Dominique_Strauss-KahnO FMI está investigando o diretor-gerente da instituição, Dominique Strauss-Kahn, por suposto favorecimento a uma funcionária, que teria se beneficiado de um plano de demissão incentivada, logo após envolvimento amoroso com o executivo. Ele foi ministro de finanças da França e é líder do partido socialista francês.

O escândalo foi denunciado pelo diretor mais antigo do FMI, Shakour Shaalan, que representa o Egito. Strauss-Kahn foi eleito em 2007 e a suspeita é ter abusado do poder do cargo. A funcionária húngara Piroska Nagy, pivô do caso, é casada com o argentino Mario Blejer, ex-economista do fundo. Ele descobriu o affair por e-mails trocados entre a esposa e o diretor-gerente.

Logo após a descoberta, ela pediu demissão e aproveitou-se de um pacote especial de demissão antecipada oferecido pelo Fundo. Nesse plano para cortar custos, saíram 600 funcionários do FMI. O FMI investiga se o programa utilizado por Nagy foi mais generoso do que o dos demais funcionários. O diretor-gerente emitiu comunicado oficial negando as acusações, informando que coopera com as investigações. O “incidente ocorreu em minha vida privada”, disse, ao negar ter abusado de sua posição como diretor-gerente do Fundo.

As testemunhas dizem que desde 2007 Strauss-Kahn começou a abordá-la e que o caso só se tornou público porque Mario Blejer descobriu. O diretor também é casado com uma apresentadora de TV na França, o que estimula ainda mais o caso a ocupar a página de celebridades.

O New York Times, ao noticiar o escândalo, chamou atenção para o péssimo momento para uma distração da diretoria do Fundo, quando os países pobres dependem das ações do FMI para enfrentar a atual crise econômica. O The Wall Street Journal também denunciou a investigação e ainda brincou Não, a instituição não é o Banco Mundial, insinuando caso semelhante acontecido em 2007 com o então presidente daquela banco. O advogado da funcionária afirmou à imprensa que ela saiu recebendo o que merecia, com tratamento igual ao dos demais funcionários.

Para Simon Johnson, economista-chefe do FMI, “este é um momento muito ruim para uma distração de um diretor. Acho que a crise global está apenas começando e ficará pior em vez de melhor”.

Repeteco do Banco Mundial

Em 2007, o Banco Mundial enfrentou escândalo semelhante, quando o presidente Paul Wolfowitz teve que renunciar ao cargo após denúncia de ter favorecido a namorada Shaha Riza. Ela era funcionária do Bird e, logo após Wolfowitz ter assumido a presidência, foi transferida para o Departamento de Estado americano, com ganhos salariais de 40%. Foi a primeira vez que um escândalo derrubou um presidente do Banco Mundial.

A lição parece não ter sido aprendida. Em pouco mais de um ano, o mundo econômico se vê às voltas com imbróglio muito parecido. Em geral os acusados colocam a culpa na mídia, por superdimensionar os fatos. Em decorrência das notícias publicadas, a pressão da opinião pública seria tão grande que o executivo teria que sair. Wolfowitz culpou a imprensa por sua saída.

O problema não é esse. A mídia sempre irá abrir grande espaço para escândalos desse tipo. Mas a origem da crise de Wolfowitz, no episódio, e agora a do diretor-gerente do FMI, está na gestão dos dois envolvidos. Eles cometeram um erro, como aconteceu com Wolfowitz, e, se realmente comprovado, no caso mais recente de Strauss-Kahn. Misturaram assuntos privados no exercício de um cargo público com grande exposição na mídia. Não adianta agora culpar a imprensa.

A denúncia pode até não significar uma crise para o FMI. Depende de como a instituição irá tratá-la. Aprofundará as investigações? Pretende poupar o acusado? Está nas mãos da diretoria do FMI colocar um ponto final no episódio ou prolongá-lo, a ponto de realmente se transformar em crise.

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