Não bastassem as revelações dos desvios bilionários feitos na Petrobras por quatro diretores que estão presos; não bastassem compras de ativos podres, como a usina de Pasadena no México; não bastassem gastos bilionários em projetos megalômanos, que não se viabilizaram com a crise ética e financeira da empresa, como o da empresa Sete Brasil e outras, quanto mais se abre a caixa preta da Petrobras, mais nos surpreendemos com a incompetência, a leniência e a falta de compromisso das gestões que comandaram a empresa entre 2003 e 2014.
A política de terra arrasada implantada na empresa a partir de 2003 conseguiu destruir um patrimônio nacional. Hoje, a Petrobras luta para sobreviver, com dívidas de quase R$ 500 bilhões e ativos inferiores a R$ 50 bilhões. A empresa está vendendo ativos para fazer caixa, abrindo demissão voluntária para empregados (já reduziu o quadro em 170 mil servidores, desde 2015) e negocia com fornecedores. Suspende projetos inviáveis e enfrenta uma saraivada de ações na Justiça. Um dia essa história completa será contada. Enquanto isso, a cada dia os brasileiros se surpreendem com a capacidade criativa do governo do PT em descobrir brechas por onde a empresa era sugada ou mal administrada.
O jornal Valor Econômico publico a seguinte reportagem em 06/04/16:
Petrobras superestimou em US$ 45 bi o retorno de 59 grande projetos
“A diretoria-executiva da Petrobras sabia, já em 2014, que a rentabilidade dos seus 59 maiores projetos em andamento seria reduzida em US$ 45 bilhões frente ao esperado. A informação consta de relatórios sigilosos aos quais o Valor teve acesso, encaminhados aos conselhos de administração e fiscal da estatal na semana passada, na forma de denúncia anônima de funcionários.
“Os projetos foram aprovados com previsão de retorno de US$ 109 bilhões, mas tiveram mais de 40% do ganho estimado reduzido por conta de variações negativas em relação às premissas usadas para prazo, produção, custo operacional e investimento.
“Essa perda de rentabilidade não tem relação com a oscilação do preço do petróleo. Diz respeito à eficiência de planejamento e execução, porque considera apenas fatores "gerenciáveis" - o preço do petróleo é um fator "não gerenciável" pela empresa. A fotografia de 2014 - antes da queda no preço do barril - ajustava para US$ 64 bilhões o retorno esperado para a carteira analisada.
Do total de redução da rentabilidade verificada em 2014, US$ 34 bilhões (75%) ocorreram nos projetos de exploração e produção, o coração da companhia.
“A medida usada para a análise da rentabilidade de um projeto - antes e depois de executado - é o seu valor presente líquido (VPL). Trata-se de um cálculo estimado sobre a expectativa de retorno total que um investimento terá ao longo de sua vida útil, ajustado pelo custo de capital da companhia. Ele indica se o projeto tem capacidade de adicionar valor aos acionistas da Petrobras - ou reduzir, quando o número final é negativo.
“A conclusão sobre a perda de rentabilidade - redução do VPL - não é fruto de um estudo pontual realizado em 2014. Consta de relatórios que são semestralmente produzidos pela diretoria-executiva e gerências da Petrobras, mas que não chegavam até o conselho de administração. Daí o caráter de "denúncia", mesmo para documentos cotidianos do corpo executivo."
Veja a integra da reportagem do Valor:
Petrobras superestimou em US$ 45 bi o retorno de 59 grandes projetos
Petrobras sabia que projetos dariam prejuízos
O Valor Econômico de hoje (7/4/16) revela que “A Petrobras aprovou investimentos de US$ 26 bilhões em uma refinaria e dois polos petroquímicos mesmo sabendo que jamais dariam retorno. É o que comprovam relatórios sigilosos da estatal obtidos com exclusividade pelo Valor.
