Novo ano, velhos escândalos. Nem bem o ano começou, a mídia brasileira (sempre ela) não perdeu tempo. Denunciou favorecimentos na distribuição de verbas para minimizar os efeitos das enchentes, envolvendo o ministro da Integração Nacional. A guerra do trânsito continuou a matar, pilotada por motoristas alcoolizados, sempre impunes, fruto de uma legislação branda e de uma fiscalização deficiente.
Novos deslizamentos e enchentes no Rio de Janeiro e Minas Gerais mostram a inoperância do poder público para evitar catástrofes, embora no Rio algumas providências tenham funcionado, evitando um cenário pior. Isso mostra que mecanismos de prevenção podem pelo menos minimizar as crises.
Mesmo assim, boa parte das promessas, após a tragédia ocorrida na região serrana, do Rio, em 2011, não foram cumpridas. De R$ 1,1 bilhão anunciados em investimentos pelos governos federal e estadual, para recuperação das cidades atingidas pelas chuvas e deslizamentos, apenas 23,8% foram aplicados. Das 6 mil casas prometidas pelo governo federal, nenhuma foi construída. Em Minas Gerais, do mesmo modo, obras prometidas para minimizar o efeito das chuvas de verão, ficaram só no papel.
Recursos que deveriam ser distribuídos por critérios técnicos, se transformaram em moeda política. Em 2009, quem levou o presente foi a Bahia, patrocinada por um ministro-candidato baiano. Em 2011, o beneficiado foi Pernambuco, base política do ministro Fernando Bezerra. Ministros fazem a festa com o dinheiro público, mas quem sofre são os desabrigados. Não há crise que resista a tamanha falta de compromisso.
A maior crise brasileira, portanto, é o descalabro com os recursos públicos. O Brasil, que assistiu à queda de seis ministros em 2011 por acusações que vão do tráfico de influência a consultorias milionárias, não merecia começar 2012 com mais um escândalo. Entretanto, as notícias sobre o uso de recursos públicos para beneficiar a própria família coloca Fernando Bezerra pelo menos na fila da próxima troca de ministro na Esplanada. Mantê-lo no cargo, com a rede familiar montada pelo ministro, que vai do tio ao filho, é dar carta de alforria para o uso de cargos públicos em benefício próprio. O pior nessa novela pernambucana são os frágeis argumentos de defesa do ministro. Assim, não há como o país possa se livrar da crise.
No balanço divulgado semana passada, a Controladoria-Geral da União (CGU) informou a demissão de 564 funcionários públicos em 2011, a maioria por usar o cargo para obter vantagens. 200 foram afastados por imbrobidade administrativa e 40 por receber propina, a maioria expulsos da administração pública.
Dependendo da leitura, pode ser uma boa ou má notícia. Corrupção e uso indevido do cargo existem em todos os lugares. No Brasil, a diferença é o resultado dessas demissões. Dos recursos desviados, apenas 2% são ressarcidos. Uma mostra de que não basta demitir. É preciso mudar e aperfeiçoar a lei para minimizar o prejuízo ao erário.
Crise econômica
O cenário de 2012 não é otimista. A Europa enfrenta a maior crise da história, depois da II Guerra Mundial. Analistas econômicos vaticinam que a crise continuará a destruir milhares de empregos em 2012, conforme divulga o jornal espanhol El País.
Só na Espanha, um em cada cinco espanhóis não tem possibilidade de emprego e mais 400 mil vagas serão perdidas. O país estará em recessão em 2012, junto com outras economias consideradas fracas, como Portugal, Irlanda, Grécia e Hungria.
Quem vai sofrer também é o setor financeiro. Calcula-se em 100 mil o número de vagas que serão cortadas nos bancos e corretoras globais na Europa e Estados Unidos. Mas a América Latina, inclusive o Brasil, também sofrerão a consequências dessa crise. Para se ter uma ideia do tamanho do buraco, nos Estados Unidos foram cortados cerca de 60 mil empregos no setor financeiro em 2011, três vezes mais do que em 2010. As bolsas de valores afundaram investidores e empregos do setor.
