japao_the_guardian_doisA tragédia que se abateu sobre o Japão, na madrugada de 11 de março pode ser o pior e mais caro desastre natural enfrentado pelo homem no mundo moderno.O resultado de três catástrofes – o terremoto, o tusnami, seguidos do risco de um vazamento nuclear com os acidentes em Fukushima – mostra que por mais preparado que uma organização ou um país estejam para as crises, as tragédias podem superar qualquer tipo de prevenção.

Passado o primeiro impacto da catástrofe, convém analisar os seus desdobramentosocorre sob a luz da gestão de crises. Tradicionalmente, o Japão foi um país disciplinado, modelo de prevenção para tragédias, principalmente terremotos. Só não houve um número maior de vítimas, neste acidente, porque os prédios no Japão, em sua maioria, são edificados com estruturas que suportam terremotos de grande magnitude.

E por que ou onde o Japão foi surpreendido? Primeiro, pela intensidade do terremoto, o mais forte já ocorrido no país, desde que se começou a medi-los. Segundo, a sequência da tragédia – o tsunami - pela rapidez e o poder de destruição, que acabou pegando de surpresa muitas populações da costa japonesa. Por isso, o acentuado número de mortos nessa região. A velocidade da água, que invadiu praias, ruas e plantações foi tão intensa, que nem em um automóvel, em alta velocidade, teria sido possível fugir das águas.

Mas a grande ameaça, passada a primeira onda da tragédia, é o risco que as usinas nucleares, principalmente a de Fukushima, oferecem. Nesta, todos os reatores estão sob ameaça de liberar radioatividade. O governo japonês está sob pressão, porque a população não está acreditando nas informações. A imprensa e os técnicos nucleares também elegeram a empresa Tepco – Tokyo Eletric Power Co. como confusa e pouco transparente no episódio da ameaça nuclear. Hoje circularam informações de que o Japão tinha sido avisado do risco das usinas nucleares.

Essa já é a maior crise vivida pelo Japão, depois da Segunda Guerra Mundial. E a luta do país nesses primeiros dias não é apenas para achar sobreviventes, alimentar milhares de pessoas desabrigadas, doentes e desalojadas, por causa da ameaça nuclear. A batalha do Japão é para não deixar a Usina de Fukushima vazar, o que poderia se transformar na maior catástrofe nuclear da história, pela proximidade com cidades densamente povoadas.

Sob o ponto de vista da gestão de crises, o Japão sempre deu lições ao mundo, com sua frieza, coragem e tradição orientais. Mas pelas entrevistas, percebe-se que as autoridades estão atônitas e sem ação, porque nem elas podem prever o que poderá acontecer. Até porque todos os dias o país é surpreendido por novos tremores e até uma ameaça, que não se concretizou, de um segundo tsunami.

Como disse o Washington Post, “Sacudido e apavorado pelo desastre que ameaça se tornar maior, o Japão se transformou em poucos dias de um dos mais confortáveis países num dos mais desolados”. Dezenas de milhares de japoneses, que tinham uma das rendas per capita mais altas do mundo, de repente se veem sem água, sem comida e sem aquecimento. Ou seja, se transformaram em desabrigados, dependendo totalmente da caridade de outros países e do governo. Inúmeras cidades e povoados, simplesmente desapareceram. Cerca de 500 mil pessoas foram deslocadas e postas em abrigos.

O prejuízo de longe ainda não pode ser calculado. Mas analistas internacionais já anteciparam que o Japão precisará de no mínimo US$ 170 bilhões para reconstruir o que foi perdido na catástrofe. A par disso, investidores internacionais se inquietam e fogem do país. Dependente da energia nuclear, o Japão se vê na contingência de reduzir a produção de energia para rever os mecanismos de segurança das usinas. Além da escassez de alimentos, a falta de energia agrava a crise do país, afetando a indústria e os transportes. As grandes montadoras do país, como Toyota e Honda, pararam a produção de suas fábricas, para preservar a segurança dos empregados.

Uma escalada de emergência nuclear tem causado pânico na população e, principalmente, nos imigrantes e estrangeiros que trabalham no país. Isso porque, diante dos sucessivos acidentes nos reatores de Fukushima, a área de isolamento da usina aumentou e não está tão distante de Tóquio, que possa assegurar tranquilidade aos que vivem na Capital. Isso gerou uma inquietação na população que acompanha pela TV as informações oficiais, mas sempre com certa desconfiança, diante do aumento dos níveis de radiação. Os porta-vozes do governo e o próprio primeiro-ministro japonês padecem de um mal que contamina os gestores, nas crises mais graves: a insegurança e a parcimônia das informações, acaba gerando ceticismo na população. O perigo disso é abrir espaço para o boato, o pânico, o que seria muito pior.

Não existe uma estatística confirmada do número de vítimas, mas apesar das divergências, há consenso de que são mais de dez mil mortes e dezenas de milhares de feridos e desabrigados. Em algumas pequenas cidades, metade da população desapareceu. Em Miyagi, a prefeitura estima que pelo menos dez mil, dos 2,3 milhões de habitantes tenham morrido no terremoto e no tsunami.

O efeito cascata da crise

As crises não se limitam às tragédias. Elas se agravam com as conseqüências dos desastres. No caso do Japão, além da desconfiança do mercado, da queda acentuada da bolsa de valores, que chegou a cair num só dia mais de 10%, e da paralisação de serviços essenciais, que causam enorme prejuízo, muitas empresas estrangeiras, e até companhias aéreas, estão evitando dirigir-se ao Japão, principalmente pela insegurança e incerteza quanto à ameaça nuclear.

Até mesmo os executives da Tepco, que opera a planta nuclear da usina, não oferecem grandes esclarecimentos sobre os estragos que ocorreram durante a explosão e suas implicações. Como acontece nas crises, há um gap de informações, porque até mesmo quem as administra não as detém para fornecer.

“O que aconteceu no mercado de ações reflete o grau de incerteza – os diferentes rumores que a todo momento inundam o Japão” disse Edwin Merner, presidente da Atlantis Investment Research. “Há um certo pânico sobre o que possa vir ainda. Eu acho que a principal coisa é, o povo não sabe nada. E eles não confiam necessariamente nas informações que eles têm recebido”.

Foto: Digital Globe, via Reuters

The Guardian: o sumário da tragédia.

Os dramáticos vídeos dos acidentes no Japão.

Fotos do satélite de cidades do Japão antes e depois do tsunami.

 

 

 

 

 

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