grevesA grande crise do Brasil de 2012 foi a seca no Nordeste, que continuará em 2013. Mas o ano foi marcado também pelas greves do serviço público e pela crise no atendimento das telefônicas. Mas ainda tivemos revoltas nos canteiros de obras das usinas; a eterna crise aérea e crianças e adolescentes, como principais vítimas do descaso e da incompetência de empresários e governos.

As labaredas de Belo Monte

A Usina Belo Monte ficou parada 57 dias em 2012;  dispensou e contratou milhares de operários, que revoltados puseram fogo nos acampamentos por duas vezes. No meio da Usina, muitas pedras: disputas trabalhistas com os operários, discussões ambientais, de cláusulas não cumpridas; direitos indígenas e o açodamento do governo para adiantar uma obra que desde o nascedouro até o vertedouro teve contestações.

Assim como em Belo Monte, a usina de Jirau também teve canteiros de obras incendiados. Milhares de operários paralisaram atividades nas usinas, durante o ano, sempre por conflitos trabalhistas. O clima com esses milhares de operários, vindos de todas as partes do país, é sempre tenso e explode a qualquer motivação.

Mas como as empreiteiras e o governo ficariam sem os bilhões que jorram das comportas dessas obras? 2012 acaba, mas os problemas das usinas feitas a toque de caixa não terminam. Cidades infladas por milhares de operários que representam sempre um estopim, pronto para explodir.  Os apagões em série que têm afetado o Brasil de norte a sul deve reforçar o discurso do governo de que as usinas precisam ficar prontas.

Edifício Liberdade: o desrespeito à vida

Em janeiro, 2012 começou com o desabamento, no Rio de Janeiro, do Edificio Liberdade de 25 andares, matando 22 pessoas e cinco desaparecidos. Síndico e mais seis pessoas foram indiciadas. Nas investigações, obras realizadas no prédio, sem licença, que comprometeram a estrutura. Desleixo e falta de respeito com a vida humana. O desabamento, além das vítimas fatais, acarretou prejuízos incalculáveis a todos que tinham empresas e escritórios no edifício.

País refém das greves no setor público

O país viveu em 2012 um dos períodos mais conturbados nas negociações trabalhistas com servidores públicos em greve. Dos bombeiros da Bahia,  aos professores das universidades, passando por Polícia Federal, Receita Federal, polícias civis, uma infinidade de órgãos públicos pelo Brasil afora. Estimativa da Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (Condsef) apontou que mais de 300 mil servidores entraram em greve no país.

Na administração federal direta, indireta, autárquica e fundacional, cerca de 40 setores aderiram ao movimento a partir da segunda quinzena de junho. As agências reguladoras suspenderam as atividades em julho. Já os servidores do Judiciário Federal e do Ministério Público da União (MPU) decidiram entrar em greve, por tempo indeterminado, apenas no início de agosto em vários estados.

O prejuízo das mais de 400 greves ocorridas no ano é incalculável. Jovens perderam empregos, concursos, porque não conseguiram diplomas. A violência na Bahia e em outros estados onde a polícia fez greve ceifou vidas, famílias ficaram de luto e isso não tem mais conserto. O governo federal e os estaduais foram lentos para negociar; deixaram os movimentos grevistas assumirem níveis de confronto; prometeram punir e depois cederam, na hora de negociar.

Professores e empregados das universidades federais, além de inúmeras outras categorias, ficaram mais de três meses parados e o contribuinte pagando os salários. Alguém devolveu alguma coisa? Esse foi outro “mico” que o governo federal pagou durante 2012.  Se aprendeu com os erros, lentidão, falta de pulso, só 2013 poderá dizer. Tem tudo para um repeteco...

Uma insegurança do tamanho de S. Paulo

Depois de comemorar a redução no número de homicídios nos últimos anos, S. Paulo bateu recordes de violência no segundo semestre deste ano, com a morte de quase 106 policiais até 20 de dezembro e o aumento estrondoso de ataques a civis desarmados, que redundaram em mortes violentas e inúmeros feridos graves. Em um mês (24/10 a 27/11) a grande S.Paulo registrou 132 homicídios.

A crise de segurança do Estado gerou uma sensação de insegurança. Bandidos incendiaram ônibus e atacavam civis e postos policiais, sem que a população percebesse uma ação contudente de repressão do estado. Em alguns fins de semana, a grande S. Paulo chegou a registrar quase 20 homicídios.

Apenas para comparar. A grande Londres – com cerca de 10 milhões de habitantes – registrou, no ano fiscal março 2011 a abril 2012, apenas 103 assassinatos, o menor índice em 43 anos, segundo relatório da Polícia Metropolitana de Londres. A prefeitura de Nova York acaba de anunciar 414 assassinatos na zona metropolitana da cidade, o menor número em 40 anos. Em 2011, foram 515 assassinatos.

