Se existe algo em gestão de crises onde ainda não se chegou a um consenso, é exatamente sobre a imprevisibilidade das crises. Durante muito tempo sustentou-se, no conceito de crise, que elas chegam de surpresa e por isso seriam difíceis de prevenir e, em consequência, de administrar.
Com o avanço dos estudos sobre gestão de crises, hoje cada vez mais na pauta das empresas e universidades, essa característica começou a ser questionada. Afinal, na essência, as crises realmente chegam de surpresa? Não. As estatísticas mostram que a maioria das crises não chega de surpresa. Elas dão sinais, o alarme está por aí, mas nós não percebemos, muitas vezes. As empresas, os governos desdenham desses sinais.
Não esperem os governos, os executivos que disparem alarmes avisando a iminência de uma crise. Os sinais são dados por evidências que são desprezadas pelas empresas, mas são potenciais crises. Por decisões tomadas, que, certamente, após algum tempo, irão redundar num tremendo embaraço e num arranhão à imagem ou reputação das organizações. Ou seja, a própria organização ou mesmo os membros do governo contribuíram para a chegada da crise.
Relatório publicado anualmente pelo Institute for Crisis Management, dos EUA, abrangendo, sempre, um período de dez anos, mostra que 65% das crises (smoldering crisis) dão sinais de que irão acontecer. Era só ficar atento e poderia ter-se percebido que elas iriam acontecer. As demais crises são classificadas como crises de surpresa (sudden crisis).
O Japão surpreendido pelo impensável
O mundo e o Japão foram surpreendidos dia 11 de março por uma catástrofe que, embora prevista na origem, chocou a todos pela violência e o poderio de destruição. Alguns especialistas no mundo ainda discutem como um país, talvez o mais preparado, foi surpreendido por uma sucessão de acidentes de efeitos devastadores.
Catherine Haddon, do Blog Institute for Government, do Reino Unido, fez uma rápida avaliação da crise japonesa: “O impacto catastrófico do tremor e do tsunami da última sexta-feira (11) no Japão mostra que mesmo a melhor preparação pode ser esmagada por acontecimentos violentos e imprevisíveis dessa magnitude”. Ela admite que o Japão tornou-se o último governo neste início de ano a ter sua capacidade de gestão de crises testada por um desastre natural extremo. Os deslizamentos no Rio de Janeiro, enchentes na Austrália e terremoto na Nova Zelândia foram outros exemplos.
“O Japão tem uma população bem preparada, regulamentos de construção rigorosa e alguns dos planejamentos para terremoto mais completos do mundo. Mas exatamente agora as estimativas de mortos e desaparecidos, a emergência nuclear e os números de pessoas que necessitam de abastecimento e saneamento básico são um lembrete de que algumas vezes tudo que um governo pode fazer é tentar lutar.
“Isto é o que a gestão de crises significa, acima de tudo. Ser capaz de reagir com rapidez e segurança, explicando o que você está fazendo, e fazendo o melhor uso de seus escassos recursos pode ter um enorme impacto no curto, médio e longo prazos”.
Ação e comunicação
A jornalista Catherine Haddon continua sua análise “ A explosão na usina nuclear de Fukushima tem mostrado como a ação e comunicação andam de mãos dadas. As imagens das explosões e qualquer menção a possíveis consequências têm, compreensivelmente, provocado grande preocupação.
“No entanto, embora não coordenadas, tem havido mensagens bastante coerentes de diversas fontes. Autoridades japonesas, organizações internacionais como a Agência Internacional de Energia Atômica, e diferentes especialistas estão enfatizando na imprensa que "este não é outro Chernobyl".
“Obter e divulgar informações envolve um equilíbrio complicado de atualidade e de precisão e a situação está mudando constantemente. Alguma confusão é inevitável, mas a lição vem da coordenação dos recursos - evitar uma reação que poderia prejudicar os esforços de outros países”.
O especialista em gestão de crises, Jonathan Bernstein, ao comentar essa citação, em seu Blog, diz que “este é um bom exemplo de que o velho chavão, "esperar o inesperado", existe. Na esteira desta crise surpreendente, não só o governo, mas proprietários de empresas e cidadãos são forçados a mergulhar nos procedimentos básicos de gestão de crises. Quando mesmo aqueles que têm tomado todas as precauções, como o Japão, estão lutando para manter sua cabeça acima da água, como você imagina que estão indo aqueles que negligenciam a preparação?”, pergunta o executivo.
“Toda vez que uma crise começa, há uma lição a ser aprendida - estar pronto. Quer se trate de um desastre natural ou de um CEO envolvido em um escândalo, ter um plano faz um mundo de diferença”, conclui Bernstein.
Foto: The Guardian/HO/Reuters.