Vapes cigarro eletronicoIsabela Pimentel*

É natural, pode usar’. Quantas vezes não vemos posts e conteúdos assim em nossos feeds?

A recomendação de produtos ‘milagrosos’ por perfis de influenciadores em algumas redes sociais não é novidade, mas vem crescendo e fazendo o tema ganhar destaque nas ‘trends’, ou seja, assuntos que se tornam virais nas redes e plataformas sociais. E isso inclui desde fórmulas até os chamados cigarros eletrônicos, tão populares entre influenciadores jovens.

Os produtos milagrosos promovidos por influenciadores digitais tornaram-se uma tendência crescente no cenário das redes sociais. E tem de tudo na lista….de suplementos alimentares que prometem emagrecimento rápido aos cremes de beleza que garantem uma pele incrível até o cigarro da moda, o Vape.

No entanto, o que muitas vezes não se discute são os riscos envolvidos no consumo desses produtos e como a falta de regulamentação e o poder do marketing podem colocar a saúde do consumidor em perigo.

Considerando os aspectos e dados acima apontados, há uma relação intrínseca entre o crescimento da venda de produtos falsificados, especialmente medicamentos,  e o aumento da incidência de doenças crônicas não-transmissíveis no Brasil.

Vapes cigarro eletronico 1Ao buscarem na Internet e plataformas de redes sociais opções mais econômicas para seus tratamentos, que são caros e contínuos, os pacientes acabam sendo impactados por sites, anúncios e perfis que oferecem medicamentos falsificados como uma alternativa que cabe no bolso e, por isso, se torna atraente.

Essa facilidade de acesso a medicamentos falsificados, adulterados ou que se apresentam como soluções milagrosas se torna uma questão de saúde pública, dado o elevado grau de fragmentação nas políticas de combate à falsificação e ausência de uma regulamentação efetiva sobre tais práticas no ambiente digital (aqui entendido como sites, anúncios e redes sociais).

Influência nas redes não é garantia de produto seguro

Os influenciadores digitais possuem um alcance enorme, frequentemente superando o de mídias tradicionais e isso pode ser usado a seu favor e em parceria com as marcas. Eles têm seguidores fiéis que confiam em suas opiniões e recomendações, o que torna a publicidade feita por essas figuras altamente eficaz. Mas, também há riscos que precisam ser mapeados.

Quando um influenciador de renome recomenda um produto, muitos de seus seguidores acabam acreditando que a qualidade e a eficácia do produto foram devidamente testadas e aprovadas, o que nem sempre é verdade.

Grande parte do sucesso desses “produtos milagrosos” está atrelada ao uso de estratégias emocionais de marketing, que prometem resultados rápidos e sem esforços significativos.

Isso cria uma ilusão de solução imediata para problemas como excesso de peso, acne ou envelhecimento, levando muitos consumidores a adquirirem os produtos sem refletir sobre sua composição ou possíveis efeitos colaterais.

A falta de regulação e fiscalização das plataformas

Um dos principais problemas dos produtos recomendados por influenciadores é a falta de regulação. Muitos desses produtos são vendidos em mercados com pouca fiscalização, o que significa que não passaram por testes rigorosos para garantir sua segurança.

No Brasil, por exemplo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) regula alimentos, medicamentos e cosméticos, mas muitos influenciadores promovem produtos fabricados em outros países ou que não foram devidamente registrados nos órgãos competentes.

A falta de transparência sobre a origem e composição dos produtos é muito grave e pode ter efeitos críticos na saúde pública. É comum que as empresas evitem divulgar informações detalhadas sobre os ingredientes, e em alguns casos, esses produtos podem conter substâncias perigosas ou proibidas.

O uso de termos vagos como “100% natural” ou “baseado em ervas” contribui para a confusão, dando a falsa impressão de que os produtos são seguros por serem “naturais”, quando, na verdade, podem causar reações adversas graves.

Exemplos de produtos e consequências

Um exemplo notório envolve suplementos alimentares que prometem emagrecimento rápido. Muitos desses suplementos contêm ingredientes que podem acelerar o metabolismo de maneira perigosa, elevando a pressão arterial e o ritmo cardíaco.

