adolescente no celular"Eu prefiro não comer por uma semana do que ficar sem ter meu telefone. É muito ruim. Eu literalmente iria sentir como se eu fosse morrer." (Gia, 13 anos).

Esses adolescentes participaram do programa "#Being13: Inside the Secret World of Teens" (Por dentro do mundo secreto dos adolescentes), primeiro estudo da espécie feito na mídia social com adolescentes, realizado por dois pesquisadores, em parceria com o Grupo de TV CNN, nos Estados Unidos. O objetivo da pesquisa era saber como esses jovens, numa idade pré-adolescente, usam a mídia social e como o envolvimento com essa mídia se relaciona com o ajustamento social e psicológico.

O estudo, divulgado pela CNN em outubro, resulta de longa pesquisa com mais de 200 alunos de 13 anos da oitava série. Eles permitiram que o conteúdo de suas mídias sociais fosse estudado por especialistas em desenvolvimento infantil, que compartilharam o resultado numa parceria com a CNN e as Universidades do Texas, em Dallas, e a Universidade da Califórnia, em Davis. Este é o primeiro estudo em grande escala para analisar o que as crianças realmente dizem um ao outro em mídia social e porque isso é tão profundamente importante para eles.

"Quando me tiram o telefone, eu me sinto meio nua. Eu sinto uma espécie de vazio, sem o meu telefone." (Kila, 13 anos).

Conclusões e opiniões

“Eu acredito que eles são viciados em conectar com amigos e com a afirmação pessoal que eles conseguem ter nas redes sociais", disse a psicóloga clínica de criança Marion Underwood, co-autora do estudo. "Para saber o que o outro está fazendo, onde eles ficam, para saber quantas pessoas gostam do que eles postaram, para saber quantas pessoas os seguiram hoje e as deixaram de seguir... o que eu acho que é altamente viciante." Underwood é especialista em estudo das agressões sociais entre jovens.

Para o sociólogo Robert Faris, pesquisador de casos de bullying e do comportamento agressivo dos jovens, outro autor do estudo, "Há muita ansiedade sobre o que está acontecendo on-line, quando eles não estão realmente on-line, de forma a levar os jovens a um estado de compulsão pela necessidade de estarem checando o telefone".

Leia o estudo completo

Nas conclusões publicadas pela CNN, a pesquisadora pergunta: “Por que os adolescentes são tão ansiosos sobre o que está acontecendo on-line? A pesquisa #Ser13 descobriu que é em grande parte devido a uma necessidade de monitorar seu próprio estado de popularidade, e defender-se contra aqueles que ousam contestá-lo.”

• 61% dos adolescentes disseram que queriam ver se os seus posts online tiveram “curtidas” (likes) e comentários.

• 36% dos adolescentes disseram que queriam ver se seus amigos estão fazendo coisas sem eles.

• 21% dos adolescentes disseram que queriam se certificar de que ninguém estava dizendo coisas ruins a respeito deles.

"Esta é uma faixa etária que tem muita ansiedade sobre como eles se encaixam (no grupo), o que eles classificam, qual o seu status perante os pares. Há medo em colocar-se lá fora em mídias sociais e eles esperam por muitas “curtidas” (likes), comentários e afirmações, mas há sempre a chance de que alguém possa dizer alguma coisa significante", disse Underwood.

Perigos à espreita na mídia social

Segundo informa a CNN, "O estudo foi realizado com alunos da oitava série em oito escolas diferentes em seis estados dos EUA. Os alunos participantes, com a permissão dos pais, registraram suas contas do Instagram, Twitter e Facebook através de um servidor seguro criado por uma empresa de arquivo eletrônico, contratada pela CNN, denominada Smarsh. Os co-autores do estudo, juntamente com suas equipes, analisaram cerca de 150 mil mensagens de mídia social colhidas ao longo de um período de seis meses. Além disso, os adolescentes também responderam a uma série de perguntas de pesquisa sobre o uso de mídia social."

"Se eles estão falando de mim, eu vou falar sobre eles”

Quanto mais os adolescentes olham a mídia social, segundo o estudo, mais angustiados eles podem se tornar. A pesquisa mostra que os usuários mais viciados em mídia social admitiram que verificam suas páginas e posts mais de 100 vezes por dia, às vezes até mesmo durante o horário escolar. Além do mais, alguns adolescentes são tão vigilantes sobre aqueles que possam estar os expondo de uma forma negativa, a ponto de eles seguirem as contas de mídia social não só dos amigos, mas também os seus inimigos. É bom lembrar, que essa média de 100 consultas estaria em média restrita a oito horas do dia, porque presume-se que durmam oito horas e estejam em atividade escolar outras oito horas.

"Eu quero ver o que estão falando e se eles estão falando de mim. Porque se estão falando de mim, eu vou falar sobre eles", disse Zack, um dos adolescentes que se sujeitou a esse estudo.

