InterA equipe de futebol do Internacional de Porto Alegre vai decidir o futuro neste domingo, na última rodada do Brasileirão, precisando ganhar o último jogo e torcer por uma combinação de resultados para não cair pela primeira vez para a série B. A crise do Inter no terreno do futebol, se já não fosse pequena, foi inflada nos últimos dias por uma série de trapalhadas da diretoria e dos jogadores com declarações e atitudes que mereceram críticas da opinião pública e da crônica esportiva. Tudo começou quando o vice-presidente de futebol da equipe, em entrevista coletiva, ao lamentar a tragédia que envolveu a delegação da Chapecoense, na Colômbia, a associou à "tragédia particular" vivenciada pelo Colorado gaúcho. Para ele, o adiamento da última rodada do Brasileirão para o domingo seguinte seria prejudicial ao clube.

"Temos nossa tragédia particular, que é fugir do rebaixamento. Estamos nos agarrando nas últimas folhas da árvore. Vamos lá ainda. Não vamos desistir até o final. Esse adiamento de rodadas certamente vai ser prejudicial, nem estou falando nisso, porque como a consternação é geral, como a solidariedade é unânime de todo mundo, não é hora de reclamar. Mas o adiamento vai trazer embaraços que mais adiante vamos ter que comentar", disse o dirigente.

Ao perceber a gafe, após uma saraivada de críticas e de repercussão negativa nas redes sociais e no meio esportivo, ele veio a público se desculpar. Mas a repercussão negativa já era incontrolável. Logo em seguida, como se fosse possível piorar, os jogadores fizeram coro à desastrada declaração, sob a alegação de que não tinham condições de jogar a última partida, que seria no dia 11 próximo, insinuando que essas última rodada deveria ser cancelada. Não faltaram aqueles que viram na atitude dos jogadores menos do que um sentimento de pesar, mas uma saída estratégica para evitar o rebaixamento, o que também mereceu críticas generalizadas de cronistas esportivos e jogadores pelo país, incluindo atletas e dirigentes da Chapecoense.

O repúdio a essa reação do Internacional veio até do prefeito de Chapecó: "É muito bom quando um clube grande tem dirigentes grandes. O problema é quando um clube gigante tem dirigentes pequenos. O caso do Atlético Nacional é assim: um clube grande com dirigentes grandes. Diferente do Internacional que é um clube grande com dirigentes que… Bom, é melhor eu nem falar”, comentou, após o enterro do presidente do clube catarinense.

Novos desmentidos do Internacional e a continuação da crise. Resultado, numa semana em que a paz, a tranquilidade, o foco deveria ser a prioridade, a diretoria do Inter passou a se defender para salvar a imagem. Dos gramados, a crise do Internacional migrou para a área de Relações Públicas.Como se não bastasse, as tratativas jurídicas do Inter sobre a inscrição irregular de um jogador do Vitória irritaram o Clube baiano e a CBF. Nesta sexta-feira, 9, a CBF denunciou o Internacional ao Ministério Público por falsificação de documento no processo que envolve o jogador do Vitória. O documento com que o Jurídico do Inter teria respaldado a denúncia seria falso. Fato negado pelo advogado do Clube. O imbróglio em que o Inter se meteu não apenas no campo, mas também fora dele, parece não ter fim. Um time com a grandeza do Inter, com títulos internacionais e um dos clubes com maior número de associados no país, não merecia tantas trapalhadas na semana mais decisiva dos últimos anos.

A jornalista Renata de Medeiros, do Grupo RBS, captou um ponto interessante, que deve ser considerado, quando alguém é atingido por uma tragédia. O sentimento que todos devemos ter, em relação à Chapecoense, e familiares, nesse momento, deve ser de "Compassion**", palavra que não tem uma boa tradução em português, algo que faltou à diretoria e jogadores do Internacional nos últimos dias e que sobrou nos atletas, na diretoria e nos torcedores do Atlético Nacional, de Medellín, na Colômbia.

