usps1As grandes corporações também enfrentam crises que muitas vezes podem levá-las a reposicionamentos históricos, se quiserem sobreviver. O tradicional  banco suíço UBS acaba de fechar um acordo com o Departamento de Justiça dos EUA  e o IRS (o Fisco americano) para revelar nomes e detalhes de 4.450 correntistas americanos, suspeitos de sonegação fiscal.  O UBS entregou os dedos para não entregar a mão ou o braço.

O UBS quebrou uma das maiores tradições dos bancos suíços e de qualquer banco, a preservação do sigilo bancário. Se não fizesse isso, o UBS corria o risco de ser expulso dos EUA. Pelo acordo, o banco vai notificar os correntistas, para que possam se apresentar espontaneamente. A pressão das autoridades americanas visa regularizar, numa primeira fase, cerca de US$ 18 bilhões de cerca de 5 mil pessoas suspeitas de sonegar impostos.

Em fevereiro, o UBS admitiu que oferecia serviços de fraude fiscal para clientes nos EUA e que fazia parte de uma quadrilha (a palavra é conspiracy).  O banco teria ajudado os clientes a ocultar ativos. O governo americano queria os dados de 52 mil clientes.

O problema é que com essa decisão o UBS perde um dos principais ativos da banca suíça, a credibilidade. As autoridades suíças minimizam a decisão e dizem que o acordo é salutar para evitar um contencioso que poderia demorar anos. Se o UBS não fizesse o acordo, teria que pagar uma multa bilionária e talvez sair dos EUA.  Este é um passo importante na direção já tentada pelos americanos e muito falada no Brasil de que o sigilo bancário teria que ser relativo. As autoridades poderiam quebrá-lo em casos suspeitos.

A crise do Correio americano

Quem gosta de filmes de faroeste certamente viu alguma cena do Correio americano transportando cartas por meio de cavalos, trocados nas estações. Pois a crise também chegou à centenária instituição americana, fundada em  1692.

O USPS-United States Postal Service, um ícone dos serviços públicos americanos, vai registrar um rombo estimado em US$ 7 bilhões neste ano fiscal (até setembro), o maior da história, para faturamento de US$ 62 bilhões.  Já vinha de perdas de US$ 5 bilhões em 2007 e US$ 2,4 bilhões em 2008. Uma estrutura pesada, a crise econômica e a concorrência da internet podem ser apontados como causas principais da crise do Correio dos EUA. Isso porque o USPS tem o monopólio na distribuição de correspondências e de material espontâneo de propaganda de empresas, aquele que o cliente recebe sem pedir. Outros serviços têm concorrência das empresas privadas Fedex e UPS. A disseminação do serviço chamado couriers também afetou os correios.

O escritório governamental que regula suas atividades colocou o serviço postal numa lista de “alto risco” entre as agências federais, precisando de uma reestruturação para se viabilizar economicamente. Essa crise não é de hoje. Em 2005, a revista Business Week já havia publicado matéria abordando a crise do serviço postal americano.

Os 630 mil empregados (eram 800 mil há dez anos) deverão ser reduzidos para 550 mil. Os Correios padecem do mesmo mal que quase matou a IBM e a GM: muitos benefícios e dificuldade de demitir empregados estáveis. A empresa está procurando economizar até no número de caixas de correio colocadas nas ruas.  O presidente da empresa quer reduzir o atendimento para cinco dias por semana e fechar várias unidades. Os carteiros sentiram a recessão no número de correspondências entregues, que caíram a níveis nunca registrados anteriormente. A empresa está num dilema parecido com o de tantas outras organizações pelo mundo, como cortar despesas e ter mais receita, numa economia em recessão?

A questão levantada por colunistas do The New York Times é se, apesar dos cortes, os Correios resistirão ao avanço da internet e se vale a pena o governo manter uma agência tão pesada quanto a USPS.

Para quem achava que a crise só pegava os pequenos, é bom começar a dar uma olhada na história da ITT, GM, Parmalat, USPS e dos tradicionais bancos suíços. Estruturas pesadas têm mais dificuldade de sair da crise, porque o movimento de um Titanic é sempre mais complicado do que de uma embarcação mais leve.

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