O incêndio num prédio de apartamentos em Londres, na semana passada, mostrou que nem os países desenvolvidos se livram do estigma de administrar mal as crises, até mesmo aquelas previsíveis e para as quais já existem exercícios de simulação consagrados.
O incêndio na Grenfell Tower, de 24 andares, um edifício de habitação popular, num dos bairros mais conhecidos de Londres, matou dezenas de pessoas. Até domingo, havia 58 moradores entre mortos e desaparecidos. Cerca de 600 pessoas moravam no prédio. Especula-se que o número de vítimas fatais possa chegar a 100 e que muitos corpos nunca serão identificados, já que existem dezenas de desaparecidos, quase uma semana depois.
Deste incêndio - um dos maiores e mais catastróficos de que há memória na capital britânica - emergem os relatos de horror de moradores que foram apanhados de surpresa pelas chamas. O fogo começou pouco depois da meia noite de quarta-feira (14) e em poucos minutos tomou conta do prédio. Há poucos meses foi concluída uma grande reforma no edifício, que custou 8,6 milhões de libras (R$ 38,7 milhões). O prédio recebia muitas críticas dos moradores exatamente pela insegurança e o risco que apresentava. Eles dizem ter alertado as autoridades por vários anos, desde 1999, e que o prédio sempre pareceu uma arapuca. Eles acusam as autoridades de tê-los ignorado e deixado sem assistência financeira para melhorar a segurança. Desde o incêndio, vários protestos ocorreram em Londres, contra o governo. Há registro de pane elétrica, que inutilizou vários equipamentos dos moradores, ainda em 2013.
Não foi por falta de aviso. Em 2014, um grupo que apóia os moradores enviou email à chefia de prevenção de incêndio de Kensington alertando que alterações no prédio o tinham transformado numa "ratoeira". "Há apenas uma entrada e saída para o próprio bloco da torre e, no caso de um incêndio, a brigada de incêndios de Londres só poderia ter acesso à entrada do prédio escalando quatro lances de escadas estreitas. Além disso, a saída de escape de incêndio no nível da calçada já foi selada. Os residentes da Grenfell Tower não têm a menor confiança de que nosso prédio tenha sido avaliado satisfatoriamente para lidar com as novas obras de melhoria ", segundo o jornal The Guardian.
O grupo de moradores também acusou a empresa administradora de não fornecer para os inquilinos instruções adequadas de segurança contra incêndio, além de uma notificação temporária presa ao elevador, dizendo aos moradores que, em caso de incêndio, deveriam permanecer em seus apartamentos. O que acabou se tornando um erro fatal. Mesmo depois que o prédio sofreu a reforma de milhões de dólares, muitas das preocupações com a saúde e a segurança que haviam sido expressas pelos moradores no passado não foram contempladas. Eles alegam que o tratamento dado a habitações de famílias ricas é diferente em Londres.
"Você pensaria que eles pelo menos construiriam uma segunda fuga de incêndio", disse uma moradora. "Uma fuga de fogo mal iluminada e uma saída para centenas de pessoas, foi o que construíram. É uma armadilha para a morte. "
A primeira ministra da Grã-Bretanha, Theresa May, está sob pressão de críticas pelo pouco caso do governo com a segurança, em bairros e edificações onde a maioria dos moradores são pobres, muitos deles imigrantes. Ela também foi criticada por ter preferido se reunir com as equipes de segurança em vez de receber os moradores, logo após a tragédia.
Segundo relatos dos residentes, há muito tempo eles têm reclamado da falta de segurança do prédio, que não tinha sistema automático de detecção de incêndio. Já foi aberto inquérito para investigar as causas do incêndio. Moradores comparam a atenção de May com eles, nessa tragédia, àquela dada por Bush, aos atingidos pelo furacão Katrina, em 2005, pela demora e o pouco caso.
Entre os vários questionamentos, até mesmo o material usado na reforma do prédio está sob suspeita, até porque ele foi banido dos EUA, por se tratar de material de fácil combustão. Teriam utilizado um material plástico mais barato no revestimento, não recomendado para edifícios desse porte. Esse revestimento teria sido usado por questões de economia. O que expõe um lado perverso dos bairros onde residem pessoas mais pobres, como imigrantes. O primeiro morto no incêndio identificado é um refugiado sírio, de 23 anos. A impressão que fica é que as autoridades jogaram contra, segurando investimentos; e deu errado.
Incêndios em florestas de Portugal matam 62 pessoas
Enquanto Londres tenta se recuperar da tragédia do prédio que prendeu várias pessoas durante o incêndio, pelo menos 62 pessoas morreram em vários incêndios em florestas próximas à localidade de Pedrógão Grande e outros dois conselhos da cidade de Leiria, numa das maiores tragédias da espécie em Portugal. O incêndio teve origem num fenômeno meteorológico chamado de trovoada seca. Provavelmente o incêndio começou com uma faísca. Pelo menos 30 pessoas morreram dentro dos carros, surpreendidas e presas pela fumaça e o fogo. Pelo menos 58 pessoas ficaram feridas, muitas em estado grave.
— “Estou convencido de que o número de mortos vai ser mais do dobro”, afirmou o presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, ao jornal português "Público". Horas antes de se saber que o fogo seria mortal, declarara ter falta de meios para acorrer às aldeias que estavam com “muito perigo” e pedira mais bombeiros para o combate. As vítimas mortais, admitiu, “serão do conselho”; outras poderão ser visitantes. O incêndio nas florestas começou sábado à tarde e se propagou durante este domingo.
Acredita-se que o fogo começou devido a uma tempestade seca, no final da tarde de sábado, e os ventos fortes cruzados e as elevadas temperaturas transformaram as chamas num verdeiro inferno em muito pouco tempo. A região, longe dos grandes centros urbanos, é constituída por várias populações pequenas onde vivem sobretudo idosos, agricultores e algumas casas vazias de emigrantes que passam a maior parte do ano fora.
O incêndio, que atinge a região central de Portugal, já está sendo considerado a maior tragédia da história moderna do país. Até esta segunda-feira (19), bombeiros ainda tentavam conter o fogo, que segue se espalhando pela região. Focos também foram registrados em duas novas áreas: Castelo Branco e Coimbra.
Em meio à tragédia que pegou todos os moradores, a maioria de região rural, de surpresa, houve iniciativas heróicas, como de uma moradora que teve a ideia de se salvar e aos vizinhos, utilizando a caixa d'água de seu sítio. Esses moradores de um vilarejo tomado pelas chamas, incluindo uma mulher deficiente de 95 anos, passaram mais de seis horas aguardando por socorro no tanque. O que faltou para se evitar essa tragédia? Os críticos dizem que as agências responsáveis pela prevenção, detectação e resposta emergencial ao incêndio tiveram um "gap" de coordenação. "Um nível de tragédia humana que nós nunca tínhamos visto", disse a primeira-ministra Antonia diante da dimensão das mortes e da devastação provocada pelo fogo.
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