Porto alegre boa foto*Francisco Viana

Aproxima-se o dia da posse dos prefeitos eleitos em 2016. O País deu forte guinada ao centro-direita, mas os novos prefeitos terão de governar para o povo e resolver os problemas sociais, seja qual for a coloração política ou o credo ideológico. Emprego, saúde, transporte, saneamento, escolas, investimento e liderança política, são pautas comuns a todos.

Em 2012, a esquerda ainda sonhava, apesar do julgamento do chamado “mensalão”, o maior da história do Supremo Tribunal Federal, com a condenação de ícones como José Dirceu. O Sistema de cotas raciais e de estudantes que cursaram a escola pública se institucionalizou, a Lei da Ficha Limpa passou a valer, houve greves no setor público, greve da Polícia Militar em Salvador, pouco antes do carnaval -  que se não debelada a tempo se alastraria por todo o país -, e o Brasil sediou a Conferência do Clima da ONU 20 anos após a histórica Rio92.

Havia esperança. Não se falava em impeachment ou num eventual Governo Temer. Ninguém imaginava que cidades como o Rio de Janeiro e Porto Alegre fossem praticamente falir e, muito menos, que idêntica ameaça viesse pairar sobre vários estados e todo o país, hoje com mais de 11 milhões de desempregados. As eleições tinham revelado um país mais petista, menos permeável ao discurso conservador. A estrela lulista parecia brilhar indefinidamente.

O PT não agiu, a presidente não liderou, como se esperava. O trem da história atrasou. E vai atrasar mais ainda em 2017 se não se fizer nada para debelar a crise social que só tende a se agravar. O que aconteceu? Os prefeitos terão que olhar para adiante para os limites das suas questões paroquiais, não importa se em São Paulo ou Salvador, se nas cidades do interior ou na periferia das grandes cidades.

sao paulo congestionamentoOnde quer que estejam, terão de encarar a realidade e se mobilizar para resolverem problemas que vão do pagamento de salários à criação de empregos, da redução da carga tributária à anistia dos juros dos tributos atrasados. A comunicação, nesse sentido, terá papel vital para mostrar não apenas o que os prefeitos fazem, como acontece tradicionalmente, mas para jogar luzes sobre as causas em que eles pretendem se engajar.

Terão que mostrar para que vieram. Terão que mostrar que a soma dos municípios é que faz o todo e pode levar o país a voltar a crescer. Terão que mostrar que são a ponta da estrutura federativa que está mais próxima do indivíduo e que, a partir dali,  é que se dá boa parte da extensão dos serviços públicos. Essa é a expectativa da sociedade civil, envolvendo trabalhadores e empresários.

O particular, nesse contexto, não pode mais se colocar acima do público. A comunicação não pode ser mero exercício de retórica. A reputação do governante não pode ser apenas feita pela imagem que, no confronto com os fatos, geralmente se revela oca como um anel. É preciso construir a confiança no dia a dia. Em outras palavras, é preciso pensar num novo pacto federativo, ter visão estratégica, pregar a união para governar com acerto e coerência. E não ficar só nas palavras.

Basta olhar os indicadores da economia e a atmosfera política para concluir, por menos arguto que se seja, que 2017 será um ano mais duro que 2016. E que os brasileiros não suportam mais esperar que a crise passe. Pelo menos que possa passar por milagre. Ou simples desejo dos governantes, sem ação.

*Francisco Viana é jornalista e doutor em filosofia política (PUC-SP).

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