A internet tem sido citada como a grande vedete das eleições. O candidato que souber usar a rede, teria grande diferencial em relação aos demais. Todos querem imitar Obama. Ele soube como ninguém usar a rede mundial para captar recursos e mobilizar, principalmente os jovens, para sua campanha. Foi o primeiro presidente eleito com a ajuda da rede mundial.
Entre o ideal e a prática, porém, vai uma grande diferença. Dois episódios recentes mostram o risco de estar exposto a uma janela eletrônica com pouco controle e sujeita à interferência de muitos interlocutores. Além disso, estamos longe de ser um país inserido na rede mundial.
Na semana passada, foi descoberto no site da pré-candidata do PT à presidência, Dilma Rousseff, uma foto da atriz Norma Bengel entre duas fotos da ex-ministra. Uma quando criança e outra atual. A inserção da foto da atriz, com cabelo curto, sugeria ser a própria Dilma, quando jovem, flagrada numa passeata contra a ditadura. Denunciada a farsa, a explicação dos responsáveis pelo site, que alegaram engano, não convenceu. Mas mostra também a extrema fragilidade de querer fazer proselitismo político com textos ou imagens que rapidamente são descobertos e desmascarados pela rápida difusão da rede mundial.
Até o Twitter, moda entre os candidatos a presidente, pode ser o vilão. Há 15 dias, Obama foi vítima do Twitter. Ao conversar com uma equipe da Rede ABC, descontraído ele classificou o rapper Kanye West de “idiota”, por ter tomado o microfone da cantora Taylor Swift, na premiação do Music Awards da MTV. As imagens e o áudio do desabafo descontraído do presidente, que não era para ser divulgado, acabou postado no Twitter do repórter da ABC e se espalhou. O escorregão do repórter gerou uma tremenda saia justa para o canal de TV.
São apenas exemplos do que pode acontecer na campanha política. A reputação hoje pode ser destruída com um clique. E não adianta culpar blogueiros, assessores, jornalistas ou adversários políticos pelo estrago. Quem quiser utilizar a internet como mais um palco para se apresentar aos eleitores deve saber trabalhar esse novo meio, caso contrário o tiro sai pela culatra. Se quiser se precaver das armadilhas da rede, o candidato deve ter uma equipe moderna e afinada com a linguagem multimídia, capaz de evitar constrangimentos ou detectar e neutralizar rapidamente eventuais ameaças
De outro lado, quem achar que no Brasil pode se eleger pela internet, deve pensar duas vezes antes de investir recursos nesse meio de comunicação. Dados de 2008 divulgados na segunda-feira (26) pelo IPEA dão conta de que apenas 21% da população brasileira utilizam banda larga, ou seja 12 milhões de domicílios. Só Brasília tem um índice comparável ao dos países desenvolvidos: 51,2%. Nas demais regiões, o Brasil está no nível dos países atrasados. S. Paulo, o segundo, está na faixa de 29,4% da população e no Rio G. do Sul a banda larga atinge apenas 21,8%.
Além da pouca disseminação, outro entrave é a baixa velocidade da internet banda larga brasileira, se comparada com outros países. Enquanto Japão, Coréia e França andam na velocidade da ferrari, com 92,8, 80,8 e 51,0 Mpbs (megabit por segundo), no Brasil a média é de um fusquinha 68, igual ou menor do que 1 mpbs. Vergonhosa, portanto.
Mas tem mais. Segundo o IPEA, “um dos problemas alarmantes do Brasil é o gasto médio com banda larga”. Em 2009 equivalia, proporcionalmente, a 4,58% da renda mensal per capita, enquanto na Rússia esse índice era de menos da metade: 1,68%. Nos países desenvolvidos, essa mesma relação situa-se em torno de 0,5%, ou seja, quase dez vezes menor que no Brasil.
Na maior parte do país a internet ainda é uma aspiração. Onde chegou, em grande parte depende da linha telefônica. Especialistas apontam como causa o desinteresse das empresas de telefonia em disseminar a banda larga, porque a linha discada representaria um faturamento maior.
Ou seja, a banda larga libertaria muitos usuários da internet, do jugo da linha discada. Algumas empresas, embora afrontando a lei com venda casada, só aceitam cliente de banda larga se ele adquirir também uma linha telefônica. Ou seja, enquanto o lobby econômico das empresas telefônicas continuar segurando a banda larga, a democratização da informação para a maior parte dos brasileiros será um sonho e os candidatos terão que brigar por espaço na televisão ou no rádio. A internet vai ficar para a próxima eleição.