Problemas de gestão e ações judiciais lideraram as crises em 2024
Problemas de gestão lideraram as crises corporativas de 2024, no mundo, diz o Relatório Anual de crises do Institute for Crisis Management-ICM, dos Estados Unidos, liberado há duas semanas. Essas crises representaram 21,48% de todos os registros constantes na mídia no ano passado, que, segundo o Relatório, chegaram a 1 milhão 134 mil casos. Segundo o documento, “Esta categoria voltou com força total no relatório deste ano, um número não visto desde 2018". Durante os anos de pandemia de 2020 a 2023, os erros de gestão não apareciam com alta incidência no levantamento anual do ICM, disfarçados ou minimizados pela gravidade dos efeitos da Covid-19. Um dos motivos pelo qual esse índice caiu na pandemia foi porque o ICM considerou a tragédia ocasionada pelo vírus da Covid-19 como ‘catástrofe’, o que elevou sensivelmente o percentual dessa crise."
Crises “latentes”, ou aquelas que dão sinais, antes de acontecer, retomaram a maioria dos eventos negativos do ano, com quase 75% das notícias rastreadas, e a categoria “má gestão” recuperou o título de maior proporção de notícias encontradas. Diversas categorias apresentaram reversões significativas no pós-pandemia, incluindo catástrofes, danos ambientais, aquisições hostis, má gestão, assédio sexual, crimes de colarinho branco e violência no local de trabalho. Sobre catástrofes convém fazer uma ressalva: o ICM considerou, durante os anos da pandemia, 2020 a 2023, incluir em “catástrofes” as crises decorrentes da Covid-19. Isso levou essa categoria a liderar a maior proporção de crises nesses quatro anos.
Segundo o Relatório anual do ICM, “Embora muitas histórias de má gestão envolvam algum tipo de comportamento criminoso, há muitos exemplos de decisões equivocadas e má gestão mesmo que levaram a eventos de crises em 2024. Isso inclui exemplos de falhas de liderança, conformidade, estratégia ou mesmo erros operacionais. A Volkswagen, outra empresa constantemente propensa a crises, enfrentou disputas com sindicatos e críticas sobre sua condução da estratégia de veículos elétricos, causando problemas operacionais e manchetes negativas.”
Ainda segundo o trabalho de pesquisa do ICM “Outro caso emblemático, em 2024, de crise corporativa, envolveu a gigante dos aviões, Boeing. ‘A empresa, já mencionada anteriormente neste relatório, recebeu críticas intensas com o incidente de encalhe de astronautas, com problemas e escrutínio sobre protocolos de engenharia e segurança.” A OpenAI, a criadora do Chat GPT, teve uma porta giratória no escritório do CEO quando o conselho demitiu o fundador Sam Altman e o reintegrou dias depois, destacando fragilidades na governança e nas comunicações da empresa.’
“Apenas para dar um exemplo de má gestão, que decorre de falhas ou soberba do titular da conta. A reação negativa do público e dos reguladores atingiu a Qantas Airlines, citando problemas com falhas no atendimento ao cliente, cancelamentos de voos e remuneração de executivos. A farmacêutica AstraZeneca foi criticada por violações de privacidade de dados e importações não autorizadas de medicamentos. A gigante da contabilidade PwC foi multada em US$ 3,35 milhões por não manter a independência dos auditores, especialmente no que se refere a relacionamentos de consultoria com clientes de auditoria, o que destaca falhas sistêmicas de conformidade e governança.”
A fabricante de motores Cummins Diesel recebeu uma multa de US$ 2 bilhões por manipular dados de emissões de diesel, expondo má gestão de conformidade. É a típica crise criada na mesa da diretoria, porque decisões como essa não teriam sido tomadas, sem anuência do “board” da organização.
Catástrofes como desastres naturais
“Esta categoria teve a queda mais significativa, para apenas 2,21% das notícias rastreadas e, na ausência de notícias sobre a COVID, retornou ao nível de 2019. Apesar da reversão, o ano foi marcado por desastres naturais em todo o mundo. De acordo com uma análise do World Weather Attribution Group, as mudanças climáticas causadas pelo homem tornaram as inundações de 2024 duas vezes mais prováveis de ocorrer e 10% mais intensas. Dados da NOAA, EM-DAT e Gallagher Re identificaram o furacão Helene como o sétimo desastre climático mais custoso da história, com US$ 79 bilhões e 219 mortes. Mais dois eventos entraram no ranking: o furacão Milton (nº 17), com US$ 34 bilhões e 32 mortes, e as inundações na China (nº 19), com US$ 31 bilhões e 605 mortes. Ondas de calor na Europa, Arábia Saudita e EUA ficaram entre as 20 piores de todos os tempos, com mais de 13.000 mortes combinadas. Um incêndio florestal no Chile foi classificado como o quinto mais mortal, com 137 mortos.”
