Takata air bagsA empresa de autopeças japonesa Takata, acusada de vender durante anos airbags defeituosos em todo o mundo, que teriam matado pelo menos 16 pessoas e ferido centenas, declarou falência nesta segunda-feira (26). É o epílogo de um dos maiores escândalos da história do setor de automóveis, atingindo uma multinacional de renome, fundada em 1933, e que fornecia airbags para milhões de veículos de diversas montadoras.

A empresa não aguentou essa megacrise. A Takata, que já foi a número dois mundial dos airbags, concluiu um acordo para transferir as atividades à Key Safety Systems (KSS), uma fabricante de autopeças americana que pertence à chinesa Ningbo Joyson Electronic, por 1,4 bilhão de euros (R$ 5 bilhões). As dívidas da empresa correspondem a uma vez e meia os recursos disponíveis em caixa.

Após uma reunião do conselho de administração nesta segunda-feira (26), o grupo anunciou ter iniciado o procedimento de insolvência "ante um tribunal de Tóquio e nos Estados Unidos". Naturalmente que a decisão afeta todas as unidades, inclusive a do Brasil, principalmente porque a reputação da empresa sai bastante arranhada do episódio.

Mas diferentemente das empresas localizadas nos Estados Unidos, Japão e México, as unidades no Brasil e no Uruguai não entrarão em recuperação judicial. O presidente da Takata no Brasil, Airton Evangelista, garantiu aos funcionários, fornecedores, parceiros e clientes a normalidade dos negócios no país. “Temos recursos financeiros suficientes para o pleno atendimentos de nossos compromissos”, disse o presidente em comunicado oficial. Essa “normalidade” precisa ser monitorada, porque dificilmente uma notícia negativa dessa monta consegue assegurar a reputação de uma filial, por mais incólume que esteja.

No mesmo comunicado, a Takata afirma que a união com a KSS é uma notícia positiva e que “as duas empresas combinadas formam uma companhia ainda mais forte e melhor preparada para a continuidade e ampliação dos negócios”. A empresa declara que o plano é manter as operações em desenvolvimento, mesmo enfrentando o escândalo do recall de airbags.

A crise

Tanaka crisisSegundo a revista “Auto Esporte”, a Takata utilizava em seus airbags um agente químico, nitrato de amônio, mas sem nenhum tipo de agente dessecante, uma combinação que impedia a absorção da umidade e que, em condições climáticas extremas, poderia provocar explosões, com a projeção de fragmentos contra o motorista ou os demais passageiros.

A Takata começou a utilizar este químico nos anos 2000. Ao que tudo indica, a empresa teria sido avisada rapidamente, mas demorou a reagir, até que o escândalo foi revelado em 2014, embora desde 2008 a qualidade dos airbags viesse sendo questionada. Somente em 2015, a Takata admitiu que seu produto tinha defeito. Ela concordou em janeiro em se declarar culpada, nos Estados Unidos, por fraudes e por fornecer dados falsos aos reguladores de segurança. Os inflatores dos airbag Takata tinham risco de explodir com muita força em uma colisão, enviando estilhaços que voam através da cabine de um veículo. Há casos de mortes confirmadas por essa explosão.

Das 16 mortes registradas pelos problemas nos airbags, 11 aconteceram nos EUA. Crise semelhante teve outra multinacional japonesa, a Toyota, quando, em 2011, foi denunciada, também nos EUA, por defeitos no acelerador de alguns modelos. Esse defeito, minimizado pelas concessionárias, no início, causaram várias mortes naquele país. A Toyota ainda está pagando caro por essa crise. Parece que o exemplo da Toyota não sensibilizou os concorrentes.

No início do ano, a Takata chegou a um acordo com as autoridades americanas. Acusada de ter escondido o problema por muitos anos, a empresa foi declarada culpada e se comprometeu a pagar uma multa de um bilhão de euros (R$ 3,5 bilhões) para escapar de um processo.

Mas as demandas civis prosseguem, principalmente nos Estados Unidos, enquanto milhões de veículos ainda precisam ser inspecionados em função dos 100 milhões de airbags de carros que foram indicados para um recall em todo o planeta, inclusive no Brasil. Só para dar uma dimensão, nos EUA, de cada quarto carros, um vai precisar de recall. Esse passivo não estará resolvido antes de 2020.

De acordo com estimativas da agência de rating Tokyo Shoko Research, com a falência, a Takata deixa um passivo de US$ 15 bilhões (R$ 48 bilhões), o que significaria a maior falência industrial no Japão, após a II Guerra Mundial. Até porque ainda não calculou quanto vai gastar com recalls. Várias montadoras – que utilizavam esses airbags foram afetadas, incluindo Honda, Toyota, Nissan, BMW, Ford e General Motors. Cerca de 16 marcas eram clientes da Takata.

Naturalmente que diante dessa crise, a empresa vem perdendo valor no mercado acionário. Ante a notícia da falência, a Bolsa de Tóquio suspendeu as ações da Takata. Desde a revelação do escândalo, em 2014, as ações perderam 95% do valor.

Desdobramentos da crise

Cerca de sete anos se passaram desde que a falha foi descoberta. De lá para cá, 16 pessoas morreram, mais de 100 ficaram feridas e calcula-se que 80 milhões de carros foram chamados no mundo para consertar o defeito, número que ainda pode ultrapassar os 100 milhões.

A crise da Takata é mais um exemplo de que mascarar procedimentos industriais, enganar os clientes ou usar processos fraudulentos, tudo isso, está com os dias contados. Num mundo pautado pelas redes sociais, os segredos acabaram. Tentativas das empresas de mascarar práticas pouco éticas e ludibriar os clientes não passam despercebidas. A Takata, a exemplo da Toshiba e, mais recentemente, da coreana Samsung (que enfrenta uma crise por corrupção, alinhada ao impeachment da presidente da Coreia do Sul), utilizou de subterfúgios para não encarar o problema de frente. Se tivesse feito lá, quando aconteceram as primeiras denúncias, possivelmente o custo dessa crise seria bem menor.

Até 2024, portanto sete anos em que escândalo veio à tona, existem cerca de 6,4 milhões de carros no mundo esperando um recall. Os airbags Takata foram recolhidos pela primeira vez em 2014 devido a preocupações com explosões
6 milhões de carros nas estradas dos EUA ainda têm equipamentos não consertados. Eles causaram 27 mortes e mais de 400 feridos

Foto: Kazuhiro Nogi/AFP/Getty Images

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