Há quase um mês consumidores e lojistas do shopping Center Norte, em S. Paulo, vivem uma situação surreal. Literalmente postados em cima de um depósito de gás metano, o shopping foi apontado como área de risco pela Prefeitura de S. Paulo.
No fim de setembro, a prefeitura deu um prazo de 72 horas para o fechamento, caso a direção não apresentasse um plano consistente para reduzir o risco de explosão.
Segundo a Cetesb (agência ambiental), a medida foi tomada por precaução, porque havia risco no local. A entidade vem alertando o shopping sobre o problema desde 2004. Ele foi construído em 1984, sobre um antigo lixão que operava em uma área de brejo nas margens do rio Tietê. O depósito de lixo, desativado em 1975, começou a ser aterrado com os restos de construções implodidas em S. Paulo e escavações do metrô. O Center Norte recebe em média de 100 a 120 mil pessoas por dia, em 300 lojas e oito salas de cinema.
A direção do shopping reagiu com nota, em que contestava a interdição e informava ter tomado “as medidas legais e administrativas” para evitar a interdição do local. No dia seguinte, conseguiu uma liminar e abriu as portas normalmente. Mas um juiz logo cassou a liminar. O shopping na semana anterior havia assumido compromisso com o Ministério Público para instalar nove drenos, em 20 dias.
Fechado no dia 5 de outubro, quando não havia mais recursos, lojistas e empregados foram surpreendidos quando chegaram ao trabalho. A interdição foi marcada por desinformação tanto para os empregados quanto para a imprensa. Os jornalistas que se aglomeraram no local reclamaram não haver nenhum porta-voz que os orientasse. Os funcionários, perdidos, chegavam ao trabalho e se deparavam com o shopping interditado e repleto de policiais da Guarda Civil Metropolitana (GCM) nos acessos ao estabelecimento.
De acordo com a reportagem da rádio Estadão-ESPN, no dia da interdição – uma possibilidade real, porque a Prefeitura havia recorrido à Justiça - não havia ninguém do setor de comunicação do Center Norte para atender à imprensa. A responsável pela assessoria de imprensa do shopping chegou ao empreendimento por volta das 10h e, segundo a equipe, não ofereceu nenhuma orientação. Ou seja diante de uma crise grave faltou, portanto, um eficiente sistema de comunicação da direção do shopping e da prefeitura, para evitar os transtornos e até mesmo amenizar a crise decorrente do fechamento.
Mas por que, de uma hora para a outra, a Prefeitura resolveu interditar o shopping?
Alerta antigo e soluções proteladas
Segundo a Folha de S.Paulo, o shopping Center Norte demorou quase seis anos para providenciar um plano de intervenção para amenizar o risco decorrente do vazamento de gás metano. Quando ele ficou pronto, não o implantou. Depois de ser questionado, em 2004, para fazer uma investigação detalhada sobre o gás metano, a direção do shopping só em 2007 (três anos depois) decidiu questionar a Cetesb se a responsabilidade era dele ou da prefeitura, que colocou lixo naquela área.
A Cetesb também foi lenta na resposta, que chegou um ano depois. Em 2009, após levar a primeira multa pelas irregularidades, o Shopping contratou uma empresa para contornar o problema. Ainda segundo a Folha, a investigação, concluída pela empresa contratada em dezembro de 2010, apontava o risco de incêndio em diversas partes do shopping e trazia um plano de ação, nunca implantado. Por isso, soa hilária, para não dizer ridícula, a afirmação na nota divulgada em 7 de outubro pelo shopping: “O trabalho complexo realizado pelo Shopping foi concluído em prazo inferior ao determinado pelas autoridades”. Ou seja, a direção do Shopping nem poderia alegar surpresa, com as medidas da prefeitura. Eles sabiam do risco, há pelo menos sete anos, e fizeram de conta que não havia nada.
A empresária Yara Baumgart, da família proprietária do Shopping, disse à imprensa que a Cetesb só endureceu com eles, após o shopping ter rompido contrato com a empresa Tecnohidro, indicada pela Cetesb. O órgão ambiental negou relação entre uma coisa e outra e prometeu acionar a empresária na Justiça. Enquanto isso, a empresária seguiu o ritual de culpar a imprensa nas crises, por ter dado destaque ao fechamento do shopping: “Então, ou é a crise da Grécia ou o shopping”.
No meio de todo esse imbróglio, sobrou para os lojistas. A simples notícia do risco no shopping afastou consumidores. Eles calcularam em 20% a queda no movimento, nos primeiros dias. Em algumas lojas, os comerciantes alegam uma queda maior: 90% do movimento. Ou seja, não bastasse a insegurança e o risco, outro efeito perverso dessa crise foi econômico: queda nas vendas e até desemprego. Mas mesmo com esses percalços, os concessionários não acreditam no risco apontado pela Prefeitura. Julgam que foi exagero.
