Rio_incendio380x253As últimas semanas trouxeram à tona crises ou ameaças de crise com desgaste da imagem de instituições ou governos. Algumas denotam falta de controle ou planejamento das autoridades. Além do vazamento do Enem, com transtornos para milhares de estudantes e familiares, o Rio de Janeiro saltou das páginas esportivas para as policiais com a mesma rapidez com que os traficantes somem nos morros cariocas. O inquérito policial do acidente da TAM, que apontou os pilotos como culpados, não agradou aos familiares das vítimas.

O ministério da Fazenda anunciou retenção de R$ 3 bilhões das restituições do imposto de renda e depois recuou por pressão do presidente da República e da opinião pública. Acabou estimulando um  princípio de crise. Ele também anuncia cobrança de imposto sobre capital estrangeiro. O presidente nega e no dia seguinte o mesmo ministério confirma.

O MST agride todos os brasileiros, destruindo milhares de pés de laranjeiras e não se vê condenação veemente das autoridades. Está faltando alguém no governo para gerenciar essas trapalhadas. Ou segurar o ministro da Fazenda para evitar idas e vindas. Crises ou princípios de crise consomem energia, trazem instabilidade à economia ou afrontam a sociedade, como no episódio do MST. No caso do acidente da Tam, um laudo técnico não é suficiente para acalmar os familiares das vítimas e resolver a crise.

Território sem lei

Passadas as comemorações pela escolha do Rio de Janeiro para sede das Olimpíadas de 2016, a cidade virou manchete pelas cenas de violência na guerra do tráfico. Para governantes e cartolas que calculam quanto o Rio de Janeiro vai faturar com a competição, é bom pensar no que vão gastar para melhorar a imagem da cidade, antes que as críticas internacionais comecem a colocar em xeque a capacidade dos brasileiros de organizar os jogos olímpicos.

A violência do último fim de semana foi notícia nos principais sites internacionais e não adianta avocar o exemplo de Nova York , Bogotá ou Madrid para se contrapor às críticas. Os governantes devem fazer o que o Rio de Janeiro não conseguiu realizar nos últimos 30 anos. Encarar a briga com o tráfico de frente, para realmente a cidade poder incorporar o adjetivo “maravilhosa”. Perguntem para os moradores daquelas favelas, o que eles acham.

A guerra de palavras entre a secretaria de segurança do Rio e o governo federal, sobre a responsabilidade pela segurança do estado, não leva a nada. O povo carioca continua refém do tráfico. Não adianta sair pelo exterior pregando as maravilhas do Rio de Janeiro, se o governador e o prefeito não conseguem assegurar aos habitantes da cidade o direito de poder circular na favela, das crianças conseguirem ir às aulas e de jovens não serem surpreendidos por comboios de traficantes, quando voltam para casa.

A violência do Rio não é um problema menor no contexto das Olimpíadas. Apesar de o COB e a Prefeitura dizerem o contrário e até minimizarem. Até agora o que se viu foi muito oba-oba e discursos, para dizer que tudo isso será resolvido pelo menos até 2014. Apenas para lembrar, faltam menos de cinco anos para a Copa do Mundo. Menos de cinco anos. É só recordar o que fizemos em 2004, para a gente se dar conta de que cinco anos passam muito rápido. Parece que foi ontem! E de quão pouco evoluiu nestes últimos cinco anos a segurança do Rio e do País.

Acidentes aéreos, um passivo que não acaba

A divulgação da conclusão do inquérito policial sobre a queda do avião da Tam, ocorrida em julho de 2007, trouxe uma dose de desapontamento para os familiares. Eles, que já sofreram a perda de parentes queridos, dois anos depois e após inúmeras audiências, desmentidos, promessas, recebem a notícia de que o inquérito aponta os pilotos como culpados pelo acidente.

Acidentes aéreos são passivos que não acabam tão cedo. Além das perdas materiais, que muitas vezes quebram empresas, o passivo mais pesado é o dos familiares que passam anos negociando indenizações, pagamentos, seguros, responsabilidades. Brigam na justiça pelos seus direitos.  As empresas mal ou bem retomam a vida e continuam a vender passagens, lotar aviões e, passados os primeiros prejuízos, algumas até começam a dar lucro.

A mancha no nome da empresa certamente continuará, porque ninguém consegue separar uma marca das tragédias que ela evoca. Falhas humanas podem ocorrer. Mas nesse caso da Tam, a conjunção de vários fatores sugeria que a causa ou causas iriam muito além da cabine do piloto. Existem controvérsias sobre a conclusão. O inquérito e sua divulgação é outra fase negativa que a empresa terá que enfrentar. Se esse período vai ser curto ou longo depende de como a Tam está tratando as famílias atingidas pela tragédia. O certo é que o acidente ainda não acabou. É uma crise que em geral não tem data para terminar.

MST e ministério da Fazenda mostram os desencontros do governo

Depois das cenas “grotescas” protagonizadas pelo MST na plantação de laranjas de S. Paulo, tivemos que ouvir deputados justificarem o ato, como importante denúncia pela monocultura simbolizada naquela plantação. O presidente do Incra se disse “indignado”. O MDA soltou uma nota com críticas, mas cuidadosa, para não provocar os militantes.

Destruir qualquer árvore deveria ser crime, como é comercializar animais. O que dizer da destruição de quase 10 mil árvores frutíferas? À exceção dos marginais que invadiram a fazenda e dos movimentos que os apóiam, não há brasileiro que não tenha se indignado com aquele gesto maluco de afronta, de um trator ceifando laranjeiras. Sem falar nos ataques covardes a bens dos empregados da fazenda, que nada têm a ver com a posse da propriedade ou sua destinação.

A condenação protocolar feita pelo presidente da República e alguns ministros foi a forma de não ficar mal no filme. Não se ouviu até agora o governo tomar uma atitude mais enérgica contra uma organização que vive à margem da lei. O problema é que inúmeras ONGs e outras associações, até mesmo do exterior, financiam esse “movimento”, com dinheiro público no mais das vezes. O azar do MST foi as imagens terem ido ao ar em pleno horário nobre, no Brasil e no exterior.  Até quando o governo continuará tímido para condenar com veemência tais atitudes? Como diz Dora Kramer, em O Estado de S. Paulo,  o “governo finge que não vê crime em invasão e condena MST só para inglês ver”.

O ministério da Fazenda, depois do imbróglio Lina Vieira X Dilma Roussef, que teve mais um capítulo esta semana com o aparecimento da agenda da secretária, parece ter gostado de ser pivô de crises. Anunciou, provavelmente sem o presidente da República saber, que iria reter parte das restituições do Imposto de Renda, protelando o pagamento para o próximo ano. O furo da Folha de S. Paulo pegou até o presidente de surpresa. Dificuldades de caixa justificavam a medida. Diante da reação dos contribuintes, da pressão da mídia e da descoberta de que o presidente Lula já havia recebido a restituição, o ministério não teve saída. Voltou atrás e resolveu pagar todo mundo.

Essas idas e vindas são péssimas para o governo ou qualquer tipo de organização, porque confunde o contribuinte, causa transtorno administrativo e de informação, além de desperdiçar energia de funcionários que poderiam estar trabalhando em outros projetos. Parecem factóides criados para dar manchetes e depois voltar atrás, sem qualquer pedido de desculpas. Diante de tanto amadorismo e falta de planejamento, frente a ousadia do MST e a inércia dos governos para debelar as crises, só nos cabe esperar a próxima.

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