google_1O Google admitiu que as antenas montadas no teto dos carros de mapeamento do Google Street View, inadvertidamente, poderiam ter capturado dados transmitidos através de redes sem fio não seguras, incluindo senhas e e-mails desses usuários. Na semana passada, artigo de Shane Richmond, do Daily Telegraph, de Londres, pergunta se, ao admitir o problema, a gigante dos computadores teria uma atitude arrogante em relação à nossa privacidade.

Para a jornalista, quando Eric Schmidt, CEO do Google, disse que a política de sua empresa era "chegar perto da zona de perigo e não atravessá-la", ele provocou mais do que um simples arrepio. As declarações de Schmidt, feitas em uma revista norte-americana no início deste mês, chegaram no momento em que o Google enfrenta várias batalhas em todo o mundo, na luta sobre privacidade.<!--break-->

Segundo a jornalista inglesa, “o fato mais recente, na semana passada, foi a admissão pelo Google de que tinha capturado e-mails, senhas e endereços da web, a partir de redes sem fio em toda a Grã-Bretanha. Os dados foram coletados por carros do Google Street View, que percorrem as ruas, em todo o mundo, tirando fotos que o Google usa em seus serviços de mapeamento. O Google pediu desculpas e um porta-voz disse que a empresa não havia recolhido os dados intencionalmente. "Estamos mortificados pelo que aconteceu", disse Alan Eustace, vice-presidente de engenharia e  investigação do Google”. Esse serviço chegou ao Brasil no fim de setembro, de início em 51 cidades.  É o primeiro país da América do Sul a receber o serviço.

No entanto, os críticos do Google veem isso como mais um passo em direção ao que a própria empresa chamou de "zona do perigo". As autoridades do controle da informação, na Inglaterra, informaram que irão reabrir  investigação sobre coleta de dados do Google, nas redes sem fios.

Para a autora do artigo, “essa é a última de uma longa série de reclamações sobre o Google Street View. Os rostos das pessoas que aparecem nas imagens do Street View, agora, são desfocadas, depois de críticas de defensores da privacidade. Defesa e especialistas em segurança alertam para o perigo de fotografar locais sensíveis. O Google tem feito longas negociações com a União Europeia sobre o período de tempo que mantém arquivadas as imagens. As negociações ainda podem ir muito longe. No ano passado, a população de Broughton, em Buckinghamshire, organizou uma barreira humana para impedir que o carro do Google Street View entrasse em sua cidade”.

O que mais impressiona no artigo de Richmond, é que “o Street View é apenas uma parte do vasto  império de dados do Google sobre nós e nossos hábitos. Sua plataforma de buscas armazena informações sobre o que você procura on-line, mesmo se você não está logado em uma conta do Google, e o Google digitaliza o texto de e-mails enviados pelos usuários do gmail e oferece anúncios com base nesse conteúdo. Ligue o Google Latitude, aplicativo de localização da empresa de rastreamento, e ele saberá onde você está, também”, diz a autora.

Shane Richmond disse também que no início deste ano, o Google lançou uma espécie de rede social on-line, chamada Buzz, que automaticamente conectava as pessoas com seus amigos,  com base no que eles estavam se comunicando por e-mail com mais frequência. O serviço foi introduzido sem aviso prévio e muitas pessoas viram-se conectadas até mesmo com internautas que eles prefeririam evitar.

Uma usuária alegou que seus detalhes de contato haviam sido compartilhados com seu ex-marido, com quem não mantém relações. O Google pediu desculpas e fez mudanças rápidas no serviço. No mês passado, o Google pagou cerca de US$ 8,5 milhões (R$ 15,3 milhões) para resolver uma disputa legal com usuários do Buzz, que reclamaram que a empresa de buscas havia violado sua privacidade pessoal, segundo o artigo de Richmond.

Mas a batalha que o Google enfrenta não se limita à Inglaterra. Em abril, autoridades que analisam privacidade de 10 países, incluindo Grã-Bretanha, Alemanha, França e Canadá, escreveram ao Google para reclamar de ameaças à sua vida privada. Eles citaram o Google Street View e Buzz como áreas particulares de preocupação.

Para Richmond, “embora as declarações da área de relações públicas do Google sejam,  normalmente, calmas e conciliadoras, as afirmações do CEO, Eric Schmidt, são frequentemente provocadoras. No ano passado, em um comunicado que se tornou famoso, o presidente questionou se as pessoas realmente necessitavam sigilo sobre os sites que eles visitaram. "Se você tem algo que você não quer que ninguém saiba", disse Schmidt, "talvez você não deveria estar fazendo isso em primeiro lugar." Mais recentemente, ele sugeriu que os jovens possam, no futuro, mudar seus nomes como forma para escapar do embaraçoso histórico da web, construído durante a própria adolescência e os anos de estudante.