A atuação confusa dos órgãos públicos envolvidos no imbróglio do Center Norte, mais as evasivas e atraso do shopping em apresentar uma solução, contribuíram para agravar a crise. Esse caso é típico de organizações que conseguem piorar o que já estava ruim, por erro ou omissão na gestão. O shopping havia sido notificado e protelou uma solução. Preferiu correr o risco, ante a ameaça de uma explosão, do que ser transparente e honesto com as 120 mil pessoas que transitam diariamente pelo local. Ele chegou a afirmar, em comunicado do dia 20/09 “O gás metano não é tóxico e, portanto, não oferece risco à saúde”. Sob esse prisma, dinamite, nitroglicerina também não são tóxicos, e não oferecem risco à saúde, desde que longe de você.
Certamente, se a prefeitura de SP e o Ministério Público não tivessem dado um aperto, nem os dutos provisórios teriam sido instalados. No episódio, o shopping perdeu um ativo essencial na gestão de crises: credibilidade.
Nelson de Sá, comentando o imbróglio do Center Norte na Folha, lembrou que, a exemplo da PepsiCo, na crise do Toddynho, faltou um “rosto” para explicar essa crise. A fria nota divulgada, após dias de confusão, não serviu para esclarecer e muito menos tranquilizar lojistas, empregados, fornecedores e frequentadores do shopping. "Tão falando que a gente corre risco de vida, mas e o nosso trabalho? Eu tenho 16 anos e já ajudo em casa”, disse um empregado. As organizações esquecem que a crise, pela dimensão atual, não é problema só da empresa ou do governo, em particular. As crises são sempre eventos comunitários, que atingem e prejudicam uma parcela da sociedade.
E mais: 20 dias de confusão não foram suficientes para resolver essa crise. Ela apenas foi protelada. Diante das seguidas evasivas no episódio, da falta de transparência dos administradores, da lentidão e confusão da Cetesb e Prefeitura na fiscalização, além da falta de credibilidade dos gestores do shopping, entre os que trabalham e transitam pelo local, continua a incerteza: os dutos improvisados seriam suficientes para conter o gás vindo das profundezas do solo ou eles continuam em cima de uma panela de pressão, prestes a explodir a qualquer momento?
Comunicados à imprensa divulgados pelo Center Norte a partir da crise
Nota do dia 20/09/11
Nota de Esclarecimento em virtude dos fatos noticiados pela imprensa
Em virtude dos fatos noticiados pela imprensa, referentes às condições ambientais em sua área, o Shopping Center Norte, em respeito aos clientes, colaboradores, lojistas e ao público em geral vem informar o que se segue:
1- O gás metano não é tóxico e, portanto, não oferece risco à saúde.
2 - O Shopping Center Norte foi inaugurado há 27 anos sendo que jamais foi registrado qualquer incidente associado a tal condição ambiental. Importante ressaltar que esta área já não recebe mais quaisquer resíduos há mais de 37 anos.
3 - O Shopping Center Norte, em conjunto com empresa especializada em Engenharia Ambiental, já instalou sistema de remediação, que se encontra atualmente em operação e tem se mostrado efetivo no controle de intrusão do metano. Sistemas similares estão sendo instalados em outras áreas do Shopping.
4 - De acordo com o plano de monitoramento já em andamento e apresentado à CETESB, as medições diárias que estão sendo realizadas nas dependências do Shopping Center Norte indicam a ausência de gás metano no interior do edifício.
5 - Atendendo as determinações da CETESB, que também acompanhará diariamente a execução desses trabalhos, o Shopping Center Norte com sua equipe de especialistas está ampliando os estudos ambientais já realizados na área e dando continuidade ao processo de remediação.
6 - Dentro de sua política de transparência, o Shopping Center Norte continuará a prestar contas à CETESB de todas as ações que vem sendo tomadas para a imediata e completa resolução da questão ambiental.
Direção do Shopping Center Norte
Nota do dia 29/09/09
Prezados Funcionários e Lojistas
São Paulo, 29 de setembro de 2011
Prezados Funcionários e Lojistas
O Shopping Center Norte e o Lar Center estão abertos ao público e mantêm normalmente suas atividades.
O Exmo. Sr. Juiz de Direito da 7 Vara da Fazenda da Capital concedeu liminar ao mandado de segurança impetrado pelo Center Norte contra a decisão da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente de suspender as atividades dos empreendimentos.
O Shopping Center Norte continuará a executar as medidas de monitoramento diário da área e da instalação dos drenos para a extração do metano do solo, conforme os cronogramas previstos no Termo de Ajustamento de Conduta assinado com o Ministério Público do Estado de São Paulo e a Cetesb.
Ressaltamos que as medições realizadas pelo Shopping Center Norte indicam, diariamente, ausência de metano no interior das lojas, fato que foi confirmado pela CETESB em inspeção realizada no dia 20/9/2011.
