O ex-homem mais rico do Brasil, que construiu a ilusão da fortuna fácil em cima de marketing, papel e fumaça, acabou onde deveria: na prisão. Eike Batista enganou o país pelo menos nos últimos sete ou oito anos, incensado pelos governantes, imprensa e celebridades, de Lula a Dilma, passando por Madonna, Sérgio Cabral e outros políticos, hipnotizados pelo canto de sereia do empresário. Ludibriou milhares de acionistas, que injetaram economias do trabalho para capitalizar as chamadas empresas “x”. Projetos megalômanos, pouco transparentes, sem lastro econômico, gerencial e estratégico.
Ele não foi pego porque enganou investidores; nem por empréstimos bilionários obtidos em bancos públicos ou privados, muitos ainda não pagos. Ele foi em cana, porque pagou propina milionária para o ex-governador Sergio Cabral, que o empanturrou de obras no Rio de Janeiro; e, pelos milhões desviados, acabou enredado nas malhas da Lava Jato. Não fosse isso, talvez Eike continuasse viajando de classe executiva para o exterior, gastando o que restou dos milhões arrecadados em ações lançadas na Bolsa, de projetos empresariais que não passavam de castelos de areia.
O império X de Eike começou a desandar em 2013, quando o mercado também começou a ver que o projeto de Brasil quinta economia do mundo, de Lula, Dilma e cia. estava naufragando. Eike é o modelo de luxo dos chamados campeões nacionais, incensado pela Corte e com todos os cofres disponíveis para custear projetos conectados a dutos de corrupção. Eike, guardadas as devidas proporções, é o nosso Madoff, que enganou milhões e forjou um império com recursos privados. O brasileiro foi mais esperto. Descobriu um meio fácil via empréstimos oficiais, subsídios e favores, além do dinheiro dos acionistas, enganados pelo marketing do empresário que aparecia, em 2011, na lista dos mais ricos da revista Forbes.
Seria muito bom que Eike Batista explicasse na prisão não apenas as propinas pagas a Sergio Cabral, o insaciável campeão de desvios da Lava Jato, mas também para onde foi o dinheiro dos acionistas, dos bancos e dos credores que estão fazendo fila para contabilizar os “prejuízos” que o império de araque produziu.
A crise de Cabral e de Eike deveria servir de lição para governantes populistas e empresários-celebridades que usam a máquina pública sem qualquer cerimônia para satisfazer o vício da fortuna fácil e para manter uma rede de cumplicidade. Sergio Cabral há muito já deveria estar no limbo e no lixo da história. Foi enxotado do governo pela população, no segundo mandato, quando não conseguiu mais esconder a própria incompetência. Enganou alguns anos, embalado no colo de Lula, com Copa, Olimpíadas, UPPs, UPAs e teleférico, enquanto montava, junto com a família e assessores, um dos maiores esquemas de corrupção do país, desviando dinheiro para paraísos fiscais. O resultado todos conhecem: o Rio de Janeiro literalmente quebrado e com um dos maiores índices de violência entre as grandes cidades do mundo.
Impressiona descobrir o grau de desfaçatez e a certeza da impunidade de Sergio Cabral. A PF revelou que em meados de 2015, portanto, mais de um ano depois do início da Lava Jato, Cabral continuava, com a maior cara de pau, a desviar milhões recebidos como propina, engordando contas no exterior e custeando o luxo da família. Ele não se assustou com os ventos de Curitiba. A exemplo de tantos outros, ainda soltos, confiava na impunidade ou na popularidade.
Agora, ele e Eike poderiam comprar um violão e fazer uma dupla caipira no complexo prisional de Bangu, enquanto a Polícia Federal tenta desvendar e contar os milhões desviados dos cofres públicos; e o MP se mobiliza para repatriá-los. Um e outro se merecem. Mas não podemos esquecer. Há poucos anos estavam nas principais tribunas de honra, camarotes e lugares nobres dos “palácios” nacionais, cortando fitas, pulando na comemoração das Olimpíadas, ou em restaurantes de Paris, tomando champanhe francês.
Como eles, outros tantos continuam andando por aí, enganando e enchendo os bolsos, enquanto 13 milhões de brasileiros perderam não apenas o emprego, mas a esperança de ter um futuro melhor. Principalmente, porque vivem num país onde políticos e empresários não têm vergonha de arrombar os cofres públicos para custear o próprio luxo, garantir cartéis de obras públicas e sustentar o esquema político que os mantém. Tudo o que essas duas figuras patéticas representam.
Cabral e Eike retratam de forma emblemática um dos lados mais perversos da elite deste país. Para poucos, os cofres públicos. Para a maioria da população, pessoas honestas, que trabalham, enfrentam horas e horas de transporte, o país se nega a dar uma vida, se não confortável, pelo menos digna. Conforta-nos menos ver Cabral e Eike atrás das grades do que saber que a política e o mundo dos negócios no Brasil continuam a gestar outros tantos cabrais e eikes cometendo, neste momento, com a maior cara de pau, os mesmos crimes dos quais os dois são acusados.
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