No Brasil, onde o cenário parece menos assustador, a inflação já mostra suas garras. Os preços no Brasil, da alimentação à escola, passando por remédios, saúde, transportes, para falar apenas nas demandas mais necessárias, estão em níveis de primeiro mundo. Estrangeiros que chegam ao país, principalmente a São Paulo e Rio de Janeiro, se assustam com os preços cobrados no Brasil para habitação e alimentação.
O resultado disso é que, apesar do cenário luminoso pregado pelo governo e área econômica, e da demanda ainda aquecida de empregos, o freio no crescimento industrial e o cenário nebuloso do exterior, principalmente Europa e Estados Unidos, fazem todos os segmentos da economia se retrair.
Outro dado preocupante divulgado no fim do ano se refere ao endividamento. De cada 10 brasileiros, 6,5 estão endividados no cartão de crédito, o pior credor para alguém se pendurar, porque cobram encargos financeiros mais elevados. A maioria dos devedores são jovens, diz a pesquisa. O cartão de crédito é como um pântano. Quem financia e não paga à vista, dificilmente consegue se safar incólume.
Como minimizar as crises em 2012
Diante do cenário de recrudescimento da crise no exterior, com reflexos no Brasil, e das crises de reputação que teimam em atrapalhar a governabilidade em nosso país, aqui vão algumas premissas para serem seguidas por governos, autoridades, empresários e servidores públicos.
- Transparência. A maioria das denúncias de ilícitos envolvendo os governos, autoridades ou empresas tem partido da imprensa. A falta de transparência e de mecanismos modernos de fiscalização facilitam a ação dos meliantes instalados nos órgãos públicos, porque isso dá ideia de impunidade. Transparência também combina com credibilidade. É preciso criar na opinião pública a sensação de que existe um compromisso com a transparência.
- Rapidez. Os governos, em geral, e as empresas burocráticas, mesmo privadas, são lentos em adotar providências e punir nas crises. Crise não combina com lentidão. A burocracia facilita a crise e emperra o processo de resposta. Muitas vezes as organizações ficam esperando a próxima notícia para tomar uma decisão de explicar a crise. Errado.
- Porta-voz. Crises de reputação exigem ação rápida e porta-vozes preparados. Não adianta mandar advogados, com discurso formatado, para explicar a crise na mídia. Ninguém acredita nesses porta-vozes. A população não crê em porta-vozes pouco transparentes e que vão à mídia para enrolar, não para explicar. Uma boa e convincente explicação minimiza a crise. O governo tem o costume de, no início, minimizar todas as crises. Quando se agrava, recua. A melhor forma de ter porta-vozes preparados é treiná-los num bom curso de Media Training. Entrevistas coletivas devem ser encaradas, nas crises, com bastante reserva e critério. Nem sempre a coletiva é a solução para seu problema.
- Mensagens-chave. Press-release ou Nota explicando a crise pode ser uma forma correta, mas a informação precisa ser consistente. Quando a nota é esclarecedora e divulgada com rapidez, minimiza ou acaba a crise. Não adiantam matérias pagas ou notas inconsistentes e frágeis. A versão da crise cai antes de ser publicada. As mensagens sobre a crise devem responder às principais dúvidas dos stakeholders.
- Plano de gestão de crises. A melhor forma de evitar a crise é preveni-la. Um plano simples pode facilitar o processo de gestão. Não é difícil fazer um plano de gestão de crises. É preciso conhecer as vulnerabilidades e simular a crise e os mecanismos de informação. Considerar todos os cenários, mas sempre do pior para o melhor. O gerenciamento do risco é hoje uma competência mais importante do que a própria gestão da crise.
- Público. Com quem eu devo me comunicar? Esta é a pergunta fundamental num processo de gestão de crises. Se eu não conheço meu público, dificilmente me comunicarei bem. As crises não comportam meias palavras. Ou a explicação convence ou a brecha deixará a crise em aberto. Como o cliente pode acessá-lo? Se a organização não facilita o acesso de seus públicos, eles não têm por que acreditar nessa organização.
- Credibilidade. Durante a crise não é o melhor momento para buscar credibilidade. Ela deve ser plantada antes, num bom relacionamento com a mídia e no respeito aos consumidores ou contribuintes. Uma organização com credibilidade tem mais chances de se sair bem numa crise.