crianca uganda sofrimentoInício de ano sempre chovem promessas do que vai acontecer. Governos e empresas prometem mundos e fundos. Os meses passam, a maioria das promessas não se cumpre.

É mais ou menos como o acomodado, que todo o início de ano planeja entrar na academia, estudar inglês e ler aqueles livros que dormitam na estante. Chega dezembro, alguns quilos a mais e nada aconteceu.

Um bom exercício para os últimos dias de dezembro é fazer uma lista do que não deu certo em 2012. Cada um pode fazer a própria lista. À parte os projetos pessoais, na média, dificilmente foge do que vai aí abaixo.

  • ONU – Organização das Nações Unidas – Passamos o ano ouvindo promessas e pitos da ONU nos ditadores, mais especificamente no da Síria, Bashar Assad. Começou lá por 2011, quando o país foi envolvido pela revolta popular, com repressão violenta do governo em cima da população civil. A ONU e as grandes potências, quase dois anos depois do início dos conflitos, não têm nada para mostrar de positivo. Em 21 meses, foram 44 mil mortes, sendo 30 mil civis, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos. O fracasso da ONU não se limita à Síria. Conflitos na África, sobretudo no Sudão, mostram como a entidade falha naquilo que é mais caro para as populações pobres e dependentes: garantir a segurança. O que se viu em 2012 foi apenas retórica, promessas. Não há o que se possa comemorar.
  • A pseudo-privatização dos aeroportos brasileiros. O Governo descobriu o “mico” que foi a primeira tentativa de privatizar os aeroportos de Brasília, Viracopos e Guarulhos. Depois de idas e vindas, optou por buscar parceiros com mais capacidade de administrar. O problema está em eles aceitarem o modelo de privatização ideal. Ao que se presume, o Governo ainda não encontrou. Quanto ao modelo utilizado, o mal já está feito. Brasília, Viracopos e Guarulhos irão sofrer agora as consequências de uma concessão apressada e de um processo açodado, que entregou de bandeja esses aeroportos para empresas sem experiência, que administram aeroportos pequenos, sem tradição, e terão imensas dificuldades para honrar os preços altíssimos oferecidos no leilão. Por isso, nenhuma empresa de porte do exterior entrou nessa fria. Embora a presidente só pense nisso, a privatização dos aeroportos brasileiros é dos projetos mais atrapalhados do governo, dos últimos anos. A ordem é fazer de qualquer jeito, não importa como vai acabar e quanto essa pressa irá custar no futuro para o país. No meio do caos, surge até mesmo uma outra estatal - Infraero Serviços. Para quê? Há sete anos o Brasil enfrentou o “apagão aéreo”, muito por culpa do próprio governo, que aparelhou a Anac e a Infraero. De lá para cá, os aeroportos continuam nas manchetes negativas e muitas obras foram paliativos. O governo continua batendo cabeça para saber como vai resolver esse imbróglio. O problema com o ar refrigerado do Aeroporto Santos Dumont, em pleno feriado do Natal, torrando os passageiros, é o símbolo desse caos em que se transformou a infraestrutura do transporte aéreo nacional. Nada mais elucidativo. 
  • O Daily, primeiro jornal do mundo exclusivamente para tablets. Foi fechado dia 15 de dezembro, porque não atraiu anunciantes e nem leitores (um depende do outro...). Rupert Murdoch, que não gosta de perder dinheiro, matou a experiência antes do prejuízo. O Daily não conseguiu atrair público suficiente para “tornar o modelo de negócios da publicação sustentável a longo prazo”.
  • Mídia impressa – Continua a agonia dos veículos impressos, principalmente nos países desenvolvidos. Nesta semana, um ícone do jornalismo, a revista Newsweek publica sua última edição impressa, em 80 anos. Edições agora só digitais. Na esteira da revista, vários jornais americanos e europeus também suspenderam a edição impressa. Outros irão cobrar pela edição eletrônica, seguindo o modelo de paywall do New York Times. No Brasil, morreu o Jornal da Tarde, o filho caçula do Estadão. Não há luz no fim desse túnel.