Uma exemplo é o caso de viralização da trend sobre opções ao produto Ozempic. Nos últimos 12 meses, as tendências de buscas por “Ozempic” na internet se mantiveram relevantes. Entre as pesquisas, o destaque está para termos relacionados ao “Ozempic natural“, como “Ozempic natural fórmula” e “Ozempic natural funciona“, que tiveram um aumento repentino no interesse de buscas nas últimas semanas.

O Ozempic é um medicamento para o tratamento do diabetes tipo 2 desenvolvido pela farmacêutica Novo Nordisk. O termo ‘Ozempic Natural’, por exemplo, é uma forma de propaganda falsa.

Outro exemplo são as famosas “pílulas detox”, amplamente promovidas por influenciadores e celebridades. Embora apresentadas como uma solução simples para limpar o organismo e promover bem-estar, muitas dessas pílulas não têm comprovação científica e podem resultar em desequilíbrios eletrolíticos perigosos, desidratação e, em casos extremos, internações hospitalares.

O cigarro da ‘moda’ e os riscos associados

Produtos que também têm gerado burburinho nas redes sociais são os chamados Vapes ou cigarros eletrônicos. Seu uso tem tornado cada vez mais popular entre os jovens, especialmente devido à influência de personalidades e influenciadores digitais.

Os influenciadores digitais, com grandes audiências nas plataformas como Instagram, YouTube e TikTok, têm tido um papel significativo na promoção, direta ou indireta, do uso de vapes.

Muitos jovens seguem essas figuras e enxergam suas ações como comportamentos desejáveis ou normais. Quando influenciadores são vistos utilizando cigarros eletrônicos, isso pode reforçar a percepção de que o hábito é inofensivo, moderno ou até “cool”.

Porém, essa normalização do vape é preocupante, pois muitos influenciadores não destacam os riscos associados ao seu uso e já há casos de diversos jovens viciados no produto, pois muitos cigarros eletrônicos contêm nicotina, uma substância altamente viciante.

Diversos países estão adotando medidas para controlar a venda e o uso de vapes, especialmente entre menores de idade. No entanto, as campanhas de conscientização também precisam ser fortalecidas.

Em 2023, diversos países adotaram medidas de proibição de uso e comercialização deste tipo de cigarro, sendo tais medidas alinhadas com a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT) da Organização Mundial da Saúde (OMS),  para proteger a saúde de suas populações contra novos produtos de tabaco.

De acordo com dados da Organização Panamericana de Saúde (Opas, 2023), 21 países das Américas já adotaram medidas de controle  contra cigarros eletrônicos e vapes. Enquanto isso, 14 países não possuem nenhuma regulamentação para esses produtos.

Nesse sentido, além de medidas educativas, é vital trabalhar a governança e o papel das plataformas digitais e das marcas que convocam influenciadores a promover produtos como o vape.

O papel das plataformas e marcas

As plataformas de redes sociais, como Instagram, TikTok e YouTube, também têm uma responsabilidade significativa nesse cenário.

Embora tenham implementado políticas para rotular publicações pagas ou patrocinadas, isso nem sempre é feito de maneira eficaz, e muitos usuários podem não perceber que uma recomendação é, na verdade, uma forma de publicidade.

Como proteger-se de produtos milagrosos ( e perigosos)

Para evitar cair na armadilha dos “produtos milagrosos” recomendados por influenciadores, os consumidores devem tomar uma série de precauções. Primeiramente, é importante ser cético em relação a produtos que prometem resultados muito rápidos ou soluções “mágicas”. Todo cuidado é pouco!

Além disso, é essencial investigar a procedência do produto. Verificar se ele está devidamente registrado nos órgãos de vigilância sanitária do país e se a empresa responsável é confiável são medidas fundamentais.

Outro ponto importante é prestar atenção às próprias publicações dos influenciadores. Se o post for marcado como “parceria paga” ou “publicidade”, o consumidor deve considerar que o influenciador está sendo compensado para promover o produto e que a recomendação pode não ser totalmente imparcial.

As redes sociais podem ser uma excelente ferramenta para descoberta de novos produtos, mas é crucial que todos nós sejamos consumidores mais informados e críticos diante das tendências que viralizam. Afinal, quando se trata de saúde, o barato pode sair muito caro.

*Isabela Pimentel - Doutoranda em Comunicação Social (PUC Rio), Pesquisadora na área de desinformação e saúde e Professora.

Mantém o site https://comunicacaointegrada.com.br/

 

 

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