A violência em S. Paulo dos últimos meses supera a de zonas de guerra, como Afeganistão e Iraque. Só a Síria e algumas cidades do México, acossadas pelo narcotráfico, conseguem ser piores do que a capital paulista. Essa é uma crise que o governo paulista não conseguiu debelar em 2012.

A eterna crise do setor aéreo brasileiro

Nas crises domésticas, como tem acontecido nos últimos anos, o setor aéreo é quase imbatível. Talvez só as telefônicas e o sistema de saúde consigam ser piores. Além do mico em que o governo se meteu com a primeira tentativa de privatizar os aeroportos de Brasília, Viracopos e Guarulhos, continuam problemas sérios de infraestrutura. Os aeroportos do Galeão e Santos Dumont, no fim do ano, em pleno verão de 40 graus do Rio de Janeiro, tiveram o sistema de ar refrigerado inoperante, além de apagões. A imagem dos aeroportos se deteriora na medida em que crescem as preocupações com a Copa do Mundo e as Olimpíadas que se aproximam. 

Problemas de infraestrutura, instalações precárias ou sujas, filas intermináveis, principalmente nos grandes aeroportos internacionais, como Guarulhos, atraso nas obras de reforma, como nos improvisados terminais de Vitória, Florianópolis, Goiânia e tantos outros. Enfim, um setor que está precisando ainda de um choque de gestão ou, quem sabe, uma implosão. E não será com uma privatização feita às pressas, com empresas sem experiência, ou com a criação de uma outra empresa - Infraero Serviços - que o Brasil resolverá essa crise perene.

Não bastasse a crise dos aeroportos, as cias. aéreas brasileiras passaram o ano voando na crise, apesar de o país estar com um movimento de primeiro mundo. Tam e Gol, as duas principais, tiveram prejuízos superiores a R$ 1 bilhão. A Gol comprou a Web Jet e logo em seguida a fechou, anunciando a demissão de quase mil empregados, decisão que a Justiça barrou, por enquanto. A Tam se juntou com a chilena Lan. No meio da crise, as denúncias de sempre: atrasos, desrespeito aos consumidores, preços exorbitantes nas trocas de bilhetes, cobrança de lanches, overbooking. Voar no Brasil deixou de ser um sonho, uma alegria. É um stress permanente. E o setor aéreo uma crise contínua para o consumidor brasileiro.

Hopi Hari e as mortes nos parques

Férias sempre representam um perigo para turistas e veranistas. Pela quantidade de pessoas e pelos riscos de certos divertimentos. Em fevereiro de 2012, a adolescente Gabriela Nichimura, 14 anos, utilizava o brinquedo Torre Eiffel, no Parque de diversões Hopi Hari, em Vinhedo, S.Paulo. Ela despencou de um elevador com 69,5m de altura (equivalente a um prédio de 23 andares), caindo no solo e morrendo quase instantaneamente.  A cadeira em que a adolescente sentou estava com defeito, sem um dos cintos de segurança, fato que passou despercebido por ela, por falta de um aviso do funcionário ou de placa na cadeira.

A direção do parque fez tudo errado nesse episódio. Começou pelo mais grave: não interditar uma cadeira, uma verdadeira armadilha para crianças. Após a queda, tentou minimizar o episódio, indicando para perícia uma cadeira diferente da defeituosa. Desmascarado pela própria mãe da vítima, que denunciou o fato em programa de televisão e mostrou a foto da filha na cadeira defeituosa, o parque demorou a se pronunciar.

Na época, divulgou três notas lacônicas nos dois dias que seguiram ao acidente e falava por meio do advogado.  O diretor-presidente da empresa foi aparecer num programa de televisão de uma emissora, uma semana após o episódio, quando o parque já estava condenado, sob tiroteio intenso da mídia e sob escrutínio da opinião pública. Pior, a direção informou à imprensa, antes da descoberta do engodo, que os brinquedos eram vistoriados diariamente e seria impossível a trava se abrir, insinuando uma possível culpa da vítima.

Em abril de 2012, o Ministério Público indiciou o presidente do parque e mais 10 pessoas pela morte da adolescente, reconhecendo uma sucessão de erros. O Parque reagiu ao indiciamento alegando que "o acidente foi uma fatalidade causada por uma série de falhas humanas, cuja responsabilidade individual está sendo apurada". Os pais reivindicam uma indenização de R$ 3 milhões.