Falta de "compassion" gera crise de imagem no Inter

Renata de Medeiros*

"Na semana marcada por comoção mundial pelo acidente que vitimou a delegação da Chapecoense, o Inter mostrou como transparecer insensibilidade a tragédias acarreta profundo dano à imagem. A série de entrevistas controversas concedidas por dirigentes e jogadores escancarou a fragilidade da comunicação do clube. Um dos preceitos básicos que deve nortear os pronunciamentos, a compassion — termo sem definição precisa na língua portuguesa, que designa sentimento de pesar, e é a base da comunicação de crise — foi praticamente esquecida.

Mais do que compaixão, compassion expressa o desejo de estar no lugar daquela pessoa ou organização para sentir a mesma dor que ela está enfrentando. Tal sentimento passou longe da declaração de Fernando Carvalho, quando comparou a tragédia vivida pela Chapecoense com a situação de risco iminente de rebaixamento em que o Inter se encontra. Apesar da retratação do dirigente no dia seguinte, a manifestação provocou reação dos jogadores, que afirmaram não ter condições psicológicas de entrar em campo na última rodada do Brasileirão.

O posicionamento coletivo gerou nova declaração da diretoria colorada na quinta. Diretor de futebol, Ibsen Pinheiro afirmou que "não foi o Inter, foram os jogadores" os responsáveis pela declaração, fazendo coro à manifestação de Piffero, que disparou que o campeonato "ficaria em aberto" caso a última rodada não fosse disputada.

Faltou "compassion" do Inter com a Chape e dos dirigentes com os jogadores colorados. Além disso, mesmo com luto decretado e bandeira a meio mastro no Beira-Rio – sinais que deveriam significar prioridade total à solidariedade –, o clube entrou no STJD com ação para tentar tirar pontos do Vitória, adversário direto na luta contra o rebaixamento. O momento era de profunda consternação no mundo inteiro com a situação da Chapecoense. Mas, no Inter, nada se via além da preocupação com seus próprios interesses.

No sábado, a crise de imagem ficou ainda mais evidente. Enquanto Vitorio Piffero concedia entrevista na Arena Condá, durante velório coletivo, torcedores da Chapecoense bradavam: "Vai para casa", entre outras expressões que demonstravam rejeição à presença do presidente colorado. A crise dentro de campo deu lugar a nova crise no Inter. Em três dias pós-tragédia, três notas foram lançadas pela comunicação corporativa para tentar desfazer o desastre das entrevistas de seus dirigentes e evitar repercussão de fatos “mal interpretados”.

A falta de "compassion" está levando o Inter ao posto de clube mais antipático do Brasil."

Íntegra da Nota de Fernando de Carvalho

"Venho por meio desta pedir desculpas pelas palavras equivocadas utilizadas na entrevista concedida ontem às emissoras Pampa, Record e SBT.

Em nenhum momento foi minha intenção comparar a tragédia arrasadora que aconteceu com a Chapecoense, instituição pela qual tenho imensa estima, com a situação do Internacional do Campeonato Brasileiro. Certamente foi infelicidade minha a escolha da palavra tragédia, nesse momento, ao me referir ao nosso caso.

 Nada se compara com a fatalidade que vitimou nossos colegas desportistas e nos feriu a todos. Reitero desejo de força às famílias e amigos das vítimas e a toda comunidade de Chapecó". (30/11/16)

*Renata de Medeiros é jornalista, atua no “Futebol da Gaúcha”, do Grupo RBS, com especialidade em Gestão Técnica do Futebol, pela Universidade do Futebol.

**Compassion: "De acordo com o Budismo, "compassion" é uma aspiração, um estado mental, querendo que outros se libertem do sofrimento. Não é passivo - não é somente empatia - mas sim um altruísmo empático, que ativamente luta por libertar o próximo do sofrimento. A compaixão genuína deve ter tanto sabedoria quanto bondade amorosa." (Gestão de Crises e Comunicação - O que Gestores e Profissionais de Comunicação precisam saber para enfrentar Crises Corporativas", Forni, J.J., Atlas, 2015, p. 198).

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