tiger woods and wifeOs últimos dias têm sido pródigos em oferecer espetáculos de crise explícita, que vão das desculpas lacrimosas do golfista Tiger Woods, até o big brother de araque da escola americana, que vigiava os alunos, por meio de câmera instalada no lap top. Sem falar nas trapalhadas de Arruda, que cada vez afunda mais.

O mea culpa do golfista Tiger Woods em rede nacional de televisão, além de redes sociais, dia 19, foi mais um show de mídia, a que os americanos estão se acostumando, do que uma prestação de contas. Depois de governadores confessarem aventuras e opções sexuais em público e de políticos admitirem crimes denunciados pela imprensa, nada mais impressiona o telespectador dos EUA.

O caso de Tiger Woods é emblemático. Não só por ser o atleta mais bem pago do mundo, mas pelo potencial do escândalo que envolve somas milionárias de patrocínios contratados com o atleta. O pedido de desculpas em rede nacional foi considerado protocolar, burocrático, não um verdadeiro arrependimento. Ele deveria cumprir aquele ritual, porque, além de atleta, é um produto de consumo. Apenas isso.

A pergunta é: ele estava ali porque se arrependeu ou apenas cumprindo uma obrigação contratual e midiática para satisfazer os patrocinadores? Alguns colunistas americanos chegaram a tripudiar sobre a rápida declaração, fazendo um roteiro ensaiado onde tudo estava previsto, do choro, à mão no peito.

Entretanto, pesquisa feita nos EUA, logo após a retratação do atleta, levando em conta escala baseada nos níveis de sinceridade, constatou que as desculpas de Tiger Woods receberam a segunda melhor nota, entre as celebridades que se retrataram entre 2009 e 2010. As pesquisa feita pela Mediacurves atribuiu nota 17,2 para Chris Brown, namorado que agrediu a cantora Rihanna, em 2009. Tiger Woods ficou em segundo lugar em “sinceridade”, com 7,9, enquanto o apresentador David Letterman, que confessou relações amorosas com funcionárias da CBS, ficou em terceiro, com 4,3. Na pergunta geral: você acha que as desculpas de Tiger Woods foram sinceras? 58% das mulheres e 62% dos homens disseram sim.

Sob o aspecto da gestão de crise, não havia muita saída para o atleta, a não ser essa declaração pública. Não é muito diferente do que políticos e celebridades têm feito nos últimos anos. Para uma sociedade puritana e conservadora como a americana, o pecado de Tiger Woods dificilmente será perdoado. Mesmo com as desculpas públicas, a mancha na carreira do atleta poderá quando muito ser amenizada, nunca esquecida. É o lado perverso e implacável das crises de imagem. Mas a sociedade do consumo acaba assimilando isso.

Cenas como a de Tiger Woods e Larry Letterman confessando publicamente aventuras sexuais e simulando uma aparente tranquilidade, como fizesse parte de um script, vão se tornar mais comuns nos próximos anos. A sociedade começa a ver que a perda da compostura, principalmente por personagens famosos do mundo esportivo, religioso, show business ou político, acaba caindo numa rotina. Nada que boas desculpas não possam justificar. Os patrocinadores e fãs do golfe irão acompanhar agora quanto do ativo intangível do atleta foi atingido.  Ou se ele, voltando ao golfe, continuará com o prestígio de ontem.

A arte de se desculpar em público

As desculpas de Tiger Woods suscitaram um amplo debate sobre a capacidade das pessoas se desculparem e fazer de conta que tudo se encerra ali, naquele ato que muitas vezes exige coragem, mas que pode soar falso. Paul Vitello, no artigo The Art of the Public Apology, no New York Times do último dia 19, levanta alguns aspectos interessantes sobre o ato de se desculpar publicamente. Para ele a arte de se desculpar, como toda a arte, tem seus connaisseurs e críticos profissionais. A encenação de Tigger Woods possibilitou isso e foi resumida em poucas palavras, segundo o NYT: muito longa, muito ensaiada. Mas, por outro lado, não pode ser considerada ruim.

Para a maioria dos  experts, e a despeito da fascinação e grande demanda do público para esse tipo de manifestação, a arte das desculpas, como praticada pela média de americanos proeminentes, seja na política, no esporte, na religião ou nos negócios, continua, na maior parte dos casos, sendo insatisfatória.

