Há dez anos, o Brasil acordou com as cenas terríveis do incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria-RS. Impossível mensurar o tamanho dessa tragédia em termos humanos, pelo número de vítimas, pela idade da maioria delas, pela forma irresponsável e pela sequência de erros e omissões que provocou o incêndio.
Três dias após a tragédia, publicamos uma análise dessa crise sob vários aspectos, mas principalmente pela cadeia de omissões que a teriam provocado. “Os verdadeiros culpados da tragédia de Santa Maria” continua atual, porque nessas mortes não há, principalmente no poder público, quem possa se eximir de culpa: apenas as vítimas fatais, os feridos e seus parentes não têm culpa.
Da imprensa aos donos da boate, dos bombeiros à Prefeitura, do Ministério Público à Assembleia Legislativa, passando pelo governo do estado, pela Defesa Civil, não existem inocentes nessa crise. O pior é que passados dez anos, não se constatou que alguma coisa tenha mudado na forma como os órgãos públicos fiscalizam esses estabelecimentos no Brasil. Depois de Santa Maria, tivemos fatos semelhantes no Ninho do Urubu, no Hospital Badim, no Hospital Bonsucesso e no Museu Nacional, no Rio de Janeiro; na Creche Gente Inocente, em Minas Gerais; em casas de repouso de idosos e em vários outros hospitais, pelo País.
Inúmeras tragédias parecidas aconteceram no Brasil, sempre se escondendo no biombo da palavra “fatalidade”, detestável sobre qualquer aspecto, quando se trata de perder vidas em acidentes como esse, que não deveriam ocorrer. A Boate Kiss conseguiu reunir nessa tragédia tudo de errado que uma empresa possa cometer, ao abrir as portas para receber um aglomerado de pessoas. Para esse fato, não existe contemplação. Onde está a Justiça que dez anos depois não conseguiu denunciar e punir absolutamente ninguém?
Leia aqui o artigo publicado três dias após a tragédia.
Os verdadeiros culpados da tragédia de Santa Maria
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