A tecnologia e a habilidade humana são mesmo paradoxais. O que os parentes dos 446 pessoas, que morreram no naufrágio do navio Eastern Star, no rio Yangtze, na China, há uma semana, devem estar se perguntando neste momento?
Como é possível o homem ter tecnologia para construir uma nave, pousar e descer na Lua; construir Sondas e Satélites, que ficam anos voando para Marte e conseguem pousar lá. E, paradoxalmente, ser incapaz de resgatar mais de 400 pessoas, a maioria idosos, que ficaram presos nas cabines do navio, que emborcou e ficou ali, na superfície, desafiando a habilidade humana e a tecnologia para fazer o óbvio e aparentemente simples: retirá-las das cabines.
Durante uma semana, 3.400 soldados e 1.700 policiais se revezaram na tentativa de resgatar os passageiros presos no navio, que emborcou. Os 14 sobreviventes, na maioria tripulantes, saíram quase todos por conta própria. Ou seja, o resgate não salvou quase ninguém. Como é possível, em pleno século XXI, com toda a tecnologia disponível para descobrir um avião que afundou no mar, a 4 mil metros de profundidade, nós não sermos capazes de desvirar com rapidez ou mergulhar com a agilidade necessária no compartimento do navio, para resgatar se não todos, pelo menos a maioria dos passageiros?
Esse acidente é mais um na sequência irresponsável e gananciosa de outros que ocorreram nos últimos anos com navios que carregam milhares de pessoas. Faz 103 anos que o Titanic afundou. Mas parece que não aprendemos. Costa Concordia, com apenas 32 mortos, por pura sorte de ter naufragado próximo à costa da Ilha de Giglio, na Itália; Sewol, o ferryboat coreano, que virou como o da China, e deixou mais de 300 mortos. E agora o Eastern Star. Todos os mortos foram vítimas da imperícia, despreparo, falta de prevenção, irresponsabilidade, erros humanos, componente sempre presentes nas crises graves.
Querer culpar a tempestade pelo acidente no rio Yangtze é desprezar a memória dos mortos, perto de 100 idosos, em passeio turístico. Outros navios receberam alarme de ciclone e interromperam a viagem. Por que o Eastern Star não fez o mesmo? O comandante escapou da morte, como aconteceu com o famigerado Francesco Schettino, no Costa Concordia, em 2012; e com o comandante do navio coreano, condenado à prisão perpétua, em 2014.
Eles se salvam, os passageiros que se virem por conta própria. Lamentavelmente. Os parentes revoltados, como sempre, recebem respostas evasivas e desculpas esfarrapadas. E os governos, como agora na China, fazem reunião de emergência para analisar a catástrofe.
Repete-se nesses acidentes a triste rotina de crises ocorridas por omissão ou erros humanos, passíveis de evitar, se houvesse o mínimo de cuidado e precaução com os riscos que podem ameaçar a carga mais preciosa que lhes são confiadas: a vida humana.
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