A retrospectiva das crises de 2012 começa pelo exterior. Alem dos atentados nos EUA, que massacram inocentes, Euro, CIA, BBC, violência no Oriente Médio e cruzeiros marítimos foram os grandes protagonistas. Sem falar nas crianças, vítimas inocentes das guerras e brigas políticas.
Foi um ano sem grande crises por desastres naturais, embora em alguns continentes inundações, terremotos, como no Irã e na Itália, tenham tomado dimensões de catástrofe.
Costa Concordia e a fuga do capitão
Uma verdadeira cidade flutuante. Com 4 mil passageiros e tripulantes. Janeiro de 2012 começou com o naufrágio do navio de cruzeiros Costa Concordia, após bater numa rocha por descuido do comandante Francesco Schettino. O capitão foi acusado de negligência por não estar no comando do navio, permitir que saísse da rota para fazer uma “gracinha” para um amigo, residente na Ilha de Giglio. Foi indiciado também por denúncia de sequer estar no comando do navio, no momento do acidente.
O naufrágio que causou 32 mortes, e, por pouco, não se transformou numa das maiores tragédias marítimas da história, mostrou falta de treinamento da tripulação, um comandante despreparado, que fugiu do navio antes que ele fosse totalmente evacuado. Os passageiros ficaram em sua maioria jogados à própria sorte, num resgate dramático durante a noite, nas águas geladas do Mediterrâneo. Foi um golpe na indústria de cruzeiros e prejuízos incalculáveis para a dona do navio, a Costa Cruzeiros. Ficou famosa a frase do comandante da Guarda Costeira italiana gritando para o capitão fujão voltar ao navio: “Vada a bordo Cazzo!”...
Veja mais detalhes em Tragédia do Costa Concordia expõe primárias de gestão de crises.
O massacre dos inocentes
2012 foi um ano para ser esquecido pelas crianças. Talvez nunca tantos inocentes tenham morrido em conflitos, atentados, tiroteios, de fome ou em acidentes, após a II Guerra Mundial, como em 2012. Na Síria, além da morte de dezenas de crianças nos bombardeios, muitas foram mortas pelas forças armadas do país e até degoladas e queimadas; além de denúncias de meninos torturados ou presos junto com adultos.
No Afeganistão, um soldado americano em surto matou dezenas de crianças e mulheres. O vídeo Kony 2012, que bombou na web, se, por um lado, mostra cenas antigas, não esconde uma triste realidade da África: meninos escravizados para a guerrilha, e meninas, para a prostituição ou venda como escravas brancas.
Nos Estados Unidos, além do atentado em um cinema no Colorado, de um maníaco vestido de Coringa, que matou 12 pessoas e feriu 38, e outros tantos pelo país durante o ano, o choque chegou no fim do ano. Um jovem de 20 anos invadiu a escola elementar Sandy Cook de Newtown, Connecticut, e abriu fogo contra crianças e funcionários. Morreram 20 crianças de cinco a dez anos, e seis adultos, alguns tentando defender as crianças.
O ataque suscitou uma discussão nos EUA sobre a política liberal de comprar armas, polêmica que coloca de um lado os pacifistas, contrários à liberação, e os que defendem o direito de os americanos possuir arma, segundo a 1ª. emenda da Constituição. O maníaco da escola assassinou a própria mãe e se suicidou depois do ataque. Ela colecionava armas e deu uma de presente para o jovem, quando tinha nove anos.
Segundo o Times, se você vive nos EUA, você tem quatro vezes mais chance de morrer assassinado do que no Reino Unido, quase seis vezes mais do que na Alemanha e 13 vezes mais do que no Japão. Dois terços dos homicídios, nos EUA, envolvem armas, enquanto no Reino Unido é apenas 10%. Mas os americanos não sabem o que fazer para impedir as 9 mil mortes que ocorreram no último ano.
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As vítimas inocentes da insensatez dos poderosos.
