Além de duas guerras, a tragédia numa base militar do Texas, em 05/11, que culminou com a morte de 13 pessoas e ferimentos em 30, jogam o presidente Obama numa ciranda de acontecimentos trágicos e extremamente perigosos para o futuro do país. Pessoas próximas asseguram que o presidente enfrenta todos os dias os desafios de aprender a governar e exercer a presidência numa época de guerra. Não bastassem as guerras, a reforma do sistema de saúde, que implica dura batalha no Congresso, a legislação sobre mudanças climáticas e a economia, que teima em não decolar, são, segundo o The Washington Post, apenas exercícios cerebrais comparados com o papel amargo de ser o comandante-em-chefe.
Duas semanas atrás, Obama estava na base da Força Aérea, em Dover, Delaware, chegando de surpresa para assistir a chegada dos corpos de soldados, mortos em combate, transportados em um avião militar. Ele se encontrou com familiares.
Na semana passada, criticado por ter demorado a aparecer no cenário do atentado, Obama teve que ir ao Walter Reed Army Medical Center, em Washington, para visitar pela primeira vez militares feridos dentro do próprio país. Eles foram atacados por um colega, fanático muçulmano. Depois de visitar os feridos, terça-feira ele voou para o Texas, para falar no serviço religioso em memória dos soldados mortos.
Quarta-feira ele estava em Washington, depositando uma coroa na Tumba do soldado desconhecido e caminhou entre os túmulos do Cemitério Nacional de Arlington, falando com familiares que visitavam parentes que morreram no Iraque ou no Afeganistão.
“Há muitas honras e responsabilidades que vêm com meu cargo. Mas nenhuma é mais profunda do que servir como comandante-em-chefe”, disse Obama num discurso no auditório do cemitério.
Mas a maratona fúnebre do presidente não se encerrou nesse périplo de reverências a soldados feridos ou mortos. Ele voltou para a Casa Branca para fazer o quê? Reunir-se com o Conselho sobre a guerra do Afeganistão, para decidir se manda mais soldados para aquele país.
Ou seja, a agenda da guerra ocupa cada vez mais tempo do presidente. “Desde setembro, há como um esforço da Casa Branca de ressaltar o papel de comandante-em-chefe” nas atividades do presidente, afirmou Peter Feaver, professor de ciência política na Universidade Duke ao jornal Washington Post. Ele diz que novos presidentes muitas vezes lidam com dificuldade com esta atribuição do cargo.
“Isso realmente envolve a própria pessoa, não necessariamente a mente. É um papel emocional. Emocional num sentido positivo. Você tem que ordenar homens e mulheres a arriscar suas vidas. Isso requer uma coragem moral, uma estabilidade emocional. É muito diferente de uma missão puramente política”, disse Feaver.
Não bastasse tudo isso, na semana passada foi divulgado que o número de suicídios entre soldados americanos é preocupante. Até outubro, 133 soldados do exército se suicidaram, contra 115 no mesmo período do ano passado. A taxa é de 20.1 por 100 mil pessoas, muito alta para os padrões americanos.
Governantes têm hoje cada vez mais necessidade de estar preparados para enfrentar crises, porque governar um país acaba sendo um exercício diário de administração de crises. Fazer gestão da crise, nos conflitos atuais, significa para Obama reduzir ao mínimo as tensões entre os que desejam recrudescer os ataques no cenário de guerra e os que querem o fim delas, unilateralmente, com o retorno imediato das tropas ao país.
Conciliar essas aspirações, fazer prevalecer a política americana nos países ocupados e em guerra, enviar jovens a um cenário de guerra, com alto risco de morte e contornar as crises políticas internas. Obama está passando pela prova de fogo, aprendendo no dia a dia a tomar decisões que distinguem um presidente estadista ou um presidente comum. E sabe que não é fácil. Obama, até pela idade, certamente não vai querer ficar na história como eterno candidato, que não conseguiu se desvencilhar das armadilhas da presidência e caiu na vala comum.