LiderançaO Brasil vai muito mal quando se trata de liderança. É patético e triste ver neste momento o comportamento de quem deveria ser a principal líder do país: a presidente da República. Votos não têm o condão de outorgar a alguém o dom da liderança, lamentavelmente. Líderes autênticos não precisam de votos para comandar, para seduzir, para encantar e mudar o mundo.  A história está cheia de exemplos. Luther King, Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dulce não exerceram cargos eletivos.

O mínimo que se requer do líder de um país, de um presidente da República, no meio da mais grave crise dos últimos 25 anos, como ocorre no Brasil, é ter estatura, humildade (ah, essa virtude muito escassa nos dias atuais), visão de futuro, sobriedade, espírito de conciliação, carisma para fazer um chamamento a todos os brasileiros, aconteça o que acontecer, para a necessidade de todos unidos trabalharem para buscar uma saída para os inúmeros problemas do País, nesse momento grave de crise.

É natural que o país todo esperasse um pronunciamento da presidente às vésperas da decisão da Câmara dos Deputados sobre o prosseguimento ou não do processo de impeachment. Impedida de falar em cadeia nacional e sequer sair às ruas, por medo de ser vaiada ou ser alvo de panelaços, a presidente anunciou que falaria à nação em cadeia nacional, mas na última hora, por recomendação da AGU, e quiçá por receio de um vexame, cancelou. E foi para as redes sociais.

Ora, as redes sociais não são a melhor mídia para falar ao país. E nem eximem a presidente de fazer um discurso apropriado para um momento de instabilidade política. As redes sociais não são álibi para o primeiro mandatário atacar adversários e fazer um discurso partidário, em lugar de um discurso de estado, dirigido a todos os brasileiros e com foco nos problemas do país e não nos problemas pessoais de sua luta política. O lugar para retórica partidária são os encontros fechados do partido ou da militância. Ou as convenções partidárias.

Gazeta do PovoE o que disse a presidente? Dilma tem o direito de se defender; tem o direito de contestar a tese do impeachment. À parte uma digressão que agride a história, como “A denúncia contra mim em análise no Congresso Nacional não passa de uma fraude, a maior fraude jurídica e política da história do nosso país”, Dilma perdeu um grande momento para enfrentar, com autoridade, coragem, discernimento e humildade a ameaça do panelaço e ir a uma cadeia de radio e TV para fazer um pronunciamento histórico. Mas para isso, ela precisaria reconhecer os erros.

Preferiu se esconder no site do PT (por onde foi divulgado o video). Errou na forma e no conteúdo. Atacou a oposição (presumivelmente na pessoa do vice-presidente, eleito na sua chapa), ao dizer que se a ‘oposição’ tomar o poder acabará com os programas sociais, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, entre outras afirmações de cunho político.

A presidente fez um discurso populista e partidário. Perdeu a oportunidade de agir como estadista, talvez porque lhe faltasse essa dimensão na verdadeira acepção da palavra. Ao fazer juízo de valor sobre o que a oposição faria, a presidente usou do mesmo argumento falacioso da campanha de 2014, quando pregava esse mesmo tipo de diversionismo. O vice-presidente não perdeu tempo. Em rede social respondeu à acusação de Dilma, dizendo que a declaração da presidente era “falsa” e “mentira rasteira”. Poderia ter sido poupada disso.

Sem entrar no mérito jurídico se o impeachment trata-se de um golpe ou não, tese defendida por Dilma e pelo partido, embora refutada por pelo menos cinco ministros do STF, a dificuldade da presidente para construir um discurso coerente e forte tromba também com a falta de uma qualidade essencial para a liderança: o carisma. De ter se consagrado no desempenho de funções públicas, até antes da presidência, pela falta de tato político, temperamento irascível, soberba e dificuldade de reconhecer e admitir erros, como a desastrada gestão econômica do país, as promessas não cumpridas da campanha de 2014, a corrupção em empresas diretamente controladas por ela, como a Petrobras, e, mais recentemente, pelas acusações de uso de dinheiro de propina na campanha para a presidência.

Nesse momento o Brasil está carente de um líder que realmente aglutine os anseios do país. O processo do impeachment, não importa qual seja o resultado, nos apequena e ridiculariza perante o mundo, torna muito difícil a governabilidade, principalmente porque o comando do país está entregue a uma pessoa que no momento mais delicado de seus cinco anos no poder, prefere partir para o confronto em vez de buscar a conciliação.
Essa a diferença que fica escancarada nesse momento entre um grande líder político, de que são exemplos Churchill, Roosevelt, Kennedy, Obama e no Brasil, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, entre outros, e aqueles que nos momentos cruciais e no auge da crise se apequenam e contribuem para piorar a situação tornando muito mais difícil encontrar soluções.

Chegar ao dia de hoje, em que a principal mandatária da nação é humilhada, sem entrar no mérito das acusações, num processo de expurgo que a expõe perante o Brasil e o mundo, evidencia que o Brasil tem uma grande carência de liderança e pode ser um entrave para que as decisões tomadas a partir deste dia possam realmente contribuir para resolver a grave crise que o país enfrenta. A presidente mal assessorada e com sucessivos erros contribuiu muito para chegar a esse desenlace lamentável para o país. O que preocupa a partir de hoje é saber quem tem estatura para conduzir um processo rápido de recuperação do país.

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