Tragédia no sul do Brasil
Não esquecer que, aqui no Brasil, a tragédia que atingiu grande parte do estado do Rio Grande do Sul, em maio e junho de 2024, foi o maior desastre natural no estado da história. O transbordamento de vários rios em boa parte da região central do território gaúcho, incluindo a capital, não tem precedentes no País. Foram contabilizadas 183 mortes e 27 desaparecidos, até agora. Não pairam dúvidas de que a inundação que transformou cidades gaúchas em lagos e pântanos, atingindo a infraestrutura do estado e arrasando cidades ao longo do leito dos rios, supera em extensão, impacto humano e econômico, a tragédia do estado do Rio de Janeiro, que era o pior desastre climático do país, até então, com cerca de 1.000 mortes, em 2011. A Defesa Civil do RGS informou que quase 1,5 milhão de pessoas foram afetadas em razão das fortes chuvas que atingiram o estado durante quase dois meses. A capital, Porto Alegre, não enfrentava uma inundação naquela dimensão, desde 1941.
O clima cada vez pior no mundo todo
Segundo o Relatório do ICM, “A onda de calor mortal na Arábia Saudita atingiu o país durante a peregrinação anual do Hajj, com temperaturas superiores a 50°C. O Supertufão Yagi foi uma das tempestades mais mortais do ano, com 460 mortos em Mianmar e 345 no Vietnã. A tempestade deixou um amplo rastro de destruição nas Filipinas, Tailândia e China, além de milhões de pessoas. Inundações na África, de julho a setembro, ceifaram quase 1.000 vidas. De acordo com o EM-DAT, mais de um quarto dos 30 desastres climáticos mais mortais na África ocorreram desde 2022.”
Incêndios florestais catastróficos no Chile marcaram o pior desastre desde 2010, e grandes inundações no Brasil causaram quase US$ 7 bilhões em danos, desabrigando centenas de milhares de pessoas. Na Espanha, do final de outubro a meados de novembro, um fenômeno atmosférico raro causou inundações fatais, resultando em 126 mortos e US$ 11 bilhões em prejuízos.
Nos EUA, ocorreram 27 desastres climáticos com prejuízos superiores a US$ 1 bilhão cada, incluindo inundações, tempestades severas, furacões, incêndios florestais e tempestades de inverno.
Acidentes com vítimas
Essa categoria representou menos de meio por cento, ou 0,48% das notícias contabilizadas. Tragédias de aviação, embora tenham reduzido em relação a anos recentes, registraram mais de 318 mortes em 11 acidentes civis em todo o mundo, o ano mais mortal para a aviação desde 2018. “Dois dos três acidentes mais mortais ocorreram no final do ano. Coroando mais um ano ruim para a Boeing em crise, um 737-800 da Jeju Air sul-coreana caiu em 29 de dezembro, matando 179 pessoas. No Nepal, um CRJ-200ER caiu, matando 18 dos 19 a bordo. Outros acidentes fatais ocorreram no Canadá, Brasil e Japão.” No Brasil, a maior tragédia ocorreu no interior de S. Paulo na queda do ATR da Voepass, que perdeu sustentação e se precipitou no solo, matando todos os 62 ocupantes.
Acidentes ferroviários e fatalidades ocorrem com muito mais frequência do que acidentes aéreos. Os EUA e o Canadá registraram ligeiras reduções ano a ano, mas as mortes aumentaram. Nos EUA houve 2.252 colisões em cruzamentos de nível, com 263 mortes e 751 feridos. No Canadá, foram registrados 896 incidentes ferroviários, com 69 mortes.
Ações coletivas
Essa categoria contempla as crises judiciais que levam empresas a pagar indenizações às vezes bilionárias. O número de casos nesta categoria diminuiu em vários milhares, mas a proporção em relação as demais crises aumentou para 17,90%. “O maior acordo de ação coletiva de 2024, de mais de US$ 10 bilhões, envolveu ações judiciais por contaminação por PFAS contra fabricantes dos chamados "produtos químicos eternos", que foram associados a riscos ambientais e à saúde.”
Os acordos de ações coletivas de valores mobiliários atingiram um recorde de US$ 4,1 bilhões em 2024, liderados por grandes empresas de tecnologia, incluindo Intel, Snowflake e Crowdstrike. Seis dos dez maiores acordos foram no setor de tecnologia.”