“Quando foram feitos os primeiros estudos de viabilidade para o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), a Refinaria Abreu Lima (Rnest) e a Petroquímica de Suape, as avaliações da Petrobras demonstravam que todas as obras teriam valor negativo – os resultados futuros não remunerariam os bilhões investidos. (...)
“O efeito final dessas obras foi ainda mais devastador para a Petrobras pois os investimentos no Comperj e na Rnest superaram em muito o planejado. Ao fim de 2014, o total gasto nos tries empreendimentos passava de US$ 46 bilhões.
"A soma do valor negativo desses projetos era de US$ 3,4 bilhões na primeira avaliação. Se fossem listados em bolsa de valores como empresas, valeriam "zero" e ainda estariam endividadas. Comperj e Rnest foram inseridas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), concebido em 2007 como uma das principais vitrines políticas do governo federal.
“Comperj e Rnest foram inseridas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), concebido em 2007 como uma das principais vitrines políticas do governo federal. O Brasil não construía refinarias há cerca de 30 anos, desde a década de 80. As obras foram realizadas justamente no período em que a Petrobras manteve os preços dos combustíveis defasados frente ao mercado internacional, de 2010 a 2014 - motivada pela tentativa de controle da inflação pelo governo.
“O investimento nas refinarias teve caráter de política industrial e foi pessoalmente defendido pelos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. O efeito final dessas obras foi ainda mais devastador para a Petrobras pois os investimentos no Comperj e na Rnest superaram em muito o planejado.
“Ao fim de 2014, o total gasto nos três empreendimentos passava de US$ 46 bilhões. A obra de Abreu e Lima teve a primeira fase concluída e a refinaria está em atividade. A segunda etapa foi paralisada e a Petrobras lançou uma baixa contábil em seu balanço. Já o Comperj nem foi terminado, nem está em operação. O projeto agora depende de um sócio para ser finalizado. A Petrobras avalia os projetos com base no valor presente líquido (VPL) - a soma dos lucros futuros descontada pela taxa do custo de capital."
Leia a íntegra da reportagem do Valor Econômico.
Petrobras sabia que projetos no NE e Comperj dariam prejuízos
Em 2014, a imprensa já sabia que projeto da usina Abreu Lima nasceu inviável
Essa história de projetos inviáveis, sob o beneplácito da diretoria não é nova. Em 23/06/14, quando Graça Foster ainda estava na empresa, o jornal O Globo publicou reportagem sobre o tema. A Petrobras na ocasião apressou-se em responder em nota oficial.
“Abreu e Lima: Petrobras já sabia que projeto era inviável em 2009”.
Diretoria recebeu avaliação técnica há cinco anos que apontava falta de ‘atratividade econômica’ da refinaria.
Dizia a reportagem:
“Desde 2009, a Petrobras sabia que o projeto da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, era economicamente inviável. A diretoria executiva da empresa recebeu um claro alerta, por escrito, na segunda quinzena de novembro daquele ano: “Sob a ótica empresarial, sem considerar as análises complementares, o projeto não apresenta atratividade econômica”, informaram os técnicos da estatal encarregados das análises de estratégia, desempenho empresarial, planejamento financeiro e de risco.
"Conforme essa avaliação, a Petrobras não perderia dinheiro, mas também não lucraria, caso limitasse o investimento em Abreu e Lima em US$ 10,4 bilhões. Naquele ano, porém, a previsão de gastos com obras e equipamentos já estava em US$ 13,4 bilhões.
“Na rotina de procedimentos da Petrobras, esse aviso técnico representaria obstáculo para a diretoria executiva avançar no empreendimento, mas as regras da “Sistemática de Aprovação de Projetos” da estatal vinham sendo contornadas desde 2007, quando foram realizadas contratações por convite sem um projeto básico aprovado.”
Veja na íntegra da matéria de O Globo: Abreu e Lima: “Petrobras já sabia que projeto era inviável em 2009”.