Francisco Viana*
Búzios, nesses dias de verão, combina com sonhos e os encantos do sol ardente. Mas, tomem cuidado: para conviver com a aparentemente paradisíaca cidade carioca, é indispensável usar um óculos de dupla lente. Uma, é a lente do prazer , da magia, da divina vontade de viver, e, com esta, se vê o que existe de belo – natureza exuberante, mar azul, gente bonita nas ruas. Uma festa permanente.
E outra lente para que serve? É a lente do esquecimento ou da não percepção. Búzios é um inferno, uma metáfora viva do Brasil abandonado. A gastronomia é frágil e os preços muito altos, as ruas estão tomadas de esgotos, falta calçadas, os barcos saem abarrotados de turistas sem que exista qualquer controle ou fiscalização quanto ao número de passageiros.
O paraíso fala a língua de pedra do despreparo para receber visitantes. Passei o fim do ano em Búzios. Quis reclamar quanto ao excesso de lotação do barco onde iria viajar, não consegui. Não havia nenhuma autoridade no cais e na polícia municipal o máximo que uma atendente ofereceu foi um formulário para preencher.
As praias estavam lotadíssimas e o atendimento estava longe de ser eficaz. Certo dia, caminhando pela rua das pedras vi a minha namorada desaparecer num bueiro. Estava com defeito. O chão cedeu e ela foi tragada pelo vazio. Felizmente, só sofreu pequenos arranhões na perna direita.
Tristeza total
Foi quando descobri que para viver Búzios era preciso esquecer que é uma cidade brasileira, à margem da civilização moderna. E se entregar ao sol. Foi o que fiz. Fica a pergunta, porém, que não quer calar: onde estão as autoridades que não resolvem os muitos problemas?
Todos com quem conversei reclamavam dos mesmos dramas, inclusive de infiltrações em pousadas. Por que tanto desprezo por um lugar que deveria ser referencia mundial? É triste ver que a cidade assiste imóvel ao desfile interminável de seus grandes vazios e vive apenas do cortejo dos seus dons naturais e das antigas glórias dos anos 60. O sol pode ser eterno, mas a tolerância dos visitantes, não. Eu não volto a Búzios. Não volto, nem recomendo.
*Comunicador e jornalista. Esteve de férias em Búzios durante a passagem de ano. Especial para Comunicação & Crise.