Bullying
Não bastassem os atentados e o efeito colateral das guerras, que fizeram milhares de vítimas inocentes, uma outra praga ataca nas escolas: o bullying, principalmente pelas redes sociais. Dezenas de suicídios ocorreram em 2012 com crianças e adolescentes, vítimas do bullying, sem que pais ou professores ficassem sabendo, em alguns casos, ou pudessem fazer alguma coisa. A educação está falhando nesse particular.
O caso mais dramático foi o suicídio de uma estudante canadense de 15 anos, que durante um ano foi perseguida por um maníaco na internet, após ter mostrado os seios nus na frente de uma câmera. Ela apelou para pedidos de socorro em cartazes mostrados no You Tube. Mas não conseguiu socorro.
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"O bullying não é importante para a escola, a menos que eu morra".
O crise do Euro e o desespero da Espanha
A União Europeia – por extensão toda a Europa - atravessou em 2012 um dos períodos mais agudos da crise econômica que assola o continente e o Euro, desde 2008. Governos continuam caindo, porque não conseguem se sustentar em meio à crise, pontuada por déficits, desemprego e incapacidade de os países crescerem em níveis suficientes para sair da crise. Espanha, Grécia e Portugal amargaram em 2012 desempregos recordes, superiores a 20%. A Itália não fica atrás: pequenos empresários, desesperados, recorrem ao suicídio.
Na Espanha, impossibilitada de cumprir as metas da Comissão Europeia, o governo está conformado de que crescimento só depois de 2014. Até lá, continua a crise imobiliária que explodiu numa bolha semelhante a dos americanos, de 2008. Suicídios de proprietários têm acontecido, após os bancos credores tomarem conta das residências não pagas. Para os bancos um péssimo negócio, porque ficam com o “mico” e não conseguem vendê-las. O preço dos imóveis caiu 15% este ano. O país está pior do que em janeiro: 26% de desemprego e déficit público de 91% do PIB. Pra completar, a Catalunha, região mais rica, quer a independência. A Espanha quer varrer 2012 dos livros de história.
No Reino Unido, país que nunca morreu de amores pelo Euro, mais de 50% da população quer sair da União Europeia, sentimento que contamina outros países. A Grécia quase saiu, mas está tão comprometida, com socorro financeiro da Uniao Europeia, que sair será pior para os que ficam do que para os gregos... Enquanto isso, o país vive um dos piores momentos de sua história, endividado, sem investimentos e com desemprego superior a 20%. Um caos total.
Bancos globais.
Bancos internacionais, como HSBC, JP Morgan, UBS, Barclays, Deutsche Bank e Citigroup foram flagrados em malfeitos pelos órgãos reguladores do Reino Unido e Estados Unidos. Muitos deles são suspeitos de lavagem de dinheiro para países hoje considerados “eixos do mal”, como Irã. Os grandes bancos precisaram fazer acordo com os órgãos reguladores dos EUA e Europa e terão de pagar multas de bilhões de dólares. E os lucros caíram.
Outro escândalo vindo à tona em 2012, em plena crise econômica, se relaciona com a Libor (London Interbank Offered Rate, a taxa de juros para operações entre os bancos) e o banco britânico Barclays. Eles teriam manipulado essa taxa, deixando mais vulnerável o sistema bancário, bem com levantando dúvidas sobre a seriedade na gestão da crise econômica na City de Londres e outros centros financeiros. Pelo menos sete bancos tiveram que se explicar às autoridades.
No UBS; um empregado que trabalha com investimentos no Reino Unido desviou US$ 2 bi. Na maioria deles, os CEOs também caíram. No Reino Unido, além do Barclays e do Standard Chartered, acusados de lavagem de dinheiro e envolvimento com a taxa da Libor, também se detectou falhas nas operações com com derivativos. Na Espanha, a crise econômica bateu direto nos bancos, pelo alto índice de inadimplência. Muitos estabelecimentos precisaram de aporte de recursos do governo. Alguns bancos anunciaram o fechamento de 700 sucursais na Espanha nos próximos meses e demissão de milhares de empregados.
