João Paulo Forni*
Jair Bolsonaro alcançou o poder, entre outros motivos, com uma estratégia simples de campanha. Esquivava-se de detalhar temas controversos, porém absolutamente necessários à correção de rumos do país, como a reforma da previdência e as privatizações. Por outro lado, sobravam falas contrárias à corrupção – entendimento que beira a unanimidade do eleitorado – e enaltecimento a valores religiosos – que em um país de expressiva maioria cristã, serve para cativar parte considerável da população.
Permeando esse caldo, havia a condenação ao “toma lá, dá cá”, prática de troca de favores e cargos na política, abominada por Bolsonaro durante toda a campanha. Fácil ganhar o aval dos eleitores também nesse ponto. Até aí, portanto, tudo ia bem. O problema começa quando, tendo prometido ao empresariado uma contundente reforma da previdência, o Governo precisa do apoio parlamentar para aprovar uma emenda à Constituição.
O apoio parlamentar vem ou do “toma lá, dá cá” ou de forte pressão popular. Não há outro caminho. O Governo ainda não foi eficaz no esclarecimento à população dos benefícios a serem angariados com uma modificação das regras previdenciárias. Prova disso é que menos da metade (43,4% da população, de acordo com pesquisa da CNT/MDA) dos brasileiros aprovam a reforma.
Como o Governo não pode (pelo menos, ainda não) contar com forte pressão popular para promover as mudanças na previdência, resta apenas o “toma lá, dá cá”. O “dilema” é, portanto, referente a qual caminho o Governo deve tomar. Seria melhor gastar enorme energia esclarecendo a população a respeito dos benefícios da mudança – com o risco de angariar ainda mais rejeição à proposta, uma vez que indivíduos têm dificuldade de renunciar a benefícios presentes em troca de melhorias a longo prazo – ou trair seu eleitorado mais cativo e ceder ao “toma lá, dá cá”. Em breve saberemos.
*João Paulo Forni é Auditor do Tribunal de Contas da União e Mestre em Direito, pelo Centro Universitário de Brasília.