Aproxima-se a Copa do Mundo. Em 2014, o Brasil irá sediar o Mundial. Mas o futebol brasileiro continua tão atrasado quanto em 1950, quando perdemos a Copa em casa. O sucesso do Brasil no futebol se deve muito mais ao talento nato dos nossos jogadores e ao esforço pessoal de alguns treinadores do que à competência administrativa dos dirigentes. Nosso futebol continua dominado por cartolas que se acham donos da bola e dos cofres.
Essa política de compadrio acaba contaminando a gestão dos clubes. Raríssimos são aqueles com gestão profissional, com dirigentes que conduzem os clubes como “business” e não como trampolim para escaladas políticas. O Brasil não consegue transformar o “futebol-arte” num grande negócio, como acontece na Europa, com equipes como Barcelona, Manchester United, Chelsea, Real Madrid, Milan e outros.
Administrados por cartolas que só querem se locupletar financeira e politicamente, os clubes brasileiros de futebol vivem atolados em dívidas impagáveis, passivos trabalhistas e fiscais. Continuam improvisando, com rendas medíocres e patrocínios oportunistas, que mal dão para cobrir as dispendiosas folhas de pagamento. Com isso, passam a depender financeiramente dos direitos de arena da TV.
O que essa dependência gerou? Acabou criando um mostrengo no país, que se apropriou do futebol sob o controle de um único canal de TV e todos os seus tentáculos. Essa relação incestuosa entre CBF e um grande rede de TV determina até o horário dos jogos, que dependem da grade das novelas para se realizar. Com isso, temos absurdos durante o Campeonato Brasileiro, como jogos às 15 horas (horário do sol), no horário de verão, a temperaturas de quase 45 graus. E jogos às 22 horas no Rio G. do Sul, em pleno inverno de zero grau. Quem se aventura a sair de casa, com transporte ruim, chuva e frio, para assistir a um jogo a partir das 22 horas? O horário maluco de verão levou tribunais, ano passado, a postergar o início das partidas para horário mais civilizado.
Completa aberração, desrespeito ao torcedor e acinte aos jogadores, tudo porque o futebol, por força de contrato de exclusividade, submete-se a essa grade de programação e manda os torcedores se lixarem. Quem manda é a grana da TV. Não o bom senso, o conforto de quem paga o espetáculo ou os jogadores.
Essa aliança espúria do interesse comercial com cartolas que se perpetuam no poder, comete verdadeiros disparates. Transmite jogos insignificantes de campeonatos estaduais no mesmo horário dos jogos da Taça Libertadores. Como o monopólio da TV tem a exclusividade dos dois, submete os torcedores aos caprichos de sua grade, privando os brasileiros de verem os jogos da Libertadores. No domingo (18), às 16 horas, com decisões estaduais nos principais estados brasileiros, o Sport TV2 transmitia St. Etienne X PSG, do campeonato da França. Essa opção absurda só pode ter relação com os pacotes dos campeonatos estaduais vendidos nos chamados canais pay-per-view.
Na Europa, nos dias úteis os jogos no inverno começam às 19 ou 20 horas. Aos domingos, às 15 horas. Isso tem duas vantagens. Permite o trabalhador sair direto do trabalho para o jogo, via metrô ou ônibus. Assiste e volta para casa em horário civilizado. Resultado, no início da temporada todos os ingressos para os jogos do campeonato inglês, alemão, italiano e espanhol já estão esgotados. Tudo vendido com antecedência pela internet. O único jogo recente na Europa, com mais da metade dos lugares vagos no Emirates Stadium, em Londres, foi entre Seleção Brasileira e Irlanda, em 2 de março. E adivinhem por quê?
Porque não foi administrado pelas ligas européias. O improviso e o fracasso de bilheteria têm o dedo da CBF, que só tem olhos para o dinheiro dos patrocinadores e da TV. O torcedor mais uma vez ficou de fora. Povo civilizado tem agenda, não decide em cima da hora e nem compra ingresso em bilheteria, em filas. Isso só acontece no Brasil e na África do Sul.
Enquanto o futebol continuar administrado por um grupo que controla a CBF como propriedade privada, tentando manipular eleições com adiantamentos financeiros das cotas de TV a clubes mal das pernas, como aconteceu na recente eleição do Clube dos 13, teremos estádios vazios, jogadores e técnicos fugindo para o exterior. É assim que estamos nos preparando para a Copa do Mundo de 2014?