porte, admitem gerenciar o risco apenas quando há ameaça ao faturamento ou caixa da empresa. Quando o alarme soa no setor financeiro. É um entendimento ultrapassado. Pela dimensão do mercado, os riscos corporativos não estão apenas na operação industrial ou comercial, ou só no controle financeiro da empresa. As ameaças à marca podem estar em valores intangíveis, não levados em conta há alguns anos na avaliação das corporações.” (Gestão de Crises e Comunicação, Atlas, 2015, págs 90 e 91).
O artigo do Estadão continua dizendo que “O atual cenário tem o efeito positivo de reforçar questões como ética, transparência e controles internos, ainda que pelo caminho mais doloroso. Na pesquisa da Deloitte, que está em sua quinta edição no Brasil, essas preocupações nunca foram tão urgentes como agora”.
Leia o artigo completo na página do jornal O Estado de São Paulo:
Empresas ainda não estão preparadas para enfrentar crises
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