David_lettermanQual a atitude do executivo, ao ser extorquido por alguém, com ameaças de denúncia que comprometa sua reputação? O apresentador David Letterman, âncora do programa Late Show, da CBS,  confessou ao vivo no programa que foi chantageado por um colega, com ameaças de revelação de suas aventuras sexuais com funcionárias do talkshow.

Letterman, sem perder o humor e a ironia, mas circunspecto, revelou no programa que admitiu os relacionamentos em um tribunal de Nova York e denunciou a extorsão de US 2 milhões. Ele reconheceu que errou, fez coisas ruins e simulou aceitar a chantagem para facilitar a prisão, entregando um cheque falso ao chantagista. Ao tentar descontar o cheque, o chantagista foi preso. O acusado vive com uma das mulheres que teria se relacionado com Letterman.

Quando se retratou ao vivo, o público continuava rindo, porque pensava que era brincadeira. Demorou para a ficha cair. Após a revelação, o programa continuou como se nada tivesse acontecido. No dia seguinte, o apresentador pediu desculpas a sua família, pelo constrangimento. Três dias depois, a CBS retirou do seu site as imagens da retratação do âncora. Conseguiu também retirar do You Tube, alegando direitos autorais.  

Extorsão dentro de casa

O apresentador recebeu um pacote em casa com uma carta que dizia “eu sei que você faz coisas terríveis, terríveis, e eu posso provar”. Ele, então, marcou encontro com o chantagista, junto com o advogado e simulou ter aceito a proposta, entregando um cheque de US$ 2 milhões.

O acusado da extorsão, Robert Joel Halderman, produtor da CBS, a mesma rede que exibe o Late Show, foi preso no mesmo dia. Segundo o New York Times, ele enfrentava problemas na vida pessoal e por isso apelou para o golpe. A rede CBS distribuiu nota afirmando que o funcionário foi suspenso até sair o resultado das investigações.

O programa Late Show é líder de audiência no horário e Letterman projetou-se pela fina ironia e pela forma como entrevista personagens do mundo artístico e político, entre eles o presidente Obama, Bil Clinton e uma diversidade de personalidades, que vai de políticos famosos a astros de Hollywood.

Por mais que o apresentador tenha minimizado a ameaça, a confissão pública de que se envolveu com funcionárias desgastou a imagem de Letterman. Surgiram boatos de que ele teria tentado realmente negociar com Robert Halderman. Artigos em jornais e blogs questionam sua sinceridade. Até mesmo os patrocinadores do programa discutiam na semana passada até que ponto anunciar no Late Show seria negativo para os produtos.

Mesmo assim, pela sinceridade e o capital de credibilidade de Letterman, o público compreendeu. A audiência do programa aumentou. O pedido de desculpas do apresentador não foi positivo apenas para levantar a audiência. Muitos críticos louvaram seu fairplay. Ken Tucker, da revista “Entertainment Weekly”, disse que foi “um momento incrível da televisão... que nos lembrou como ele é inestimável”. “É a hora de aqueles que pedem a sua cabeça se acalmarem e deixarem o homem fazer o seu trabalho, o trabalho que ele faz como ninguém. E ninguém nunca fará tão bem novamente”, escreveu Tucker.

Como agir em caso de chantagem?

A extorsão contra pessoas famosas, políticos e empresas não é novidade. Organizações como Pepsi-Cola, TV Globo, Johnson & Johnson e Nestlé já foram vítimas de chantagem.  A extorsão geralmente envolve contaminação de produtos ou sequestro de executivos.

No Brasil, um caso recente é do padre Julio Lancelotti, que trabalhava com jovens infratores e moradores de rua, em São Paulo. Em 2007, ele denunciou ameaça de um dos jovens com quem trabalhou, que cobrou até R$ 50 mil para não denunciá-lo por assédio sexual.

No início, o jovem pedia dinheiro. Posteriormente, teria se transformado em extorsão. A versão foi bastante controvertida na época e o advogado do acusado afirmou à imprensa que o padre adiantou dinheiro para o jovem por muitos anos e que não houve chantagem. De qualquer modo, o episódio desgastou a imagem do religioso e atingiu, por tabela, a própria Igreja católica.

O jogador Ronaldo Nazário também foi vítima de chantagem por travestis, com quem teria saído. Eles cobraram R$ 50 mil para ficarem calados e não revelar que o jogador tinha feito programa com eles. O jogador, corretamente, denunciou a extorsão à polícia, que prendeu os acusados.

TV Globo

Em 2006, foi a vez da TV Globo. O repórter Guilherme Portanova e o auxiliar técnico Alexandre Coelho Calado foram sequestrados por bandidos, ligados à facção criminosa PCC, que exigiu a divulgação na TV de uma mensagem contida num DVD. A emissora resolveu colocar a mensagem no ar, de madrugada, para preservar a vida dos funcionários. A decisão foi bastante difícil. A TV Globo foi assessorada por uma empresa americana, especializada em gestão e crise.

Ceder à chantagem, nesse caso, é uma medida extrema, mas tem que ser tomada imediatamente e não dá muita margem à negociação, principalmente porque a empresa está lidando com marginais, que não têm limites para conseguir o que querem.

Chantagem on line

Há dois meses, o site de relacionamentos Twitter foi alvo de um ataque de hackers, que forçou a página sair do ar. A chantagem on line é o último bastião das quadrilhas que querem dinheiro. Segundo a Agência Globo, “Os criminosos lançam um ataque que consiste em fazer com que o site seja visitado por inúmeros computadores, previamente infectados com softwares maliciosos. Em seguida, exigem dinheiro para encerrar o ataque”.

As empresas estão muito relutantes em falar sobre essas ameaças, por isso é muito difícil obter informações. Mas sabemos que a chantagem para colocar fim a esses ataques existe, explica Francois Paget, pesquisador da empresa de programas de segurança McAfee.  Nesse caso, é importante também denunciar as quadrilhas e avisar os internautas sobre o ataque.

Os especialistas em gestão de crise recomendam que em casos de extorsão, a melhor saída é denunciar imediatamente. A imprensa, a polícia e a sociedade devem saber quando uma empresa ou autoridade pública sofrem chantagem. A divulgação de certa forma constrange os chantagistas. Eles não querem publicidade. Os exemplos de empresas ou pessoas que cederam à extorsão nos primeiro momentos não mostram resultados positivos. A transparência, nesses casos, é o melhor remédio. Os clientes e consumidores entendem o dilema de uma organização vítima de chantagem.  Tornam-se solidários e, quando bem explicado, até mesmo ajudam a organização e a polícia a descobrir os criminosos.

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