Nas ruas de Londres, 250 mil pessoas, neste sábado (26) para protestar contra o aperto financeiro da coalização do governo de Cameron. Os conservadores pegaram a tesoura e fizeram um corte no orçamento de US$ 130 bilhões, o maior, desde a II Guerra Mundial.
A medida atinge benefícios antigos de estudantes, funcionários públicos, pensionistas e outras faixas da população, que se uniram aos sindicatos e outros grupos de manifestantes. O objetivo dos cortes foi reduzir o elevado déficit nas contas do governo.
Na Síria, o governo reprime com violência passeatas e manifestações contra o governo, num repeteco do que aconteceu na Tunísia, Egito, Iêmen. Na Líbia, a batalha se aproxima da capital, Trípoli, indicando que Kadafi não terá forças para resistir. E no Brasil, o rastilho de pólvora atingiu canteiros de obras de construtoras, onde milhares de trabalhadores se concentram para construir usinas hidrelétricas, em Rondônia e no Mato Grosso do Sul.
A onda de violência que, há quase dois meses, atinge, do Oriente ao norte da Europa, é a última face de insatisfações populares, que começaram, de um lado, na revolta contra regimes fechados e insensíveis à pobreza e ao atraso, de outro, como consequência da crise econômica. Resultado: este início de 2011 escancara a fragilidade das instituições em alguns países, como na Líbia, onde o ditador, há 41 anos no poder, de repente virou o “enfant terrible”, o monstro de governos, antes cúmplices e suportes do ditador, mas agora transformados de repente em seu algoz.
Em Londres, não é de hoje que a população vem mostrando inconformismo. Primeiro elegendo a oposição, o Partido Conservador, após anos de trabalhismo no poder. A violência dos protestos, que tiveram demonstrações também violentas, no fim do ano passado, surpreendeu até a polícia. Jovens encapuzados e de preto jogaram coquetéis molotov contra lojas e depredaram instalações bancárias. Mais de 200 pessoas foram presas, numa cidade tradicionalmente calma e disciplinada. Professores, enfermeiros, bombeiros, estudantes, empregados públicos, pensionistas e sindicatos participaram da passeada, até mesmo com alguns líderes trabalhistas.
Por trás dessa onda das passeatas e incêndios, existem relações estressadas entre governos, trabalhadores e estudantes ou entre empresas e empregados, como nas usinas de Jirau, Santo Antonio, em Rondônia, e São Domingos, no Mato Grosso do Sul. A insatisfação popular tem sido a marca dos protestos no Oriente, liderados por jovens que se levantaram contra governos impopulares e ditatoriais. O resultado de tudo isso, além da repressão, é que outros países em situação econômica difícil, como Grécia, Espanha, Portugal e Irlanda, se sentem inseguros para promover reformas econômicas e enfrentar a crise. A barba dos vizinhos está ardendo.
Em Portugal, caiu o governo, por não ter recebido apoio nos cortes necessários para superar a crise econômica. A Grécia, quando fez reformas, no ano passado, enfrentou violentas ondas de protesto. Ou esses países fazem as reformas na marra, ou continuarão a enfrentar jovens encapuzados nas ruas, dispostos não só a protestar, como enfrentar a polícia em ataques cada vez mais violentos. O governo e o parlamento inglês parece que não se sensibilizaram com os protestos do ano passado. Agora, é esperar o efeito da onda de violência deste fim de semana.