Aylê-Salassié F. Quintão*
Jovens brasileiros mais bem preparados para o trabalho estão começando a deixar o Brasil. Os números vem se agravando de 2014 para cá. No ano passado foram 38 mil vistos para o Japão, 10 mil para o Canadá, 6.000 para a Suécia, 2.500 para os Estados Unidos, próximo de 1.000 para a Inglaterra. Só no Canadá já existem 50 mil brasileiros. Nos Estados Unidos perto de 1,4 milhão. São arquitetos, economistas, engenheiros, físicos, matemáticos e até mão de obra especializada na área industrial que desejam livrar-se do stress do cenário negativo que tomou conta do País. Querem poder alimentar novas esperanças. A motivação não vem, portanto, só do desemprego, que alcançou 14 milhões de trabalhadores.
Indivíduos ressentidos** alimentam a instabilidade ambiental, agravada pela mídia que dá espaço, por meio de grandes títulos e fotos, a pessoas que ocupam prédios públicos ou interrompem atividades produtivas para protestar contra a limitação dos gastos do Estado (PEC 241 ), contra as reformas básicas da educação e os ajustes na economia. Esses pequenos grupos são os mesmos que, contrariando os ritos constitucionais, insistem no argumento do golpismo. No meio deles surge, no Paraná, membros do MST contestando a invasão policial de uma escola de formação de militantes, que paralelamente acolhe marginais e oportunistas, sem qualquer vínculo com a terra.
Assusta também ver juízes flexibilizando penas a criminosos e policiais, sem escrúpulo, abandonando a segurança da população, para alcançar equiparação salarial e privilégios com outras categorias. A violência chegou às salas de aula, como o assassinato do professor Kássio Vinicius Castro Gomes, esfaqueado por aluno em Belo Horizonte. A mídia banaliza tudo, empunhando bandeiras de tratamento justo para os assassinos. Para confundir ainda mais, Tribunais Regionais do Trabalho liberaram R$ 23,7 milhões em pagamentos a juízes por férias não gozadas. Não se fala em produtividade. Greve, sabotagem, defesa de direitos corporativos ou ação política potencializada por terceiros? Ninguém pergunta o que ele pode fazer pelo o País, mas insiste, de várias maneiras, em saber o que o País vai fazer por ele.
Enquanto isso os milhares de formados que saem das universidades - alguns talentos reconhecidos - estão sem trabalho, vivendo como párias. Parte dessa massa crítica, que custou caro aos cofres da Nação, começa a optar por deixar o País, revivendo os velhos tempos da perseguição política. Perderam-se “cérebros”. Perdem-se hoje os “inovadores”. Dessa forma, enquanto um grupo de estudantes ocupa os prédios escolares, interrompendo atividades, e o aprendizado, o MST treina milícias e a Nasa, nos EUA, no extremo oposto, mostra um grupo de jovens pesquisadores manuseando da Terra, pelo satélite, um veículo de controle remoto pelo território de Marte.
O quadro é ruim, mas, para alguns grupos, se puder piorar, melhor. Inconsequentes gostam de brincar com fogo: “Se prenderem o Lula, faremos um suicídio coletivo”. Parecem explicitamente coniventes com a falta de ética e com a corrupção. A imprensa estrangeira paradoxalmente ajuda a confundir a opinião pública internacional, valorizando esses eventos e fatos caóticos. Desinteressa-se pelas expressões manifestas da sociedade brasileira democraticamente pelo impeachment, pelos resultados das eleições municipais e pela maioria no Congresso.
A história da humanidade é a “história da estupidez”, diz Stephen Hawking, do Centro Leverhulme para o Futuro da Inteligência, nos Estados Unidos. Com o Brasil à beira da falência, a sociedade é obrigada a conviver com essas “trupes” doentias, caóticas e marginais, no fundo anti-desenvolvimentistas. Ignora-se a crítica e desconhece-se a autocrítica. Constata-se que “Há uma lógica perversa atrás dessa escalada”, segundo o professor Igor Pantuzza Wildmann. Ela atravessa os continentes como denúncia, buscando abrigo em segmentos estranhos para dar consistência ao caos interno, sem agregar nenhuma solução para a crise vivida pelo País, nem contribuir para o crescimento dos sujeitos ou o enriquecimento da cidadania. Ao contrário, procura projetar para fora a insegurança vivida aqui, contribuindo para deteriorar ainda mais a imagem do País, e ajudando a postergar a motivação do capitais geradores de empregos, levando-os a se transferir para outras regiões.
Salve o embaixador Sérgio Amaral, ex-porta-voz da Presidência da República, com uma vida profissional pregressa praticamente impecável, que pretende editar, em Washingon, uma cartilha para explicar aos estrangeiros o que está acontecendo no Brasil. Pouco se pode esperar das empresas de marketing, dos políticos e de um grupo de organizações sociais que alimentam viéses ideológicos sem qualquer conexão com a realidade brasileira. Parece até que torcem pela não recuperação das empresas, dos empregos e a reversão do PIB negativo.
Amaral, também ex-ministro da Indústria e do Comércio está certo. Não sei se o nome seria uma “cartilha”, mas o País precisa mesmo explicar, sem a necessidade de mentir, o que está acontecendo por aqui, e não deixar que outros o façam à sua maneira. É preciso proteger esses milhares de jovens talentos e trabalhadores formados anualmente nas universidades brasileiras, para impedir que, sem eles, emburreçamos ainda mais, fiquemos afônicos e isolados. Por causa de cenários como esse, que mantém uma constância histórica própria, não somos reconhecidos sequer como liderança na América do Sul. Façam alguma coisa!
** (Kehl, 2014)
*Jornalista, professor e doutor em História.