Na ocasião, até governador de estado chamou a ministra Marina de “desinformada”. Pela dignidade e o respeito que amealhou no país e no exterior, em quase seis anos de governo, diante desse quadro sua saída era apenas questão de tempo. A não ser que continuasse a “engolir sapos” e aceitar as pressões vindas de todos os lados. Para completar, o governo a desautorizou. Arrumaram uma atividade para outro ministro de plantão, que começou a fazer planos estratégicos para a Amazônia.
O ato de demissão da Ministra foi emblemático, porque difere de outras despedidas ministeriais. Até o ritual de entregar uma longa carta ao Presidente, com simultâneo conhecimento à imprensa, mostra que ela quis dar o máximo de publicidade ao ato, contrariando seu perfil discreto e conciliador.
A repercussão no país e no exterior do único membro do ministério atual que ainda tinha um grande capital de credibilidade e respeito, mostra também que o governo fez uma opção. Escolheu o lado dos chamados “desenvolvimentistas”, não ligando para as críticas que certamente virão pela saída da ministra-símbolo da Amazônia.
O jornalista Alberto Dines admite que faltou apoio da imprensa à ministra. Marina Silva demitiu-se não apenas porque lhe faltou o apoio do presidente Lula, mas porque não encontrou na mídia, ao longo da sucessão de batalhas que travou, o suporte necessário para enfrentar os adversários históricos. As revistas coloridas alarmam-se com o degelo das calotas polares e a sorte dos ursinhos brancos. A mesma emoção não aparece na luta pela preservação da Amazônia. Talvez porque, ao contrário do que dizem do futuro ministro, ela não era uma personalidade midiática.
Se a pressão sobre a ministra foi orquestrada e estratégica, os próximos dias mostrarão. Mas não há dúvida de que ela sempre deu sinais de que não arredaria um centímetro na postura adotada desde o início do governo. Perdeu várias batalhas e continuou resistindo. Seu discurso confrontava o de outros colegas, governadores, fazendeiros, grileiros e outros tantos “eiros” que se aproveitam da floresta.
No caso do Brasil, faltou transparência do governo nesse episódio. Os elogios velados do presidente da república e figuras do governo à Ministra são apenas protocolares. O fato é que o governo se livrou de uma pedra no sapato, afastando quem, no entendimento dele, emperrava o PAC, principalmente por causa da resistência da ministra na concessão de licenças ambientais. A demissão veio até tarde, porque há muito tempo são notórias as divergências de Marina Silva com a orientação do governo em relação a questões ambientais, principalmente sobre a Amazônia.
Entrevista atrapalhada
Para completar o nebuloso episódio, a entrevista improvisada do ministro indicado, Carlos Minc em Paris causou desconforto no governo. Atropelado numa viagem ao exterior, o secretário do meio ambiente do Rio de Janeiro colocou condições antes de conversar com o Presidente. Teria aceitado o cargo “em tese”, quer total liberdade para atuar, diz que não conhece o Brasil, nem a Amazônia. Atacou o governador do Mato Grosso. Já recebeu resposta, por meio de uma nota. As avaliações sobre a entrevista teriam mostrado um futuro ministro arrogante, precipitado e até “folclórico”.
Dar uma entrevista no exterior, quando ainda não conversou com o presidente, mostra que o futuro ministro, em lugar de resolver, pode estar trazendo mais problemas para uma área bastante delicada do governo. Meio ambiente é um segmento com múltiplos interesses e vive sempre sob tensão. Está continuamente sob os olhares da mídia e de inúmeros interlocutores. Como em qualquer cargo público, faltou ao candidato a ministro mais cuidado com as palavras. Esse discurso atrapalhado pode marcar pelo menos o início de sua gestão.
Está se tornando comum no país autoridades prestarem declarações atabalhoadas e equivocadas e depois tentar consertá-las. Não seria melhor, como manda regra elementar da administração de crise, que os porta-vozes se preparassem antes de atender a imprensa? Lamentável é que alguns acabam culpando a mídia pelas lambanças criadas. Para não falar demais, recomenda-se às fontes só darem coletivas muito bem preparadas e falar somente quando houver consenso e muita convicção sobre o tema.