Veja mais em Crises de reputação atingem bancos globais.
O arranhão no ícone britânico
A poderosa rede pública BBC, do Reino Unido, viu-se envolvida num mega escândalo em 2012. Denúncias começaram a aparecer, depois comprovadas, que um ex e famoso apresentador da rede, Jimmy Savile, humorista e show man conhecidíssimo, abusava de crianças e jovens em todos os anos em que trabalhou para a rede. O ex-apresentador, morto em 2008, foi dos mais famosos astros de TV britânica, nos últimos anos, e comandava programas infantis na BBC. Recebia convidados na TV e trabalhava como voluntário na comunidade.
Para a polícia britânica, entretanto, ele era um assediador sexual contumaz. Levantamento da polícia o acusa de ter abusado de pelo menos 300 mulheres, incluindo crianças e adolescentes, durante quatro décadas. O mais grave da denúncia são as suspeitas da polícia de que houve conivência de alguém, de dentro da BBC, para os escândalos ficarem abafados. A rede também cometeu um erro, ao não divulgar um programa em novembro, em que apareciam denúncias contra Saville. Toda a diretoria da rede caiu.
A investigação contra o famoso apresentador bateu no Reino Unido como um escândalo semelhante ao dos grampos do News of the World, em 2011. A polícia está se preparando para prender pessoas que trabalharam com Savile e possivelmente foram coniventes. A BBC também abriu três inquéritos e agora quer tudo esclarecido.
O escândalo, com dimensões ainda difíceis de avaliar, causou uma das piores crises da história da BBC, rede pública britânica, atingindo também a imagem dos atuais e ex-diretores.
Leia mais em Escândalo da BBC arranha ícone britânico.
Furacão Sandy e as lições de prevenção
O Furacão Sandy que atingiu a costa oeste americana, em novembro, traz bons exemplos de como a prevenção pode ajudar nos desastres naturais, ainda que não se consiga prever tudo que vai acontecer. Os serviços de meteorologia alertaram que seria um furacão muito intenso. Obama não quis repetir os mesmos erros de Bush, no Furacão Katrina, que atingiu Nova Orleães, em 2005, porque nos próximos dias teria a eleição americana.
Com todos os alertas, foram mais de 100 mortes. Mas poderia ser uma tragédia muito maior. 350 mil pessoas foram evacuadas das áreas de risco, o que certamente evitou casos fatais. Os prejuízos financeiros foram incalculáveis, porque a água invadiu grande parte da região praiana da costa oeste, inclusive Nova York. O metrô da cidade foi afetado e pela primeira vez alguns túneis que passam sob o rio foram inundados.
O Sandy provocou queda de energia, desabastecimento nos postos de combustíveis, alagamentos em várias ruas e praticamente desativou cidades, pois escolas, comércio e departamentos públicos não funcionaram nos dias em que a tempestade estava prevista. Lixo e entulhos nas ruas pareciam cenários de guerra. Algumas semanas depois da passagem do furacão, famílias ainda reclamavam de falta de assistência.
A maior lição dessa tragédia, válida para qualquer país, foi a significativa redução de danos devido à eficiente sintonia entre os órgãos governamentais de controle de catástrofes e da comunicação eficiente com a população. Ela foi exaustivamente avisada da gravidade da situação, dos riscos e da seriedade com que deviam admitir o furacão que se aproximava. Isso mobilizou meios de comunicação, serviços de emergência e voluntários. Todos preparados para o pior. O mais importante é que o poder público passou segurança à população, dando sinais de que tinha o controle.
Veja mais detalhes nos artigos:
Operação de guerra dos EUA para vencer o Sandy
Lições de crise do furacão Sandy
O próximo post abordará as crises brasileiras