Existem ainda aquelas crises intermináveis, quando a empresa acusada posterga ou prolonga o litígio para chegar a um acordo. O litígio em andamento contra a Johnson & Johnson continuou, com 58.000 processos pendentes, sobre um talco, após uma tentativa frustrada de acordo de falência. “Os casos da J&J são particularmente desanimadores, visto que a empresa tem sido considerada o padrão ouro em gestão de crises decorrentes de sua resposta aos envenenamentos por Tylenol em 1982”, diz o Relatório.
Crime Cibernético ou ciberataque
Esta categoria, a terceira pior do levantamento feito pelo ICM, superou o ano anterior, atingindo 13,29% das crises apuradas de 2024. Este é o maior resultado na categoria desde que o ICM começou a monitorá-lo, em 2014. “De acordo com o Centro de Recursos para Roubo de Identidade (ITRC), somente nos EUA, houve mais de 3.100 comprometimentos de dados, um pouco abaixo dos números de 2023, mas com um aumento de 312% no número de notificações às vítimas, que superou o ano anterior, com 1.350.835.988 (sim, bilhões). Cinco mega violações foram responsáveis pela maior parte do aumento significativo. Do total de violações relatadas, 455 foram phishing, 188 ransomware, 48 malware e 29 credential stuffing. Mais de 1.700 não foram especificados.
É bom lembrar que há dois anos o Cyber crime era uma das crises que pontificavam a lista de ameaças ou alertas do Fórum Econômico Mundial de Davos, Suíça, que se realiza anualmente. Recentemente, caiu no ranking internacional das crises, pela incidência cada vez maior de tragédias climáticas. Conclusão: ele ainda é uma grande ameaça às empresas no mundo todo. **
“Em uma das maiores incursões registradas, a Change Healthcare, subsidiária da United Healthcare, nos Estados Unidos, foi atingida por um ataque de ransomware do grupo BlackCat, que paralisou os sistemas de pagamento de planos de saúde, atrasou o atendimento aos pacientes e expôs os dados de quase 200 milhões de pessoas. O ataque custou à gigante dos seguros quase US$ 10 bilhões em custos de resposta e assistência a provedores. O ransomware foi supostamente usado em 95% de todas as violações no setor de saúde.”
Discriminação
A próxima mudança inversa foi identificada nesta categoria, com 11,64% das notícias contabilizadas em 2024. Novamente, o número de notícias diminuiu, mas a parcela da categoria no bolo da crise aumentou significativamente. A discriminação tornou-se mais complexa e persistente, com retrocessos em direitos de gênero, igualdade no local de trabalho e proteção de minorias. Um dos agravantes para essa categoria de crise se manter em alta é o processo migratório ocorrido no mundo, no ano, associado também aos conflitos ocorridos, como Rússia-Ucrânia; Israel x Gaza e em vários países da África.
Segundo o Relatório do ICM, “Durante o ano, a Comissão para a Igualdade de Oportunidades de Emprego (EEOC) dos EUA entrou com 110 ações judiciais em uma série de questões, com foco em preocupações emergentes e comunidades carentes e vulneráveis. A EEOC recebeu 88.500 denúncias de discriminação no local de trabalho em 2024.
“A carga de trabalho da agência durante o ano incluiu inúmeros casos envolvendo assédio sexual, discriminação por deficiência e aplicação dos requisitos de relatório EEO-1. Em agosto, um júri federal em Indiana concedeu mais de US$ 1 milhão a um autor negro que não foi contratado devido à sua raça, em um dos maiores casos de discriminação do ano. Em vários estados, procuradores-gerais entraram com ações judiciais contestando a nova orientação da EEOC que exige que os empregadores reconheçam a identidade de gênero e os pronomes dos trabalhadores.”
“Infelizmente, a discriminação na mídia não se limitou aos Estados Unidos. Em todo o mundo, quase um quarto dos governos relatou uma reação negativa aos direitos das mulheres, com mulheres e meninas enfrentando crescente discriminação, proteções legais mais fracas e menos financiamento para programas de apoio. A ONU Mulheres relatou um aumento preocupante na violência contra mulheres e meninas, incluindo feminicídio, em que uma mulher ou menina foi morta, em média, a cada dez minutos por um parceiro ou membro da família.”
Consumismo/Ativismo
Embora essa categoria tenha sido responsável por apenas 2,05% das crises contabilizadas no ano, houve acordos bilionários que dão uma dimensão do tamanho da crise para a saúde financeira das empresas envolvidas. “Em um caso que integrou diversas categorias, ativistas ambientais e de defesa do consumidor obtiveram uma vitória decisiva em um acordo histórico de US$ 10,3 bilhões contra a 3M, alegando que a empresa contaminou os sistemas de água dos EUA com produtos químicos tóxicos "eternos".