A pesquisa #Ser13 também descobriu que os adolescentes já não veem uma distinção entre as suas vidas no mundo real versus o mundo online. Mas eles ainda postariam on-line o que eles admitem que nunca diriam em pessoa para determinados interlocutores.

"Vá morrer. Pare de tentar ser popular", dizia um post de mídia social enviada a uma menina, no estudo.

"Falando sério, você é (palavrão ofensivo) traga seu traseiro chutado", dizia um post escrito por um menino no estudo.

A mensagem de um menino pesquisado chamava uma menina três vezes de “cadela suja”. O nível de palavrões, linguagem sexual explícita e referências ao consumo de drogas surpreendeu os especialistas, considerando que os pesquisados do estudo foram apenas alunos da oitava série.

"Eu não sabia que esses tipos de comportamentos ocorriam. Você vê isso no nível do ensino médio, mas estas são crianças, que eu penso como se fossem crianças, e vimos um monte de conteúdo adulto nessas plataformas", disse o pesquisador Robert Faris.

Pais: aqui está como parar o pior das mídias sociais

Admirados, os pesquisadores constaram que "eles estão compartilhando este material que deveria ser mantido privado”.

O conteúdo adulto foi muito além do uso da linguagem. A pesquisa descobriu que jovens de 13 anos ainda estão expostos ao lado sexualizado da Internet. 15% dos adolescentes neste estudo relataram receber fotos inadequadas, e aqueles que receberam eram quase 50% mais angustiados do que o resto dos estudantes neste estudo.

"Receber essas fotos é perturbador, especialmente em uma idade tão jovem, porque é algo que você não pediu para ver, é algo que você pode ter desejado não abrir, mas, uma vez visto, você não pode apagar e jogar fora de sua mente," afirmou a psicóloga Marion Underwood. "É ilegal, é preocupante, é assustador, é perigoso, é pesado. Se você falar com um adulto, todo mundo vai enfrentar um monte de problemas. Isso, portanto, os coloca em uma posição muito difícil."

Além de receber fotos inadequadas, alguns adolescentes do estudo, falaram à CNN, em entrevistas monitoradas, sobre a prevalência da chamada pornografia da vingança.

“Eles gostam de chamar esse tipo de revide 'expor-se”. É também, como uma ex-namorada ou um ex-namorado, a maior parte do tempo, e o que eles fazem é publicar fotos nuas da pessoa ", disse Morgan, uma garota da oitava série que participou do estudo. "Eles estão compartilhando este material que deveria ser mantido privado entre duas pessoas, e realmente não deveria, primeiramente, ter acontecido, mas foi feito, e agora eles estão espalhando esses posts", conclui a pesquisadora.

Underwood explicou que um rompimento (amoroso, por exemplo) com 13 anos pode ser esmagador, mas combinar esses sentimentos com esse nova e maliciosa forma de revanche pode ser devastadora.

"Ter ainda mais medo que fotografias comprometedoras, fotografias íntimas, que estão à disposição para outros verem, somente piora a vergonha e humilhação," ela disse. "Quando eles estão feridos, quando eles estão furiosos...infelizmente, isso é justamente a munição perfeita."

Pais “amenizam efetivamente os efeitos negativos”

O projeto #Ser13 também estudou os pais dos adolescentes participantes da pesquisa. Quase todos os pais - 94% - subestimou a quantidade de embates que acontecem sobre a mídia social. Apesar desse entendimento, os pais que tentaram manter um olhar atento sobre as contas de mídia social de seus filhos tiveram um profundo efeito sobre o bem-estar psicológico da criança.

"O monitoramento dos pais efetivamente amenizou os efeitos negativos dos conflitos on-line", disse Faris.

Além de descobrir um número de posts e tendências que os pais podem achar alarmantes, o movimento #Ser13 também descobriu que a mídia social pode ter vários benefícios para crianças de 13 anos.

"É uma maneira para que eles se conectem com os amigos. É uma maneira para eles verem o que as pessoas estão fazendo. É uma maneira para que eles possam se afirmar, sentindo-se apoiados, para frente", disse Underwood. "Os jovens usam as mídias sociais para exercer a liderança positiva o tempo todo."

Ela advertiu, porém, "há comentários ocasionais dolorosos, o período de dor ocasional, ou uma experiência de exclusão que se agiganta para a maioria deles."

À parte eventuais comportamentos inadequados, exagerados e até psicóticos, as preocupações com eventuais efeitos negativos da mídia social deve ser qualificado pelo fato de que grande parte do conteúdo on-line observado pelos pesquisadores foi positivo. Os jovens adolescentes neste estudo revelaram que a mídia social os fez sentirem-se bem algumas vezes (40%), frequentemente (40%) e muito frequentemente (4%).  Os adultos que se preocupam com os adolescentes deveriam investir tempo e energia em socializá-los para o uso das mídias sociais para o bem, para encorajar e ajudar outros e até mesmo para exercitar uma liderança positiva.

Tradução: João Paulo Forni. Edição: João José Forni.

 

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