  • Seleção Brasileira – O Mano Menezes fez tantos experimentos com jogadores desconhecidos e não deu uma cara para a seleção. Ele era muito bom nas entrevistas, após ter feito Media Training, com aquela quantidade de adesivos de patrocinadores nas costas... Mas futebol mesmo, não tivemos. A seleção enganou o ano todo com adversários fracos, conseguindo vitórias pífias em amistosos inúteis; perdeu a medalha Olímpica e terminamos o ano sem time e caindo para o 18º lugar no ranking da FIFA, um dos piores desempenhos da história. É o que dá a CBF ficar inventando amistosos caça-níqueis para agradar os patrocinadores, forrar os bolsos de dinheiro e não ter uma comissão técnica permanente, séria, não sujeita a pressões por escalações de jogadores que os empresários adoram vender por preços inflados.
  • Produto Interno Bruto – Começamos o ano com o ministro da Fazenda anunciando um crescimento do PIB de 5%. Ao longo do ano, a cada entrevista ele diminuía o índice... 4,5%, 4%.. 3%... chegou a ser ridicularizado pelo Financial Times e reagiu de maneira desproporcional. Agora tem que aceitar a gozação do jornal, que durante o ano criticou a política econômica, o excesso de intervenção estatal na economia e o próprio ministro. Ao pedir a demissão de Mantega, o Financial Times lhe deu uma sobrevida. Dilma, contrariada o garantiu no cargo. O PIB do Brasil foi batizado de “Pibinho”. Pior para nós é que o jornal tinha razão. Em 20 de dezembro, o Banco Central anunciou a perspectiva de crescimento do PIB de 2012: 1%. Foi um dos maiores “micos” do ano.
  • Transposição do Rio São Francisco – Considerada pelo governo Lula uma das maiores obras do século, redenção do sertão nordestino, a obra está em grande parte parada por denúncias de corrupção, incompetência e desmandos. Enquanto isso, o Nordeste sofre uma das maiores secas da história. Governantes que prometeram acabar com a seca no Nordeste, com projetos megalômanos, já entraram para o folclore da política nacional. Os projetos sempre secaram junto com os rios e açudes. Euclides da Cunha tinha razão. N “Os Sertões”, a gente vê que pouca coisa mudou. Os políticos e coronéis ficam com as comissões do dinheiro público de obras miraculosas, que não acabam e não resolvem o problema da seca. Esse é um dos maiores “elefantes brancos” do país, junto com a interminável ferrovia Norte-Sul, da Valec. Logo logo eles terão companhia: outro projeto megalômano, fadado a consumir dinheiro e ter pouca utilidade: o famigerado Trem-Bala Rio-S.Paulo.
  • Segurança em São Paulo – Depois de comemorar a redução no número de homicídios nos últimos anos, S. Paulo bateu recordes de violência no segundo semestre deste ano, com a morte de quase 106 policiais até 20 de dezembro e o aumento estrondoso de ataques a civis desarmados, que redundaram em mortes violentas e inúmeros feridos graves. Em um mês (24/10 a 27/11) a grande S.Paulo registrou 132 homicídios. A grande Londres – com cerca de 10 milhões de habitantes – registrou, no ano fiscal março 2011 a abril 2012, apenas 103 assassinatos, o mernor índice em 43 anos, segundo relatório da Polícia Metropolitana de Londres. Em 11 meses, o estado de S.Paulo teve 4.644 assassinatos, aumento de 32% em relação a 2011. Na capital, o aumento foi de 50%. A violência dos últimos meses, em S. Paulo, supera a de zonas de guerra como Afeganistão e Iraque. Só a Síria e algumas cidades do México, acossadas pelo narcotráfico, conseguem ser piores do que a capital paulista.