Como foram outras categorias
Diversas categorias apresentaram reversões significativas no pós-pandemia, incluindo catástrofes, danos ambientais, aquisições hostis, má gestão, assédio sexual, crimes de colarinho branco e violência no local de trabalho. Impressionante como o perfil das crises foi mudando, na medida em que a pandemia era reduzida nos países mais afetados. No rol de crises pesquisadas pelo ICM eventos com índices menores em relação ao grupo das grandes crises contemplam as seguintes categorias: Defeitos e recall (2,19); Danos ambientais (0,21%); Demissão de executivos (1,07%); Assédio sexual (2,08%); Crises de denúncia (4,33%); Crimes de colarinho branco (5,32%) e Violência no local de trabalho (4,71%).
Veja a íntegra do Relatório Anual do ICM
A Igreja Católica reage com veemência ao “megapacote” enviado por Trump ao Congresso americano, numa crítica objetiva e clara sobre o que os cortes no orçamento de programas sociais e da área da saúde dos americanos irão representar, sobretudo para os mais pobres. No dia da independência americana, a organização democrata de mídia e redes sociais Occupy Democrats abriu espaço para a reação das comunidades religiosas dos Estados Unidos, lideradas pelos bispos católicos do país.
O que aconteceu com os Correios? Houve época – acreditem – em que as pesquisas que apontavam as instituições de maior credibilidade do país, mostravam no topo, tradicionalmente, os bombeiros, a Igreja e os Correios. Em 2002, pesquisa da FIA/USP sobre confiança das instituições brasileiras, colocava os Correios em segundo lugar, com 93% de aprovação, atrás apenas da “família”, com 94%. Manteve essa reputação mais alguns anos, mas já enfrentando crises graves.
O uso da IA – Inteligência Artificial na elaboração de trabalhos e pesquisas nas universidades é um tema que tem suscitado discussões e dúvidas no ambiente acadêmico e na gestão da educação. Ele coloca em xeque o modo de produção do material científico elaborado por alunos e professores, que pode ser produzido a partir de um robô, em questão de minutos. Como avaliar teses, dissertações ou projetos produzidos na era do ChatGPT? Como saber até onde o trabalho acadêmico tem o dedo do autor ou o clique do robô? O jornal britânico The Times, na edição de 24/05/25**, aborda esse tema extremamente controverso, que já está na pauta de muitas universidades e centros de pesquisa em todo o mundo. O artigo provoca reflexão e um debate que em algum momento todas as instituições de ensino deverão fazer, inclusive no Brasil. Destacamos os principais tópicos do artigo.
O desvio bilionário de recursos dos aposentados, por descontos não autorizados nos salários, geridos por sindicatos, entidades associativas de aposentados, e até funcionários públicos ligados ao Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), é um dos maiores escândalos financeiros na área pública do país, nos últimos anos. O assalto aos salários dos aposentados evidencia a dificuldade dos órgãos públicos em geral, de fazerem uma gestão correta dos recursos públicos. Essa fraude escancara também a inépcia dos gestores em usar mecanismos de controle, que impedissem que organizações criminosas utilizassem métodos excusos para ingressar no sistema de pagamentos do INSS.
Na homilia da missa inaugural de seu pontificado, o Papa Leão XIV, afirmou que o chefe da Igreja tem a função de zelar seus valores, porém sem se voltar para si próprio. E declarou: "Se a pedra angular é Cristo, Pedro deve apascentar o rebanho sem nunca ceder à tentação de ser um líder solitário ou um chefe colocado acima dos outros". Ele ressaltou também que a busca de unidade dentro da Igreja será um dos eixos para os próximos anos.
A cerimônia contou com a presença de mais de 200 mil pessoas na Praça de São Pedro, no Vaticano. Além dos fiéis, estiveram presentes cerca de 150 delegações internacionais, incluindo monarcas, chefes de Estado e de governo. Impressionante foi o interesse da mídia internacional, pelo número de jornalistas que foram à Roma para cobrir os funerais do Papa Francisco e, posteriormente, a eleição e cerimônias inaugurais do papado de Leão XIV: 5.300 profissionais de imprensa acompanharam as cerimônias.
Pode ser apenas uma impressão. Ou uma percepção que acaba se transformando naquilo que em comunicação chamamos de reputação. Mas a quantidade de erros médicos em clínicas e hospitais; as queixas de pacientes que não conseguem atendimento ou marcar cirurgias no SUS; as constantes idas e vindas das mensalidades dos planos de saúde; a série de denúncias contra profissionais que brincam de médicos, apenas porque fizeram um curso de curta duração e já saem clinicando; sem falar em assédios e outros crimes cometidos por profissionais da área, tudo isso mostra que a saúde no Brasil, particularmente em relação aos médicos, está bem doente.