<strong>Chip sob a pele</strong>

Shane Richmond torna esse cenário de big brother universal mais assustador. “De longe, o mais alarmante, porém, para quem vê o Google como uma ameaça, foi a informação de um implante sob a pele que se conectaria à web, disponibilizando informações vitais como e quando você precisar delas. Mas diante de tamanha ameaça, Schmidt abandonou essa idéia como uma das que cruzariam a "zona do perigo". Pelo menos com essa tecnologia, que pareceu ousada demais até mesmo para os visionários gurus do Google, os ativistas da privacidade não precisariam se preocupar, por enquanto.

A autora do artigo alerta que os técnicos do Google não são os únicos a postular implantes sob a pele. Alguns futurólogos apontam que os registros médicos implantados sob a pele podem ser úteis para os médicos e dados do passaporte, por exemplo, ajudariam também a poupar tempo nos aeroportos. Mesmo assim, é difícil imaginar a média das pessoas enfrentando uma fila por um chip, diz Richmond.

Mas a ameaça não vem só do Google. Segundo Richmond, “em meio a todas estas preocupações, vale a pena observar que o Google está longe de ser a única empresa de tecnologia coletando montanhas de dados sobre nós. As redes de telefonia móvel estão usando o que eles sabem sobre seus deslocamentos para entregar publicidade sensíveis à localização”. Como sua privacidade fica cada vez mais restrita, a autora alerta: “Caminhe em direção a uma rua onde existe uma <em>coffe shop</em> e você poderá encontrar uma mensagem oferecendo-lhe um cappuccino barato”.

Enquanto isso, centenas de milhões de pessoas no mundo estão felizes em contar ao Facebook todo tipo de coisas sobre suas vidas pessoais, todas as quais, então, podem ser processadas pelo ângulo da publicidade ou para outros propósitos criminosos. Mark Zuckerberg, co-fundador e CEO do Facebook, parece ver a privacidade como um desafio a ser superado. Em seu recente livro, <em>O Efeito Facebook</em>, David Kirkpatrick cita Zuckerberg: "Para levar as pessoas a este ponto, onde há uma maior abertura - isto é um grande desafio. Mas eu acho que nós vamos fazê-lo. Eu só acho que vai levar tempo. O conceito de que o mundo será melhor se você compartilhar mais é muito estranho para muitas pessoas e tem a ver com todas estas preocupações com a privacidade”.

Richmond alerta que “tanto o Google quanto o Facebook mantêm os dados do usuário de forma anônima e não medem esforços para se certificar de que isto é seguro.  E os dados das redes wireless, que o Google capturou, por meio de seus carros Street View,  foram recolhidos a partir de redes sem fio não seguras. Qualquer um que tivesse tido o cuidado de proteger a sua rede com uma senha não teria perdido os dados, diz a autora do artigo. Além disso, o Google não fez nada com as informações recolhidas, nem planeja fazê-lo. Foi, como diz a empresa, um acidente”.

Para a autora do artigo, “a idéia de privacidade em declínio se encaixa muito bem com os objetivos de Zuckerberg e Schmidt, que querem vender publicidade. Em contrapartida, temos alguns excelentes serviços e não temos que pagar por eles. No nível mais simples, qualquer um que se oponha às políticas de privacidade do Google pode simplesmente parar de usar seus serviços.

A tensão vem de onde as pessoas estabelecem a linha do equilíbrio. Para tornar o assunto mais complicado, o fato é que agora nós podemos comprometer até mesmo a privacidade de outras pessoas. "Se eu coloco uma foto no Facebook me mostrando e mais 50 amigos no meu casamento, eu realmente vou precisar de um tempo para pedir a cada um se se importa com as suas imagens online? E se uma pessoa objetar, deveria seu veto me impedir de compartilhar a imagem com os outros”?

Concluindo, a autora diz que “a internet é muito nova para as normas sociais que desenvolveu e o ritmo de mudança é tão rápido que pode ser difícil até mesmo para os experts em tecnologia acompanhar. Uma autocrítica que o Google fez,  após o fiasco do Buzz,  foi que o seu staff habita um mundo diferente do de seus clientes. Para os engenheiros do Google, estar conectado, compartilhando tudo e trocando dados para os serviços é normal. Nem tanto para o usuário médio da web. Uma pesquisa recente descobriu que 79 por cento dos americanos desejam manter os arquivos e documentos em seu computador pessoal particular. Quase metade dos pesquisados disseram que estariam envergonhados se amigos ou familires vissem determinados arquivos em seu computador ou smartphone. (31/10/10)

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