  • Hospitais brasileiros – O número de mortes em hospitais por erros médicos, falta de cuidado e de atendimento assustou os brasileiros em 2012. Em Brasília, a morte do secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira e do menino Marcelo Dino Fonseca, de 13 anos, filho do presidente da Embratur, Flávio Dino, expôs problemas a que a classe menos favorecida está acostumada. No caso do Secretário, jogo de empurra para não atendê-lo, vítima de enfarte, por causa de burocracia em relação ao plano de saúde. A saúde não é prioridade dos hospitais de Brasília. No caso do menino, a morte veio em plena UTI, após ser internado no dia anterior, com um ataque de asma. Ao ter reação a um medicamento, faltou a presença do médico na hora em que mais necessitava. Ambos os casos estão na Justiça, mas são exemplos de como um país que pretende ser “desenvolvido” tem uma saúde de terceiro mundo. Os casos de Brasília se repetiram em várias cidades, com mortes por uma sucessão de erros médicos ou de auxiliares de enfermagem. São erros fatais, jamais passíveis de ser consertados, porque levaram pacientes à morte. As cenas mostradas na televisão, de macas improvisadas nos corredores dos hospitais, pacientes esperando cinco meses ou mais para uma cirurgia ou exames de laboratório, médicos tendo que decidir quem vai sobreviver, pela falta de aparelhos, chocam um país que está gastando R$ 23 bilhões para realizar uma Copa do Mundo. Enquanto faltam hospitais, leitos, aparelhos e médicos, constroem-se estádios ao preço de até R$ 1,2 bilhão. Muitos, para se transformarem em “elefantes brancos”, como acontece hoje com as obras do Pan-Americano, no Rio. Não muito diferente do que ocorreu com as das Olimpíadas, na Grécia.
  • Negociação com grevistas – O país viveu em 2012 um dos períodos mais conturbados nas negociações trabalhistas com servidores públicos em greve. Dos bombeiros da Bahia, aos professores das universidades, passando por Polícia Federal, Receita Federal, polícias civis, uma infinidade de órgãos públicos pelo Brasil afora. O prejuízo das mais de 400 greves ocorridas no ano é incalculável. Jovens perderam empregos, concursos, porque não conseguiram diplomas. A violência na Bahia e em outros estados onde a polícia fez greve ceifou vidas, famílias ficaram de luto e isso não tem mais conserto. O governo federal e os estaduais foram lentos para negociar; deixaram os movimentos grevistas assumirem níveis de confronto; prometeram punir e depois cederam, na hora de negociar. Professores e empregados das universidades federais, além de inúmeras outras categorias, ficaram mais de três meses parados e o contribuinte pagando os salários. Alguém devolveu alguma coisa? Esse foi outro “mico” que o governo federal pagou durante 2012. Se aprendeu com os erros, lentidão, falta de pulso, só 2013 poderá dizer. Tem tudo para um repeteco...
  • EuroEuropa e o Euro – A União Europeia – por extensão toda a Europa - atravessou em 2012 um dos períodos mais agudos da crise econômica que assola o continente e o Euro, desde 2008. Governos continuam caindo, porque não conseguem se sustentar em meio à crise, pontuada por déficits, desemprego e incapacidade de os países crescerem em níveis suficientes para sair da crise. A renúncia do Premier da Itália, dissolveu o Parlamento e levará a novas eleições. Espanha, Grécia e Portugal amargaram em 2012 desempregos recordes, superiores a 20%. Na Espanha, impossibilitada de cumprir as metas da Comissão Europeia, o governo está conformado de que crescimento só depois de 2014. Até lá, continua a crise imobiliária que explodiu numa bolha semelhante a dos americanos, de 2008. Suicídios de proprietários têm acontecido, após os bancos credores tomarem conta das residências não pagas. Para os bancos um péssimo negócio, porque ficam com o “mico” e não conseguem vendê-las. O preço dos imóveis caiu 15% este ano. O sistema bancário espanhol passa por uma crise sem precedentes. O governo interviu no Bankia, que continua em crise. O banco irá demitir 5 mil empregados por exigência da Comissão Europeia; a Iberia demitirá 4.500, para tentar a recuperação. O governo espanhol, que completa um ano, é a síntese da crise da Europa. O país está pior do que em janeiro: 26% de desemprego e déficit público de 91% do PIB. Para completar, a Catalunha, região mais rica, quer a independência. A Espanha quer varrer 2012 dos livros de história.
