dúvidasFrancisco Viana*

As entrevistas da senadora Marta Suplicy anunciando, à mídia, sua saída do PT constituem grande equívoco de comunicação. A cruzada do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, por outro lado, é um grande acerto. Por que?

Primeiro a senadora. Nas páginas de uma revista de circulação nacional, por exemplo, ela declara que “O PT traiu os brasileiros”- é o que diz o título- , referindo-se a um trecho em que Marta afirma: “O PT se distanciou dos seus princípios éticos, das suas bases e dos seus ideais. Dessa forma traiu milhões de eleitores e simpatizantes”. E complementa: “Eu sou mais um entre as pessoas que se decepcionaram com o PT e não enxergam a possibilidade de o partido retomar sua essência”.

Nos dias seguintes, com maior ou menor intensidade, voltou ao tema repetindo o mesmo posicionamento. Não fez outra coisa senão derrapar na via da sua escolha. Primeiro, ela dedicou ao partido 35 anos de sua longa vida. Foi deputada, prefeita de São Paulo, ministra do Turismo, da Cultura e, atualmente, cumpre mandato de senadora. Claro, não se trata de uma cidadã comum. Esteve sempre no epicentro dos acontecimentos, das decisões, desfrutava da confiança e da amizade do ex-presidente Inácio Lula da Silva. Integrou a equipe da presidente Dilma Rousseff. Tudo isso, implica em grande responsabilidade pela denunciada traição petista.

Em diferentes ocasiões, ela atribui o seu desligamento do partido a um “componente ético”  “muito forte”. Será que esse componente ético não deveria ter se manifestado muito antes, como por ocasião do escândalo do chamado  “mensalão” ou do “petrolão”? Por que ela não tomou a decisão de sair do PT antes das últimas eleições presidenciais? Enfim, se o componente ético era tão arrebatador porque a senadora não entregou também o seu mandato ao sair do partido? Mandatos pertencem aos partidos, não a indivíduos isoladamente.

Marta teria deixado o PT ou foi o PT que a deixou? Fica evidente, pelas próprias palavras da ex-petista que o partido a deixou antes. Tanto que não cogitou o seu nome para disputar o governo de São Paulo, nas eleições passada, e não a cogitaria nas eleições futuras para prefeitura. Na eleição para escolha do atual prefeito, também ela foi descartada. Como os fatos são teimosos e falam por si, fica evidente que a senadora perdeu espaço, o que não justificaria uma ruptura, sobretudo num momento dificílimo como o que o PT enfrenta.

Na contramão de Marta Suplicy caminha o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Histórico fundador do PSDB e seu principal expoente, tem peregrinado pelos veículos de Comunicação e dito, em alto e bom tom, ser contra o impedimento da presidente Dilma Rousseff. Enfrentou companheiros, remou contra a maré antipetista que se adensa por toda a parte. Destacou-se pela coragem de enfrentar seus contemporâneos e, mais ainda, bater de frente com o senso comum que parecia não aceitar divergência. FHC se impôs.

Agindo assim, tem honrado sua biografia. Em lugar de afundar ainda mais a nau petista, sai em defesa da legalidade e da continuidade do mandato da presidente eleita. À sua voz, juntou-se o senador José Serra e, juntos, FHC e Serra influenciaram o candidato derrotado a presidência, Aécio Neves, na direção do bom senso. Tanto que o PSDB recuou do pedido de impeachment e passou a entender que nada justifica, pelo menos no momento, tal atitude.

Não seria justo, nem ético, não seria democrático levando em conta que a eleição foi legítima. E que a democracia precisa superar dificuldades com mais democracia e não com jogos pequenos de poder. Diante desse quadro, até o momento da ruptura foi mal escolhido pela senadora. E logo ela que foi fundadora do partido, do que diz ter “muito orgulho” e sempre foi uma Imperatriz no jogo do poder.

Melhor seria, e essa é a lição da boa comunicação, que ela saísse discretamente de cena e se aposentasse da política. Sua carreira foi respeitável. Termina melancolicamente na penumbra de uma ruptura de evidente cunho personalista, com entrevistas carente de conteúdo, inexplicáveis para alguém que um dia simbolizou visão progressista da classe alta e medias do país. Cai o pano para a senadora, se acendem as luzes da ribalta para FHC. Sim, ele é hoje o senhor da governabilidade. O fiel do poder moderador.

*Jornalista, consultor e mestre em filosofia política (PUC-SP)

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