O New York Times tomou uma atitude radical, diante de mais um atentado em massa nos Estados Unidos. Pela primeira vez, desde 1920, publica um editorial na capa. O editorial, intitulado "The epidemic Gun", defende o controle de armas nos EUA, um tema frequentemente motivo de debates acirrados no meio político e acadêmico do país, e bastante controverso, em meio a uma onda "epidêmica" ou forte aumento dos fuzilamentos em massa ao longo dos últimos anos.
O principal jornal americano e um dos mais prestigiados do mundo, talvez o mais importante da mídia impressa atualmente, resolveu radicalizar contra o que considera uma "epidemia de armas".
Na peça, o conselho editorial do The Times escreve: "É um ultraje moral e uma desgraça nacional que civis possam legalmente comprar armas projetadas especificamente para matar pessoas com uma eficiente e brutal velocidade".
O editorial publicado neste sábado (4) vem dias depois que um casal cometeu um assassinato em massa em uma agência de serviços sociais em San Bernardino, Califórnia, matando 14 e ferindo outras 21 pessoas. Policiais disseram que eles estavam armados com quatro armas: duas pistolas semi-automáticas e dois fuzis calibre 223, os quais também foram comprados legalmente. E tinham um verdadeiro arsenal de munição, tanto no carro que usaram quanto no apartamento onde residiam. Os dois foram mortos pela polícia, após uma perseguição pelas ruas da cidade.
Os críticos batem de frente com legisladores dos EUA para uma série de falhas em como a questão vem sendo debatida, incluindo a falta de consenso sobre como limitar o acesso a certos tipos de armas. Além disso, o presidente Obama e a opinião pública contrária às armas sofre pesado lobby da NRA - National Rifle Association of America, uma poderosa associação de conservadores, que defende a liberdade total de comercialização de armas.
O protesto do jornal classfica algumas armas de fogo como "armas de guerra", e culpa a indústria de armas pelo marketing "como ferramentas de um vigilantismo macho e até mesmo insurreição."
O conselho editorial do New York Times lança em seguida uma reprimenda contundente aos políticos norte-americanos, que, em meio à comoção de cada atentado, com centenas de vítimas fatais, oferecem pensamentos e orações para as vítimas de violência armada, e, "em seguida, insensivelmente e sem medo de consequências, rejeitam as restrições mais básicas sobre o comércio das armas de extermínio em massa."
Apenas em 2015, houve cerca de 355 fuzilamentos em massa nos EUA – uma média de um tiroteio com vítimas fatais por dia. Uma estatística que envergonha o país e deixa a polícia e os serviços secretos em permanente vigilância. O New York Times acusa os legisladores de "distrair-nos com argumentos sobre a palavra terrorismo", e diz que fuzilamentos em massa "são todos, em suas próprias maneiras, atos de terrorismo." Perfeita a conclusão.
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