O gás metano identificado no Shopping Center Norte está localizado abaixo do piso do empreendimento (ou seja, na camada de terra abaixo do piso de concreto de até 70cm), onde as condições para que ocorra uma explosão são remotas.
O gás metano não é tóxico e, portanto, não afeta a saúde das pessoas.
Em seus 27 anos de fundação, o Shopping jamais registrou qualquer incidente em suas instalações relativo a questões ambientais.
Agradecemos a confiança de todos.
Grupo Center Norte S/A
Ricardo Afonso
Comunicado dia 04/10/11
Comunicado à Imprensa
O Shopping Center Norte concluirá, o mais rapidamente possível, as obras de implantação de todo o sistema de mitigação dos gases, com a instalação de 10 drenos, um a mais que o exigido pelo Termo de Ajustamento de Conduta assinado com o Ministério Público e a Cetesb.
Em virtude de decisão judicial de hoje, no entanto, o Shopping Center Norte não irá abrir nesta quarta-feira, 5/10. O Juiz da 7ª Vara da Fazenda Pública acatou o pedido de reconsideração formulado pela Prefeitura de São Paulo e, por questões eminentemente processuais, extinguiu o mandado de segurança proposto pelo Shopping Center Norte, cassando a decisão liminar que garantia o seu funcionamento.
É importante ressaltar que a decisão judicial não faz referência à existência de perigo iminente de explosão.
Na liminar anteriormente concedida, a Justiça entendera que não havia necessidade de paralisação do Shopping, porque o Center Norte está adotando todas as providências para mitigação dos riscos potenciais associados ao gás metano, sempre de acordo com as determinações da CETESB.
O Shopping continuará a tomar todas as medidas cabíveis para manter suas portas abertas e funcionando regularmente. Desta forma, garante a plena segurança e o conforto de seus clientes, lojistas, colaboradores e parceiros, atendendo às determinações das autoridades competentes, entre elas a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, CETESB, Secretarias Municipais de São Paulo.
Inaugurado há 27 anos, o empreendimento oferece cerca de 6 mil empregos diretos e nunca registrou qualquer incidente associado à questão ambiental.
Direção do Shopping Center Norte
Comunicado dia 05/10/11
COMUNICADO
O Shopping Center Norte permanecerá mais um dia com suas atividades comerciais suspensas.
Conforme nota oficial da CETESB, o Shopping Center Norte completou a instalação de 11 drenos para extração do gás metano do solo (abaixo do piso).
Hoje a CETESB realizou inspeção técnica nos drenos verticais instalados e medições em 27 pontos de monitoramento, verificando que os drenos instalados estão em operação.
Em função dessas ações, o Shopping Center Norte acredita estar em condições de, em breve, retomar suas atividades normais.
Amanhã, às 17h, está confirmada a visita do Prefeito Gilberto Kassab e do Secretário Bruno Covas ao Shopping Center Norte para constatação das informações divulgadas.
Mais uma vez, agradecemos a compreensão, confiança e apoio que temos recebido de todos.
Atenciosamente,
Grupo Center Norte S/A
Nota do Shopping Center Norte
São Paulo, 07 de outubro de 2011.
CIRCULAR INFORMATIVA N.10
Prezados Colaboradores e Lojistas,
Em primeiro lugar queremos agradecer a compreensão e o apoio que recebemos de todos vocês nesses momentos difíceis que temos juntos enfrentado.
Gostaríamos de informar o andamento de nossas ações, que têm por objetivo o pleno restabelecimento de nossas atividades.
Dia 05 de outubro, tivemos a vistoria técnica da Cetesb que constatou a instalação dos 11 drenos para extração do gás do solo (abaixo do piso), operando em sua totalidade.
No dia 06 de outubro, às 17 horas recebemos a visita do Secretário de Estado do Meio Ambiente, Sr. Bruno Covas, do Sr. Prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, Técnicos da Cetesb e da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente que realizaram vistoria a todas as obras realizadas em nossas instalações para atendimento das determinações das autoridades.
O Shopping Center Norte recebeu autorização para a reabertura de suas atividades da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente em função de laudo emitido pela Cetesb, que aprovou todas as obras realizadas com o objetivo de manter a segurança de todos nós e dos freqüentadores do Center Norte.
O trabalho complexo realizado pelo Shopping foi concluído em prazo inferior ao determinado pelas autoridades.
Shopping Center Norte continuará o monitoramento diário, a extração do gás metano por meio dos drenos instalados e adotará todas as medidas necessárias para segurança necessária de todos os seus freqüentadores.
Mais uma vez agradecemos a compreensão e o apoio que temos recebido de todos e permanecemos inteiramente à disposição para quaisquer esclarecimentos que julguem necessários.
Atenciosamente,
Grupo Center Norte S/A
Ricardo Afonso