O mau exemplo do Hopi Hari é o retrato do que aconteceu em vários parques de diversões pelo Brasil, onde jovens e crianças se acidentaram, algumas vítimas fatais. Falta fiscalização e falta respeito pela vida humana. Na hora da tragédia, todos se esquivam, culpando a “fatalidade” pelas mortes. Não existe “fatalidade”. Existem erros, um atrás do outro, que acabam levando vidas que ainda nem começaram.

Violência contra crianças

Como no exterior, as crianças no Brasil também tiveram um ano complicado. Não passou um mês sem que aparecessem notícias sobre acidentes com mortes de crianças em hospitais, colégios, creches, parques de diversões, ou atingidas por balas perdidas. Falamos daquelas decorrentes de erros dos profissionais e até mesmo dos pais.  Nos acidentes, sempre um descuido dos adultos que deveriam estar cuidando os indefesos.

O trânsito também ceifou a vida de muitas crianças, até porque muitos pais não colocam cadeirinha ou cinto de segurança nas crianças que viajam no banco traseiro. E no Brasil? Além da violência familiar, foi um ano em que até nos colégios, creches, parques temáticos e hospitais – lugares que deveriam preservar a vida e recuperá-la – as crianças não tiveram paz. Descuidos ou erros de empregados, professores, médicos não conseguiram proteger quem mais precisava de proteção. 

As vilãs do ano

Se há um setor que não pode se queixar de crises em 2012 é o das telefônicas. Apesar de o mercado brasileiro continuar aquecido, o apetite das empresas parece insaciável e por isso vivem enroladas com crises. O atendimento continua muito ruim. Tanto nas lojas, quanto por telefone, este muito pior. A Anatel resolveu endurecer com as telefônicas por causa de vendas acima da capacidade ou de não atendimento ao prometido aos clientes.

Algumas empresas chegaram a ter suspensa a venda de novos planos por vários dias.  Não bastasse tudo isso, os preços dos telefones continuam exorbitantes, quando comparados com outros países. As promoções devem sempre ser olhadas com lupa, porque quase sempre há uma armadilha por trás das ofertas. As telefônicas, junto com planos de saúde, cartões de crédito e bancos continuam liderando o ranking de reclamações dos Procons.  Só isso seria um motivo para viverem em crise.

Trânsito e saúde

O trânsito brasileiro continua a sina de ser um dos mais violentos do mundo. Nós conseguimos ter mais mortes no trânsito do que os EUA, com um terço a mais de população e com dois terços de carros acima da nossa frota. 40 mil pessoas perdem a vida no trânsito do Brasil por ano, uma verdadeira chacina. E não se vê nenhuma ação mais contundente, como, por exemplo, punições exemplares para quem mata, para o número ser reduzido em 2013.

A saúde brasileira também vive um calvário permanente. Talvez seja um dos setores onde existam mais crises, de atendimento, de espera, de desrespeito, de desvio de recursos. O símbolo dessa tragédia brasileira é o médico carioca que não compareceu ao plantão, durante as festas de fim de ano, apesar de sua alegação de ter alertado o superior sobre as faltas, e o resultado disso: uma menina veio a falecer alguns dias depois, após oito horas de espera para ser atendida, quando levou um tiro de bala perdida. Pobre Brasil como pretensões de ser país do primeiro mundo. Não adianta ser a sexta ou sétima economia do mundo. A nossa saúde, como a educação e o trânsito, continuam abaixo de países de médio porte e ainda estão no terceiro mundo.

Seca não é crise, mas vergonha nacional

A seca que assola o Nordeste, principalmente, a maior nos últimos 50 anos, é uma crise ou um atestado à inoperância dos governos brasileiros dos últimos anos? Como crise, teria que ser encarada de frente e buscada uma solução, algo que os nordestinos não percebem. Já passou da conta o número de governos que prometem projetos megalômanos, para resolver esse eterno flagelo. Mas tudo continua igual.

O governo Lula não ficou atrás. Empenhou-se na aprovação do controvertido projeto de Transposição das Águas do Rio S. Francisco.  Os ambientalistas cansaram de alertar que seria um perigo mexer com o rio da integração nacional. Passados os primeiros anos, as obras estão paradas e os agricultores sem água. Perderam milhares de cabeças de gado e toda a plantação. Os prejuízos são calculados em bilhões no Nordeste.

O efeito deletério dessa crise é a fuga para as cidades, a desmotivação de pequenos agricultores, que vivem e gostam de viver no interior. E problemas sérios de saúde, que acabarão desaguando no sistema único de saúde das cidades. O sofrimento da população, que sofre com a seca, passa meio ao largo das discussões sobre as bilionárias arenas para a Copa do Mundo e outras obras faraônicas que engolem os recursos nacionais e permitem apenas que as sobras amenizem o sofrimento do povo do sertão nordestino.

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