Situações de crise e mudanças bruscas no rumo das organizações podem afetar a imagem das organizações. Por isso, o primeiro foco é ajustar a repercussão na opinião pública. As empresas se preocupam particularmente com a reação da imprensa, dos acionistas, e dos próprios clientes. E esquecem o público interno, estratégico e fundamental para o sucesso das mudanças e o futuro da organização.
Esse público, que alguns analistas consideram o maior formador de opinião, acaba não participando dos processos de comunicação de ações que afetam e até ameaçam o futuro da empresa. Em alguns casos, a satisfação é retardada, priorizando aqueles públicos que, pela visibilidade, parecem mais importantes.
O manuais de comunicação têm sido pródigos em publicar receitas para enfrentar momentos difíceis com a mídia, mas são parcimoniosos com o principal público da empresa. Ser transparente nos atos de gestão significa também ter um processo de informação permanente para com o público interno, privilegiando, principalmente, aqueles segmentos mais estratégicos de executivos em postos de comando da empresa.
A comunicação é importante em todos os momentos da empresa. Mas em períodos de bruscas mudanças na rotina da organização, principalmente se essa mudança mexe com interesses corporativos, e respinga em associações de funcionários, sindicatos, parlamentares, essa comunicação cresce de relevo, tornando-se questão de sobrevivência.
O empregado vive em constante sobressalto e, como todo ser humano, tem grande preocupação com seu futuro. A ansiedade que não poupa os executivos, também atinge os escalões inferiores. Tudo aquilo que afeta sua vida, o que implica saber para onde vai a empresa, sua missão, a garantia do seu emprego e até seu salário, tudo isso tem muita relevância para o público interno. Se essas perguntas básicas têm respostas bem esclarecidas, é meio caminho andado. Caso contrário, quem ganha é a rádio-corredor.
É importante saber que, ao contrário do que muitos dirigentes pensam, a comunicação interna não é tarefa exclusiva da área de comunicação social. Principalmente nos períodos conturbados, a comunicação interna deve ser o instrumento mais eficaz para manter a motivação, e sinalizar para o público interno que a empresa continua, existe comando e as metas estabelecidas serão mantidas. Não esquecer que o funcionário é parte da crise e em geral ele não está preparado para enfrentá-la.
É necessário existir adesão do alto comando da empresa às ações de comunicação interna e os empregados devem perceber isso. Os próprios dirigentes devem ser os principais comunicadores da empresa. Quando o servidor percebe que não existe uma ação coordenada de comunicação, ele também deduz que a decisão, ao afetar o coração da empresa, também ameaça seu futuro. Facilmente ele acaba seduzido pelo discurso fácil da derrota e contribui para exacerbar acontecimentos que poderiam ser contidos no interior da organização.
João José Forni
Este artigo foi originalmente produzido para o VIII Congresso Brasileiro de Comunicação Empresarial da Megabrasil, realizado em abril de 2005.