Correios Os Correios voltam às manchetes. Infelizmente, com escândalo. A instituição, uma das mais tradicionais do país, tem uma história que se confunde com a própria consolidação do Brasil como nação. Apesar de todas as denúncias surgidas durante a CPI dos Correios, em 2005, a empresa tem uma marca com grande credibilidade.

 

Aquele mega-escândalo permitiu a descoberta do mensalão, teve ampla cobertura da imprensa, incluindo o flagrante gravado do funcionário Maurício Marinho recebendo propina e vários processos envolvendo diretoria, funcionários, empresários e políticos. Depois disso tudo, se você tivesse ingerência sobre essa organização, faria o quê?

Tomaria todas as precauções para evitar a repetição de qualquer tipo de irregularidade; criaria mecanismos de auditoria, fiscalização e controle para blindar a empresa; colocaria pessoas de vida ilibada nos postos-chave, de preferência funcionários de carreira, com curriculum impecável; trabalharia em parceria com os órgãos fiscalizadores. Bem, esse é o princípio elementar da gestão pós-crise, em qualquer lugar do mundo. É o que um bom gestor de empresa também faria.  

O que fez o governo brasileiro? Continuou aparelhando a estatal, colocando presidente e diretores indicados por políticos ou partidos políticos. As feridas geradas pelas revelações da CPI, fruto do aparelhamento anterior, ainda não cicatrizaram e as maiores vítimas são os funcionários. Na época, PTB e PMDB se apossaram da empresa, cada qual querendo abocanhar mais cargos e negócios. Qualquer manual de crise mostra que quando uma organização enfrenta denúncias e acusações, como as ocorridas nos Correios, a auto-estima dos empregados vai para o fundo do poço. Eles tentam acreditar que nada pode ser pior. Alguém virá salvar a empresa e, a partir daí, as coisas irão melhorar.

Vil ilusão. Como infelizmente o governo brasileiro não consegue segurar o loteamento de cargos nas empresas estatais, essas empresas viram moeda de troca na disputa entre os aliados. Com os Correios não foi diferente. Passado o primeiro impacto da crise, quando a mídia esfriou o noticiário, a empresa foi aos poucos loteada de novo, principalmente entre o PMDB, partido do Ministro das Comunicações. Nem parece que ele é jornalista, transformado depois em político, e sabe muito bem o que significa uma crise de imagem.  

Operação Déjà Vu: a crise anunciada

No fim de outubro, a Polícia Federal prendeu 15 pessoas na operação Déjà Vu por fraudes em agências franqueadas dos Correios e na área de informática. Diretores e gerentes dos Correios foram acusados e até presos, suspeitos de participar do esquema. As investigações da operação começaram em 2007, em Sorocaba, após denún

Segundo a PF, o grupo tinha tanto poder que obrigava os donos de franquias a vendê-las, sob ameaça de descredenciá-las dos Correios. Uma agência foi vendida ao grupo por R$ 118 mil e depois revendida por cerca de R$ 600 mil. Além dessa fraude, a PF apurou esquema de transferência ilegal de serviços de postagens, favorecendo o grupo em vez das agências oficiais. O prejuízo estimado é de R$ 30 milhões ao ano.

Havia um desvio dos clientes de grande potencial --como bancos e empresas, que deveriam ser atendidos pelas centrais--, com anuência dos diretores e gerentes que foram presos, segundo Cláudio Martins, delegado-chefe da PF em Sorocaba.

Os presos foram indiciados sob suspeita de extorsão, tráfico de influência, corrupção ativa e passiva, advocacia administrativa, formação de quadrilha ou bando, falsidade ideológica e descaminho, entre outros crimes. As penas variam de 2 a 12 anos de reclusão. A Polícia Federal não relevou o nome dos suspeitos, alegando segredo de Justiça. A direção dos Correios informou, por meio de nota, que não pode fornecer detalhes sobre os fatos porque o processo que deu origem à investigação corre em segredo de justiça.

Ou seja, desde 2007 a quadrilha manipulava franquias, depois de todo aquele vendaval de 2005, e nenhuma providência foi tomada por parte do governo para trocar a diretoria e outros cargos de confiança. Nem mesmo o TCU, que mergulhou na empresa em função dos escândalos anteriores, conseguiu detectar este novo imbróglio? Que diretoria é essa que não ficou alerta para evitar que acontecesse na empresa problemas semelhantes aos ocorridos em 2005?

