Em janeiro, a frieza de um comandante americano que conseguiu pousar um avião com 154 passageiros em pleno rio Hudson, no centro de Nova York, surpreendeu o mundo. Ele demonstrou controle, frieza e, acima de tudo, grande capacidade de superar situações de crise. Por isso se transformou em herói.
Em artigo publicado neste site Comandante americano é especialista em avaliação de risco descobrimos por que ele conseguiu superar situação extremamente adversa e fazer aquele pouso considerado por especialistas como bastante improvável. Ele tem uma empresa, especializada em treinamento aéreo para situações extremas e é instrutor de pilotos.
Agora o Brasil também tem seus heróis. A tripulação da FAB, que pousou um Cessna Caravan no afluente do Rio Ituí, em plena selva amazônica, numa situação de pane, em 29/10, demonstrou perícia, frieza e controle para situações de risco. Isso vale para o pouso e a rapidez com que resgataram os passageiros. Nove sobreviventes e duas vítimas fatais.
O piloto primeiro-tenente Carlos Wagner Ottone Veiga e o co-piloto, José Ananias da Silva Pereira, bem como os mecânicos de bordo, na visão de especialistas, demonstraram grande experiência no manejo da aeronave, além de competência para escolher o local, pousar e rapidamente fazer a evacuação dos ocupantes. Depois de notar os problemas do avião e enviar um alerta de emergência, o piloto teve cerca de 16 minutos para definir, no meio da mata fechada, um local para o pouso forçado.
O piloto tem sete anos de experiência e 2 mil horas de vôo, sendo mais de mil em aviões desse tipo, da qual é instrutor. Uma coincidência com a trajetória do piloto americano. O mecânico da FAB Marcelo dos Santos Dias, uma das vítimas fatais, tinha 3 mil horas de vôo como mecânico e também era muito experiente.
A atuação de Marcelo Dias também foi decisiva, segundo relatos, para a saída rápida dos passageiros. “Ele acabou preso no avião porque a correnteza fechou a porta e impediu que saísse”, disse o diretor-técnico do Hospital Geral de Juruá, Marcos Melo. Marcelo teria aberto a porta traseira da aeronave para que todos saíssem o mais rápido possível, e ainda teria voltado à aeronave algumas vezes para ajudar na saída dos passageiros. Em um desses retornos do Suboficial à aeronave, desta vez para resgatar o técnico em enfermagem da Funasa João de Abreu Filho, o militar teria sido arrastado pelo rio. João de Abreu Filho acabou falecendo dentro dos destroços da aeronave.
Algumas lições desse acidente, que poderia ter se transformado em tragédia ainda maior. As condições da aeronave, com as revisões em dia, além da capacidade de autonomia e a estrutura do aparelho, foram determinantes para o sucesso do pouso, segundo o Comandante do 7º Comando Aéreo Regional, Major-brigadeiro Jorge Cruz de Souza e Mello. A competência e treino dos pilotos e mecânicos em manejar o avião e abrir as portas e auxiliar na saída das pessoas, mesmo dentro do rio, são diferenciais que podem parecer simples, mas em outros acidentes foram decisivos para se transformar em tragédia. Os passageiros também não entraram em pânico, o que pode ter contribuído para rapidamente saírem do avião que afundava. A FAB também foi competente para mobilizar as buscas com rapidez e encontrar os sobreviventes, ação bastante difícil na densa floresta amazônica. Nesse momento, certamente as lições de sobrevivência na selva também fizeram diferença para a sobrevivência dos ocupantes.
Todos esses fatores juntos certamente contribuíram para que numa situação grave de crise, o resultado fosse o melhor possível. Assim como no pouso do rio Hudson, o Brasil também tem os seus heróis, representados na tripulação do avião C98 Caravan da FAB.