atentado_escolasNa semana passada, o campus do Instituto Politécnico e Universidade Estadual de Virginia – Virginia Tech, nos Estados Unidos, levou outro susto. Um atirador trouxe de volta o pesadelo ocorrido em 2007, quando um aluno, franco-atirador, matou 32 pessoas e depois se suicidou.

Este foi o mais violento ataque a uma universidade ocorrido nos EUA, país que concentra 70% dos atentados desse tipo, no mundo. Em 1999, outro atentado ocorreu no Instituto Columbine, no Colorado, EUA. O ataque foi perpetrado por dois ex-alunos. Resultou em 15 mortes, incluindo os dois alunos. O atentado foi amplamente divulgado pelo filme Tiros em Columbine, de 2002, produzido pelo controvertido diretor Michael Moore.

Desta feita, em Virgínia, duas pessoas morreram, quando um homem de 22 anos matou um policial e, logo após, se suicidou. A tentativa traz de volta o fantasma que, nos últimos anos, tem assombrado escolas e universidades, não apenas americanas. Maníacos, principalmente em campus universitário, têm aparecido em outros países, como Alemanha, Finlândia, Canadá, Japão, Bélgica, Noruega e China. 

Outro atentado envolvendo escola e crianças, que chocou o mundo, ocorreu em Beslan, na Ossétia do Norte, Rússia, em 2004, quando um grupo de terroristas da Chechênia invadiu uma escola e no confronto com o exército e a polícia russa resolveram sacrificar os alunos em represália. Na tentativa de fuga, morreram 330 pessoas entre crianças e professores. Esse atentado, pela natureza, pode-se considerar uma exceção. 

Na estatística internacional, que analisa esse tipo de atentado, deixam de ser considerados os ocorridos em lugares onde existem guerras ou disputas políticas, marcadas pela violência. Isso inclui Afeganistão, Tailândia, Índia, Paquistão e a Faixa de Gaza. Neste caso, o ataque a uma escola administrada pela ONU em 6 de janeiro de 2009, por militares de Israel,  com 40 vítimas fatais, teve o repúdio unânime do mundo. Chocou pela violência contra crianças e civis desarmados. Terroristas, principalmente, têm uma predileção especial por ataques a escolas, porque são atos que chocam e recebem ampla cobertura da imprensa internacional.

Escolas ignoram gestão de crises

Crises desse tipo são apenas parte do que pode acontecer de negativo nas escolas, tanto de nível elementar, quanto universidades. A violência escolar é hoje, principalmente no Brasil, um dos maiores problemas enfrentados pelas, autoridades públicas, polícia, professores e alunos. Greves, acidentes, invasões, protestos, agressões a professores e entre os próprios alunos, contaminação da água ou alimentos, afogamentos, somados ao bullying, se constituem parte das crises graves que têm atingido o ambientes escolar nos últimos anos. 

Pesquisa recente feita com escolas e universidades americanas mostra que a maioria delas nunca testou seus planos de gerenciamento de crises. Os planos até existem. Empresas especializadas dão consultoria e se especializaram em crises ligadas diretamente às escolas. Estas começaram a desenvolver competências para gerenciar crises de qualquer tipo e até departamentos que transformaram o Gerenciamento de crises em parte do processo de gestão da universidade, como também em área de estudos, como é o caso da LSU – Louisiana State University. 

De acordo com post, publicado no Blog do especialista Jonathan Bernstein, o resultado da pesquisa mostra que 54% das instituições haviam testado seus planos de resposta à crise; 23% nunca testaram os planos. O maior obstáculo para executar os testes, de acordo com a pesquisa, foram tempo (67%), participação (43%), orçamento (43%) e extensão da segurança do campus (36%). Ou seja, ter um plano não é suficiente. É preciso saber se ele funciona. 

A pesquisa também constatou que 51% das escolas tiveram uma crise nos seus campus nos últimos dois anos. E, mais grave, um terço dos respondentes responderam ter baixa ou nenhuma confiança na habilidade de suas instituições executarem o plano num evento de alguma emergência. Somente um quinto dos respondentes disseram que seus campus têm encontros anuais para brifar pessoas relevantes num plano de resposta à crise. 

No Brasil, após o violento atentado cometido por um ex-aluno contra a Escola Tasso da Silveira, no Bairro do Realengo, Rio de Janeiro, em abril, que redundou na morte de 12 alunos, autoridades, professores, Congresso Nacional, todos começaram a discutir e a planejar ações preventivas. Pelo menos durante uma semana a violência nas escolas pautou a mídia e Congresso. Mas, como sempre acontece no país, diante da comoção gerada por eventos dessa natureza, esfriado o fato, ninguém mais ouve falar dos projetos e sequer os conhece.

Oito meses depois do atentado, não há qualquer ação concreta para prevenir e evitar crises desse tipo ou equivalentes em escolas brasileiras. E nem há uma tradição de gerenciamento de crises em escolas. As universidades federais foram alvo neste ano de inúmeras invasões, greves prolongadas, desvios de verba e crises de outra natureza. Nenhuma delas mostrou competência e treinamento para resolver a crise de maneira pacífica e rápida. Ou seja, a universidade que prepara gestores para o futuro mostra-se incompetente para gerenciar a própria crise. Como ensinar, então? 

A USP, por exemplo, enfrentou recentemente uma crise que poderia se tornar grave. Pediu policiamento ostensivo para dentro do campus e enfrentou a revolta de uma minoria de alunos, que invadiu a Reitoria e fez muito barulho por nada. Sequer os colegas apoiavam os invasores. As escolas acabam refém de grupos de interesse que reivindicam desde salários até o direito, se essa é a palavra certa, de fumar maconha no campus, sem ser incomodados pela polícia. Quando a autoridade faz valer o seu direito, alunos e professores se transformam em “vítimas”, de preferência em atos midiáticos, e fazem paralisação para protestar. Um pernicioso círculo vicioso em que a principal vítima é a educação.

A violência nas escolas públicas, principalmente, contra professores e entre os próprios alunos tem desestimulado a carreira de professor e até mesmo a de muitos alunos continuarem os estudos. Não há por parte das autoridades brasileiras qualquer programa educativo - o que chega a ser uma terrível ironia - para estimular o respeito ao professor e à escola, imprescindíveis para o país almejar um grau de desenvolvimento equivalente ao dos países do primeiro mundo. Existem, portanto, duas crises na escola brasileira. A crise do ensino, que está no nível da pedagogia, principalmente pelo despreparo dos professores. E outras crises que rondam as escolas, para as quais diretores e professores mostram-se despreparados.   

Segundo o especialista Jonathan Bernstein, “Teste e simulação de crises são ferramentas essenciais para tanto preparar suas equipe para resposta à crise quanto para encontrar ou evitar falhas nos seus planos. Com tantos fatores ocorrendo nos campus, não seguir esse caminho há grande risco de que sua escola possa ter resultados catastróficos”, de uma hora para outra.

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