O ministério da Fazenda anunciou retenção de R$ 3 bilhões das restituições do imposto de renda e depois recuou por pressão do presidente da República e da opinião pública. Acabou estimulando um princípio de crise. Ele também anuncia cobrança de imposto sobre capital estrangeiro. O presidente nega e no dia seguinte o mesmo ministério confirma.
O MST agride todos os brasileiros, destruindo milhares de pés de laranjeiras e não se vê condenação veemente das autoridades. Está faltando alguém no governo para gerenciar essas trapalhadas. Ou segurar o ministro da Fazenda para evitar idas e vindas. Crises ou princípios de crise consomem energia, trazem instabilidade à economia ou afrontam a sociedade, como no episódio do MST. No caso do acidente da Tam, um laudo técnico não é suficiente para acalmar os familiares das vítimas e resolver a crise.
Território sem lei
Passadas as comemorações pela escolha do Rio de Janeiro para sede das Olimpíadas de 2016, a cidade virou manchete pelas cenas de violência na guerra do tráfico. Para governantes e cartolas que calculam quanto o Rio de Janeiro vai faturar com a competição, é bom pensar no que vão gastar para melhorar a imagem da cidade, antes que as críticas internacionais comecem a colocar em xeque a capacidade dos brasileiros de organizar os jogos olímpicos.
A violência do último fim de semana foi notícia nos principais sites internacionais e não adianta avocar o exemplo de Nova York , Bogotá ou Madrid para se contrapor às críticas. Os governantes devem fazer o que o Rio de Janeiro não conseguiu realizar nos últimos 30 anos. Encarar a briga com o tráfico de frente, para realmente a cidade poder incorporar o adjetivo “maravilhosa”. Perguntem para os moradores daquelas favelas, o que eles acham.
A guerra de palavras entre a secretaria de segurança do Rio e o governo federal, sobre a responsabilidade pela segurança do estado, não leva a nada. O povo carioca continua refém do tráfico. Não adianta sair pelo exterior pregando as maravilhas do Rio de Janeiro, se o governador e o prefeito não conseguem assegurar aos habitantes da cidade o direito de poder circular na favela, das crianças conseguirem ir às aulas e de jovens não serem surpreendidos por comboios de traficantes, quando voltam para casa.
A violência do Rio não é um problema menor no contexto das Olimpíadas. Apesar de o COB e a Prefeitura dizerem o contrário e até minimizarem. Até agora o que se viu foi muito oba-oba e discursos, para dizer que tudo isso será resolvido pelo menos até 2014. Apenas para lembrar, faltam menos de cinco anos para a Copa do Mundo. Menos de cinco anos. É só recordar o que fizemos em 2004, para a gente se dar conta de que cinco anos passam muito rápido. Parece que foi ontem! E de quão pouco evoluiu nestes últimos cinco anos a segurança do Rio e do País.
Acidentes aéreos, um passivo que não acaba
A divulgação da conclusão do inquérito policial sobre a queda do avião da Tam, ocorrida em julho de 2007, trouxe uma dose de desapontamento para os familiares. Eles, que já sofreram a perda de parentes queridos, dois anos depois e após inúmeras audiências, desmentidos, promessas, recebem a notícia de que o inquérito aponta os pilotos como culpados pelo acidente.
Acidentes aéreos são passivos que não acabam tão cedo. Além das perdas materiais, que muitas vezes quebram empresas, o passivo mais pesado é o dos familiares que passam anos negociando indenizações, pagamentos, seguros, responsabilidades. Brigam na justiça pelos seus direitos. As empresas mal ou bem retomam a vida e continuam a vender passagens, lotar aviões e, passados os primeiros prejuízos, algumas até começam a dar lucro.
A mancha no nome da empresa certamente continuará, porque ninguém consegue separar uma marca das tragédias que ela evoca. Falhas humanas podem ocorrer. Mas nesse caso da Tam, a conjunção de vários fatores sugeria que a causa ou causas iriam muito além da cabine do piloto. Existem controvérsias sobre a conclusão. O inquérito e sua divulgação é outra fase negativa que a empresa terá que enfrentar. Se esse período vai ser curto ou longo depende de como a Tam está tratando as famílias atingidas pela tragédia. O certo é que o acidente ainda não acabou. É uma crise que em geral não tem data para terminar.
MST e ministério da Fazenda mostram os desencontros do governo
Depois das cenas “grotescas” protagonizadas pelo MST na plantação de laranjas de S. Paulo, tivemos que ouvir deputados justificarem o ato, como importante denúncia pela monocultura simbolizada naquela plantação. O presidente do Incra se disse “indignado”. O MDA soltou uma nota com críticas, mas cuidadosa, para não provocar os militantes.
Destruir qualquer árvore deveria ser crime, como é comercializar animais. O que dizer da destruição de quase 10 mil árvores frutíferas? À exceção dos marginais que invadiram a fazenda e dos movimentos que os apóiam, não há brasileiro que não tenha se indignado com aquele gesto maluco de afronta, de um trator ceifando laranjeiras. Sem falar nos ataques covardes a bens dos empregados da fazenda, que nada têm a ver com a posse da propriedade ou sua destinação.
A condenação protocolar feita pelo presidente da República e alguns ministros foi a forma de não ficar mal no filme. Não se ouviu até agora o governo tomar uma atitude mais enérgica contra uma organização que vive à margem da lei. O problema é que inúmeras ONGs e outras associações, até mesmo do exterior, financiam esse “movimento”, com dinheiro público no mais das vezes. O azar do MST foi as imagens terem ido ao ar em pleno horário nobre, no Brasil e no exterior. Até quando o governo continuará tímido para condenar com veemência tais atitudes? Como diz Dora Kramer, em O Estado de S. Paulo, o “governo finge que não vê crime em invasão e condena MST só para inglês ver”.
O ministério da Fazenda, depois do imbróglio Lina Vieira X Dilma Roussef, que teve mais um capítulo esta semana com o aparecimento da agenda da secretária, parece ter gostado de ser pivô de crises. Anunciou, provavelmente sem o presidente da República saber, que iria reter parte das restituições do Imposto de Renda, protelando o pagamento para o próximo ano. O furo da Folha de S. Paulo pegou até o presidente de surpresa. Dificuldades de caixa justificavam a medida. Diante da reação dos contribuintes, da pressão da mídia e da descoberta de que o presidente Lula já havia recebido a restituição, o ministério não teve saída. Voltou atrás e resolveu pagar todo mundo.
Essas idas e vindas são péssimas para o governo ou qualquer tipo de organização, porque confunde o contribuinte, causa transtorno administrativo e de informação, além de desperdiçar energia de funcionários que poderiam estar trabalhando em outros projetos. Parecem factóides criados para dar manchetes e depois voltar atrás, sem qualquer pedido de desculpas. Diante de tanto amadorismo e falta de planejamento, frente a ousadia do MST e a inércia dos governos para debelar as crises, só nos cabe esperar a próxima.