WashingtonPostO site politico.com revelou na semana passada que o jornal Washington Post, um dos mais influentes periódicos dos EUA, organizava jantares com a presença de membros do governo Obama, Congressistas, lobistas e editores do Post pelo preço de US$ 25 mil. O patrocínio anual poderia custar US$ 250 mil. Tudo foi divulgado num folder publicitário, que dizia “tratar-se de uma oportunidade exclusiva para participar do debate sobre reforma da saúde” com as pessoas que de fato irão fazê-la.

O pivô da história é a publisher do Post, Katharine Weymouth, também herdeira do conglomerado. Advogada, trabalhou na empresa 12 anos, sem experiência jornalística e considerada ingênua no ramo de negócios. Por isso, teria embarcado no pacote da área de marketing e arranhado a reputação do jornal.

O tema virou escândalo em Washington. David Carr, colunista do New York Times, ironizou: “Teoricamente, você não pode comprar os repórteres do Washington Post, mas pode alugá-los”. A ironia mira a neta da proprietária do Washington Post, Katharine Graham, que, segundo o NYT, seria incapaz de tamanha ousadia. A publisher, que saiu de Harvard School of Business, há um ano, para repensar a marca do Washington Post, assumiu a responsabilidade pelo imbróglio. O porta-voz do jornal disse que os editores não sabiam dos jantares e que o panfleto veio de uma divisão comercial para seminários e eventos. Segundo ele, os jornalistas jamais participariam de um encontro como esse.

Inicialmente, a responsabilidade pela promoção foi atribuída a um empregado do departamento de marketing, embora dois congressistas convidados tenham assegurado que o convite veio do e-mail pessoal da Sra. Weymouth. Como diz o NYT, “A falta de uma explicação convincente, abre uma penosa ferida para um importante jornal”.

O curioso e irônico na história é que a revelação do escândalo veio do site Político, feito por dois ex-jornalistas do Post. O Político se tornou um concorrente de peso do Post eletrônico, uma das saídas da nova publisher para reverter as perdas de faturamento do jornal.  A nova direção está sob pressão para inovar e melhorar as vendas. Os 17 meses de Katharine Weymouth foram conturbados, por ter cortado despesas e reduzido a redação.

Embora Weymouth, por fazer parte da família, não corra risco de demissão,  sua declaração de que o “panfleto não representa o que eles estão tentando fazer” no jornal, não encontra eco entre muitos repórteres que reagem contra os cortes na redação. “Afinal, o que eles estão tentando fazer”? Diz um repórter, criticando a direção.  “Sim, nós deveriamos estar no negócio de seminários e conferências, mas o problema para nós é complicado porque nós fazemos a cobertura de Washington”.

Realmente a tropeço da Sra. Weymouth traz à tona o eterno confronto entre estado e igreja, um dos dogmas mais discutidos hoje nas redações, no momento em que os jornais passam por um período difícil, assediados pela nova mídia.

Qual a lição de tudo isso? Segundo David Carr,  “É verdade que repórteres e editores em qualquer redação cronicamente criticam, censuram o lado comercial da operação e que existe um conflito ético nesse tipo de promoção. Mas Ms. Weymouth aprendeu uma dura lição, aquela que todo publisher e proprietário deveria estudar e registrar. Inovações são importantes, repensar velhos caminhos é inteligente, e mesmo conferências, desde que adequadas, são excelentes.”

“Mas a redação continua a ser o maior ativo de um jornal. E você não pode arriscar perdê-la, mesmo que isso signifique admitir que você, não algum afoito da área de marketing, cometeu um erro”. Esse parece ser o risco da publisher do Washington Post.

Desculpas

No dia 5 (domingo), o Washington Post pediu desculpas aos leitores por sua tentativa de cobrar de empresários e lobistas por jantares com políticos e jornalistas.

“Eu quero me desculpar por ter planejado um projeto que tomou um caminho que por qualquer motivo propiciou dúvidas quanto a nossa independência e integridade”, disse a publisher numa carta publicada no jornal.

A executiva diz na nota que o folder não foi aprovado por ela ou pelos editores. Confirma que o jornal planejou jantares, mas inclui “firmes parâmetros” para não dar aos participantes controle sobre o conteúdo e nem acesso especial aos jornalistas. “Os repórteres não seriam impedidos de fazer perguntas”, conclui.

O editor executivo do jornal, Marcus Brauchli, foi mais contundente, ao admitir que a iniciativa foi um erro. “Eu acho que há um legítimo debate agora sobre se nós deveríamos ter feito isto. Pensamos haver um caminho para trilhar, consistente com nossos valores jornalísticos, mas diante dessa experiência, é evidente que isto foi um erro”.

Apesar dessas constrangedoras explicações, não há dúvida de que o episódio arranhou a imagem do grande jornal americano, responsável, como se sabe, pela denúncia do escândalo de Watergate, em 1972, que redundou na renúncia do presidente Nixon. O maior escândalo político dos Estados Unidos, em todos os tempos.(JJF)

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