  • Proteção às crianças – Quem no mundo merece mais proteção? Aqueles que representam o futuro e são mais desprotegidos, as crianças. Mas os adultos não foram capazes de protegê-las em 2012. Talvez nunca tantas crianças tenham morrido em conflitos, atentados, tiroteios, de fome ou em acidentes, após a II Guerra Mundial, como neste ano. Na Síria, além da morte de dezenas de crianças nos bombardeios, muitas foram mortas pelas forças armadas do país e até degoladas, queimadas; além de denúncias de meninos torturados ou presos junto com adultos; no Afeganistão, um soldado americano em surto matou dezenas de crianças e mulheres; o vídeo Kony 2012, que bombou na web, em 2012, se mostra cenas antigas, não esconde uma realidade da África, escravatura de meninos, para a guerra, e meninas, para a prostituição. E no Brasil? Além da violência familiar, foi um ano em que até nos colégios, creches, parques temáticos e hospitais – lugares que deveriam preservar a vida e recuperá-la – as crianças não tiveram paz. Descuidos ou erros de empregados, professores, médicos não conseguiram proteger quem mais precisava de proteção.
  • Combate ao bullyingA nova praga da web fez muitas vítimas em 2012. Jovens, vítimas de bullying recorreram ao suicídio, porque não encontraram apoio para se livrar dessa covarde forma de atacar as pessoas, principalmente aqueles que enfrentam problemas com a discriminação por cor, opção sexual, peso, aparência física ou até mesmo pela própria timidez.
  • Bancos globais – Uma onda de malfeitos levou de roldão bancos multinacionais bastante conhecidos: HSBC, JP Morgan, UBS, Barclays, Deutsche Bank, Citigroup, além do brasileiro BVA, que sofreu intervenção. Os grandes bancos precisaram fazer acordo com os órgãos reguladores dos EUA e Europa e terão de pagar multas de bilhões de dólares.
  • Combate ao crack – Epidemia de consumo de crack toma conta do país. E não é só no Rio e S.Paulo, que aparecem na televisão. Em cidades do interior, prefeitos não sabem o que fazer para reprimir ou ajudar os jovens viciados. Na campanha eleitoral para presidente, diante das críticas da oposição, como sempre acontece, o governo lançou um programa de combate ao vício. Ficou só na campanha. Em S. Paulo e no Rio, combates pontuais fizeram o óbvio: retiraram os viciados das vistas do público, das chamadas “cracolândias”. Mas isso resolveu o problema? Não, apenas empurrou a poeira para baixo do tapete. Estudo feito pelo Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Drogas mostrou que dos 178 ocupantes da região da cracolândia de SP, 17 tinham curso superior completo e 24 estavam matriculados na Faculdade. Há um longo trabalho nessa guerra perdida em 2012. Se o poder público não fizer algo urgente, o Brasil ficará refém do crack.
  • A Argentina de Cristina. Chores por mim Argentina. Um país na lista dos “desenvolvidos” da América do Sul na década de 50, vive seu ocaso com uma presidente populista e incapaz de esconder as mazelas do país. Com uma equipe que mais pensa em enriquecer, do que governar, a presidente do país vizinho só faz bobagem. Depois de brigar com os fazendeiros, conseguiu reeleger-se na base do populismo. E em 2012 extrapolou. Resolveu atacar a mídia, os turistas, impedindo até compra de moeda estrangeira, e os empresários. Atrapalhou as exportações do Brasil. Inflação alta, baixo crescimento e desemprego aumentam o número de pobres no país. Semana passada começou uma onda de saques em Bariloche e outras cidades. Ninguém sabe onde isso irá parar. A aprovação de Cristina caiu para 30% e o panelaço voltou à Argentina. Uma crise atrás da outra traz pelo menos a perspectiva de que a geração Kirchner está com os dias contados.
  • Trânsito brasileiro – Apesar das campanhas, de aperto na Lei Seca, continuamos derrubando um Boieng por dia, com mais de 100 pessoas mortas nas cidades e estradas do Brasil. É a matança no trânsito que teima em ceifar vidas, principalmente de jovens, e deixar milhares de feridos, alguns incapacitados para sempre. Atribui-se essa tragédia ao abuso da velocidade e do uso do álcool, à falta de fiscalização mais rigorosa, à impunidade dos envolvidos; e, em menor grau, ao estado de nossas estradas. São mais de 40 mil mortos em média todos os anos, o triplo dos Estados Unidos, país com muito mais veículos e população de 300 milhões de habitantes.

 

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