Eles lembram as desculpas do governador da Carolina do Sul, sumido num programa amoroso na Argentina: “Eu passei os últimos cinco dias da minha vida chorando na Argentina”. Ou do diretor executivo do Goldman Sachs, que ofereceu uma pífia desculpa pelo papel de sua empresa no colapso financeiro.

“Certas pessoas culpam os advogados, com suas advertências contra admissão de culpa. Outros culpam a mitologia do machão americano glamourizada pelos ícones de Hollywood, como John Wayne, que afirmou, no filme Legião Invencível, (1949)  “Nunca se desculpe e nunca explique – é um sinal de fraqueza”.

“Uma boa desculpa tem que começar com uma conexão real entre a pessoa que se desculpa e as pessoas ou audiência ofendidas”, diz Patrick Field, co-diretor de administração do Consensu Building Institute, uma organização não lucrativa que presta consultoria a órgãos governamentais americanos. “Desafortunadamente, muitas pessoas que ascendem ao topo de suas profissões são narcisisticamente individualistas e não são capazes disso”., afirmou o executivo ao NYT.

No mesmo artigo do NYT, Dr. Aaron Lazare, psicólogo aposentado da escola de medicina da Universidade de Massachusetts e autor do bestseller “An Apology  (que trata de desculpas pessoais e não públicas),  assegura que ambas  - a desculpa pública e pessoal -  se dividem num padrão básico. “ Em ambas as situações, você tem que ser especifico, tem que dizer o que fez e tem que pedir à pessoa ofendida não apenas para esquecer, mas perguntar a eles o que você precisa para fazer as coisas certas”.

Nada parece resumir com tanta propriedade a capacidade de pedir desculpas com sinceridade quanto a análise do tema publicada no NYT ano passado. Em um cartaz, a mulher, agarrando-se ao ombro do marido, dizia: eu não quero suas desculpas. Eu quero que você sinta muito.  Ou seja, não adianta pedir desculpas se a audiência vê nos olhos que a pessoa, na verdade, está apenas representando para salvar sua imagem, e não realmente sentindo e lamentando o que fez.

Arruda parece ser o protótipo brasileiro desse compungido de primeira hora. Quando foi acusado de violar o painel do Senado, pediu desculpas e chorou. Avocou a família. Deu a volta por cima, elegeu-se deputado e governador. Agora, novamente enredado com denúncias, voltou a pedir desculpas públicas e “perdoar os que o ofenderam”. Nada mais patético e artificial. Alguém acreditou nas desculpas do governador?

Big brother escolar

Causou revolta na pequena cidade de Lower Merion, Pensilvânia, EUA a descoberta dos alunos de que a escola os vigiava. No início do semestre, cada aluno recebeu um lap top. Ninguém desconfiou que por trás do mimo da escola se escondia uma prática abominável, cada vez mais comum na sociedade vigiada em que vivemos: a colocação de uma câmera fotográfica ou de gravação embutida nos aparelhos e que poderia ser acionada à distância.

O assunto só estourou, após um aluno desconfiar, quando foi questionado pelo vice-diretor, sobre seu “comportamento impróprio em casa”. E mostrou a foto do aluno, em sua residência. Outros alunos da escola já desconfiavam que estavam sendo vigiados, porque quando ligavam o aparelho, uma luz começava a piscar na câmera.

Os pais, escandalizados, além dos protestos, abriram processo contra a escola, por invasão de privacidade. A escola confirmou ser possível ativar remotamente a webcam a qualquer momento, caso o computador esteja conectado à internet. A escola justificou o big brother por motivo de segurança, para localizar lap tops perdidos, esquecidos ou roubados. Não colou.

A idéia de jerico da instalação das câmeras vai gerar uma série de ações contra a escola por ferir a quarta emenda e violar as leis que regulam as comunicações eletrônicas e fraudes por computador.

Muitas da imagens capturadas e interceptadas podem incluir cenas de menores e seus pais ou amigos em situações comprometedoras ou em posições embaraçosas, incluindo, mas não limitada a isso, vários estágios de vestir-se ou desvestir-se” diz a petição que embasa as ações dos pais.

A Lower Merion School District distribuiu 1.800 laptops aos alunos como forma de dar acesso a recursos mais avançados no ensino. Como se vê, a lição da escola foi péssima. Além de dar um mau exemplo aos alunos, conseguiu atrair a atenção nacional por uma nova forma de bisbilhotar a vida alheia. Com isso, vai enfrentar um tremendo passivo de imagem, além de inúmeras ações na justiça.

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