Duas informações que passam ao largo no meio da overdose de crise que ocupa as páginas dos jornais e os programas de TV, rádio, redes sociais, nos últimos dias, mostram que o esquema montado para saquear a Petrobras pode ser muito maior do que até agora sabemos e foi divulgado.
O Valor Econômico de hoje (3) informa, em reportagem de Murillo Camaroto, que um trabalho de auditoria feito pelo Tribunal de Contas da União (TCU) nos contratos firmados pela Diretoria de Abastecimento da Petrobras com empreiteiras envolvidas na Lava-Jato, identificou pelo menos R$ 8,8 bilhões em sobrepreço. 17% do valor total dos contratos assinados entre 2002 e 2015. (Atente-se para a data, início do mandato do PT no governo). Sabe quanto representa esse sobrepreço? Em contratos de R$ 52 bilhões (porque na Petrobras tudo é medido por R$ bilhões), o sobrepreço de R$ 8,8 bilhões representa 17%.
A maior parte desse sobrepreço – explicando, valor inflado no preço original do contrato – foram em contratos firmados com as empreiteiras Odebrecht (R$ 2,69 bilhões) e OAS (R$ 1,6 bilhão). Valores que podem encher o cofre de dezenas de diretores e gerentes que fechavam os olhos para esses desvios. Ou, admitindo como verdade o absurdo afirmado pelo ex-presidente Sérgio Gabrielli, no depoimento na CPI da Petrobras: esses desvios ocorreram porque "era impossível controlar a empresa"! Cabe perguntar. O que fazia, nesse caso, a Auditoria, os Conselhos de Administração e Fiscal da Petrobras que não detectaram esse sobrepreço de bilhões de reais?
Abismado? Então se prepare, porque não ficou aí. Os auditores do TCU “extrapolaram” a mesma fórmula para contratos firmados por todas as áreas da estatal com o cartel das mesmas empresas. Essa conta, diz o TCU, chega a um sobrepreço projetado de R$ 29 bilhões. Esse valor representa 35% do valor de mercado atual da Petrobras.
A Sete Brasil nasceu embalada pela propina
Nesta quinta-feira, na CPI do BNDES, o ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco, disse que o pagamento de propina nos contratos da Sete Brasil foi acertado ainda durante a concepção da empresa dentro da Petrobras. A Sete Brasil é uma empresa criada em 2011 para ser fornecedora de sondas para a Petrobras e outras empresas. É formada com capital da estatal e do BTG Pactual, Bradesco, Santander, Caixa Econômica Federal e dos fundos FII-FGTS, Previ, Funcef e Petros. Ela passa, atualmente, por dificuldades financeiras. Barusco foi gerente de Engenharia na Petrobras e diretor de Operações da Sete Brasil. Ele afirmou que a primeira licitação para a contratação de estaleiros, feita ainda no âmbito da Petrobras, já tinha a propina embutida nos acertos.
– Já vinha de lá. Primeira licitação foi conduzida pela própria Petrobras. Já vinha lá da primeira. Era um padrão, uma linha que tinha, de 1%, com algumas empreiteiras – afirmou Barusco. E a divisão era de 2/3 para o Partido dos Trabalhadores e 1/3 para algumas pessoas."
O ex-gerente deu a entender que, pela situação da empresa, após a deflagração da Operação Lava Jato, muito pouco dessa propina foi paga, porque a Sete Brasil não cumpriu o acordado, devido a problemas financeiros. Após as investigações que desencadearam a Operação Lava-Jato, a Sete Brasil lutou para ter liberado pelo BNDES um financiamento bilionário. Em crise, com a suspensão de encomendas da Petrobras, a empresa acabou gerando o fechamento de estaleiros e milhares de demissões no mercado de trabalho. Em setembro, negociações da Petrobras acertaram novas encomendas, o que viabilizaria a liberação do bilionário financiamento por um consórcio de bancos, com repasses do BNDES.
A impressão é que essa empresa foi criada num megaesquema já preparado para fraudar contratos e desviar recursos. O CEO da empresa, José Carlos Ferraz, que esteve no cargo quase quatro anos, foi demitido logo após o escândalo da Petrobras vir a público; em março deste ano, em carta dirigida à empresa, ele confessou ter recebido quase R$ 2 milhões em propinas. Em litígio com a Sete Brasil, a empresa busca na Justiça que ele devolva R$ 22 milhões, correspondentes à verbas rescisórias, propinas e bônus. Um imbróglio muito adequado ao enorme escândalo da Lava-Jato.
Se juntarmos essa denúncia que mostra as entranhas da Sete Brasil, com as descobertas dos sobrepreços aplicados nos contratos da Petrobras, pelo TCU, não é demais especular que o esquema montado para desviar recursos da estatal seria muito maior do que até agora apareceu.
Nesta quarta-feira foi divulgado o ranking das marcas brasileiras mais valorizadas, feito pela consultoria Interbrand. Itaú (R$ 24,5 bilhões) com crescimento de 13% em relação a 2014; Bradesco (R$ 16,2 bilhões) mais 7% e Skol (R$ 13,6 bilhões) mais 17%, seguem como as marcas mais valiosas do Brasil. Em ano de recessão econômica, 11 das 25 marcas do ranking perderam valor. A Petrobras foi a que registrou a maior queda, com redução de 39% na comparação com 2014. De R$ 6,7 bilhões ano passado, o valor da marca da @petrobras despencou este ano para R$ 4,1 bilhões.
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