Essa nova crise surge quando nem todas as cinzas do incêndio de 2005 foram apagadas. Neste ano a empresa já enfrentou uma greve extemporânea, que durou vários dias e acarretou prejuízos à empresa. Diante da incapacidade da diretoria em resolver a greve, ela teve que ser mediada pelo Ministro das Comunicações.

Em decorrência dos escândalos, muitos clientes fugiram dos Correios desde 2005 e procuraram alternativas em empresas privadas. Além de perder clientes, o aparelhamento dos Correios ameaça alguns serviços que são monopólio da empresa. Os funcionários de carreira, que não têm culpa pelos desmandos e loteamento político da instituição, tentam trabalhar tentando preservar a organização e sua imagem. Mas como é possível segurar a barra, quando o governo coloca na empresa uma diretoria com membros indicados por padrinhos políticos, como acaba de ser revelado no caso do diretor comercial, preso na semana passada. Foi indicado pelo Senador Romero Jucá, conforme o parlamentar mesmo admitiu ao jornal O Globo.  Deveria haver uma punição também para políticos ou autoridades que indicam afiliados envolvidos em irregularidades. Nessa hora, a maioria se esquiva e faz de conta que não tem nada a ver.

Sabem o que o Senador Homero Jucá disse, lá em julho de 2006, quando o PMDB foi brindado com a presidência e diretorias dos Correios: O PMDB indicou pessoas técnicas e que têm experiência. Essas nomeações referendam que o PMDB está colaborando com o governo, afirmou Jucá. Só não explicou que tipo de experiência tinha o diretor.  

Agora uma pergunta final. Por que políticos de qualquer partido pressionam para  indicar diretores de empresas do governo? Ou querem o cargo para eles mesmos? Por que o governo não procura nos quadros da organização aqueles funcionários mais competentes para desempenhar funções de direção? Nessa crise, o governo, portanto, não tem agora do que se queixar. Ao entregar a empresa de mão beijada para partidos políticos, depois de tudo o que aconteceu no escândalo anterior, é desdenhar da crise ou a talvez certeza de que tudo isso não vai dar em nada. Pobre Correios.

Nota da Polícia Federal sobre a Operação Déjà Vu

Operação Déjà Vu desmonta esquema que desviou 21 milhões de reais da União

30/10/08

Sorocaba/SP - A Polícia Federal desencadeou na manhã de hoje, 30, a Operação Déjà vu, para desmontar um esquema de fraudes em licitações que resultaram em prejuízos de R$ 21 milhões à Administração Pública Federal.

Estão sendo cumpridos, 43 mandados de busca e apreensão e 19 de prisão temporária em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. Os mandados foram expedidos pela Justiça Federal.

As investigações começaram em janeiro de 2007 para apurar irregularidades na venda/transferência de agências franqueadas dos Correios. Foram colhidas provas da atuação de uma quadrilha que fraudava a empresa na ordem de 30 milhões/ano. O grupo contava com a participação de funcionários do órgão.

Outro golpe descoberto transferia ilegalmente serviços de postagens de grandes clientes para uma específica franquia, privilegiando o interesse particular. Surgiram, ainda, elementos contundentes de que uma quadrilha vinha cometendo crimes de descaminho na cidade de Campinas (SP). Apurou-se que uma família que possui uma loja de artigos de luxo situada em bairro nobre da cidade trazia os produtos dos Estados Unidos sem o devido pagamento de impostos.

A apuração de fraudes em procedimentos licitatórios realizados nos Correios e no INCRA para aquisição de equipamentos e soluções em Tecnologia da Informação – TI ocasionou o desmembramento das investigações para a Superintendência Regional da Polícia Federal em Brasília.

Os investigados estão sendo investigados pelos crimes de extorsão, tráfico de influência, corrupção ativa e passiva, advocacia administrativa, fomação de quadrilha, falsidade ideológica, descaminho, dentre outros.

Por: Delegacia de Polícia Federal em Sorocaba.

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