Quantas horas por dia seu filho passa na frente do computador e da TV? Essa, certamente, é uma das principais preocupações dos pais modernos, diante das ameaças do mundo virtual. A compulsão pela internet acabou virando uma doença, que atinge crianças e adultos.
Pesquisa em escolas secundárias da Inglaterra revelou: mais de um quarto dos jovens passam mais de seis horas por dia nos computadores. São chamados de screenagers (algo como geração da tela), e desenvolvem alterações no sono, depressão, além de alimentação inadequada, síndrome de abstinência, fadiga e sensação de isolamento da sociedade. Calcula-se que 10% da população da Grã-Bretanha (47 milhões) são viciados em internet. O estudo não levou em conta o uso do celular.
Resultado: o serviço de saúde de Londres anunciou esta semana a abertura da primeira clínica com programa para tratamento de viciados em internet e jogos de computador. Crianças a partir de 12 anos terão atendimento especial para afastá-las da compulsão. Eles terão também que aprender a se relacionar socialmente e a lidar com problemas como o cyberbulling, um sério problema nas escolas, agravado pela internet.
Essa não é uma realidade exclusiva de países desenvolvidos. Quanto mais avança a inserção tecnológica, mais a juventude se envolve nas oportunidades, mas também nas armadilhas da rede mundial. Jovens viciados precisam de tratamento. Mas como na doença ou nas crises mais graves, talvez o melhor remédio seja prevenir. O ideal é que os pais não precisassem recorrer a extremos como esse. Especialistas comparam os viciados tecnológicos aos fanáticos por jogos de azar. Os jovens precisam de apoio e informação sobre o que seja ou não saudável no uso da tecnologia.
No Brasil, estudo de empresa ligada à Symantec, divulgado em fevereiro último, constatou que crianças e adolescentes brasileiros de 8 a 17 anos passam 70 horas mensais conectados. Os pais, quando avaliados na pesquisa, acreditam que eles ficam bem menos tempo.
O Brasil não tem tratamento específico para esse tipo de problema, mas professores e educadores de modo geral concordam em que a internet pode se tornar um grande problema a curto prazo, se não houver uma mudança no controle por parte de pais e responsáveis. É comum jovens chegarem sonolentos para as aulas matinais ou noturnas, porque ficam tempo demasiado no computador, muitas vezes nos seus quartos, sem que os pais tenham qualquer tipo de controle. Além de a internet monopolizar o tempo, a ressaca é um efeito colateral no desempenho escolar dos screenagers.
Em Brasília, a polícia descobriu várias gangs de jovens que utilizam a internet para fazer provocações a rivais. São ações que depois desencadeiam confrontos violentos e acabam em morte. Ou seja, transformaram a internet numa forma de cometer crimes. A Polícia Federal tem área especializada em delitos cibernéticos, entre eles a pedofilia, prostituição infantil e outros crimes que entram pela rede.
A americana Marian Merrit, conselheira de segurança da Norton, dá alguns conselhos aos pais sobre o uso da internet nas relações familiares. Evitar o uso da TV e computador no quarto das crianças. Estabelecer limites na utilização do PC, com horários para entrar e sair, priorizando atividades físicas, obrigações escolares e leitura. Procurar navegar na web e jogar videogame junto com os filhos. Principalmente para menores de 12 anos, utilizar controles com programas de segurança, monitorar a internet, principalmente navegadores e salas de bate-papo e habilitar filtros que impeçam conteúdo inadequado para crianças e jovens.
Se alguém estiver preocupado com censura, os especialistas têm uma resposta pronta. O que é melhor? Ser rígido agora, quando você tem o controle e pode estabelecer limites e disciplina ou, no futuro, recorrer a clínicas para internar seu filho como viciado em internet?